terça-feira, 7 de setembro de 2010

O melhor sonho. Capítulo 2. parte 9


Nenhuma palavra foi dita até que entramos no elevador de um prédio no centro da cidade. Meus pensamentos ainda estavam presos em tudo o que havia acontecido nesse fim de semana e nas palavras do Kurt. Sinceramente, eu nem me lembrava mais da existência da Mellanie.
Quando nós dois estávamos no oitavo andar do prédio, aonde o Luc trabalharia a partir daquele dia, eu o parei.

- Luc. - o chamei com a voz chorosa.
- Fala, pequena.
- Eu sou uma idiota não sou ?
- Não você não é. - ele falou sincero.
- Por que eu sempre amo alguém que me faz sofrer ? - indaguei.
- Quem ouve assim pensa que você já amou muita gente. - ele falou sério e depois riu, fazendo com que eu soltasse uma risada fraca.
- Você é um idiota, garoto.
- Pode até ser, mas o idiota aqui conseguiu fazer você sorrir.

Ele passou suas mãos pela me cintura e aproximou nossos corpos, apoiando minha cabeça na curva de seu pescoço. Fiquei ali por longos segundos, apenas me intoxicando com o cheiro da pessoa que eu mais amava no mundo. E nesse momento eu desejei que pudesse ficar ali para sempre. Sem nada para me perturbar, nem nada para me machucar.

- Não se escolhe quem a gente ama, pequena. Não se culpe por isso. - ele sussurrou.
- Eu não vou. - murmurei - Te amo, tá ?
- Tá.
- Ok, Luc. Eu estava esperando, pelo menos, um eu também. - me afastei um pouco dele.
- Ah, que graça tem ficar repetindo o quê você já sabe ? - ele pediu risonho e logo depois se afastou de novo.
- AE, AE. DESCULPA INTERROMPER O MOMENTO FRATERNAL DE VOCÊS DOIS, MAS EU QUERO MATAR A SAUDADE DA ALMEIDA TAMBÉM. - alguém berrou, abrindo a porta que estava em nossa frente.
- Zach ? - perguntei surpresa - O quê você tá fazendo aqui, garoto ?
- Nossa, Bia. Eu também estava com saudade e estou maravilhosamente bem e você ? - ele falou irônico.
- Relaxa, Zach. Ela fez a mesma coisa comigo. - meu irmão respondeu e foi entrando.

Agora imagine o quanto eu fiquei surpresa ao encontrar o melhor amigo do meu irmão (e também o mais gato, devo admitir), me esperando com os braços abertos e com aquele sorriso de matar qualquer uma.
Zach Rosen, era o resultado da união entre uma inglesa e um alemão, e era gato. Muito gato. Do tipo com ombros largos, cabelo escuro, olhos claros – deus grego. E ele era um fofo também, mas assim como meu irmão, fazia o estilo 'sou gatinho e cafajeste'. Qualquer garota se derretia por ele e, não vou negar, durante um bom tempo eu fui uma delas. Zach sempre que podia mandava umas indiretas para mim, mas eu sabia que era brincadeira. Eu nunca seria nada mais do que a irmã de seu melhor amigo. Não que eu queira ser algo mais, afinal tem o Kurt agora.
Mesmo que ele seja um idiota e me faça chorar sempre que tem oportunidade.

- Como você cresceu, mini-Almeida. - ele falou me analisando dos pés a cabeça - Sua irmã tá gatinha, Luc.
- Cala a boca, Rosen. - falei e me joguei no sofá da sala dele.
- Tira o olho da minha irmã, babaca. Ao que parece, o coração dela já tem dono.
- Ah, ele sim é um babaca. - eu confirmei, fechando os olhos.
- Se você quiser eu te faço esquecê-lo em um piscar de olhos. - ele falou olhando em minha direção - Ou melhor, num encostar de bocas.

Preciso dizer que eu corei ? O Zach por natureza já é irresistível, vestindo uma blusa social branca, uma grava preta frouxa e uma calça escura, então...

- Não viemos aqui falar da minha vida amorosa, Rosen. - falei ainda corada - Eu nem sei para que estamos aqui, mas beleza.
- Você veio convencer meu novo emprego, gordinha. - meu irmão falou, enquanto eu andava pela imensa sala com paredes de vidro.
- Gordinha mané gordinha, Luc. Já te falei que eu sou gostosa, linda e absoluta.
- Isso, Luc. A Bia agora é gostosa, linda e absoluta. - Zach falou, me lançando um olhar malicioso.
- Tanto faz. - meu irmão deu de ombros - Vamos, pequena. Eu quero te mostrar cada detalhe desse lugar e a minha sala.
- Aw, você vai ter uma sala só para você ? - ele balançou a cabeça afirmando - Que lindo, cara. Meu irmãzinho está virando gente chique.
- Como se eu já não fosse. - ele revidou, dando aquele sorrisinho de canto.
- Tu não é nem um pouco humilde, né ?
- Não e é por isso que fazemos uma dupla perfeita, você também não é.
- Calúnia. - me fiz indignada.

Ver a felicidade do Luc também me deixava feliz, embora eu não tivesse muitos motivos para sorrir ultimamente. Ele me mostrou todas as salas daquele andar com um sorriso gigante no rosto, dava pra notar a distância o quanto ele estava animado. Os dois estavam abrindo uma filial da Island Records, que era da família Rosen. O pai de Zach era um renomado produtor de música na Inglaterra e esperava que o filho seguisse o mesmo caminho. Sua família era rica, bem rica. Se duvidar mais do que a minha, o Zach sempre teve uma enorme paixão pela música, adorava cantar e tocar quando era menor, agora ele prefere encontrar novos talentos para o pai produzir.
Era a primeira vez que eu o via animado para valer com alguma coisa. Graças ao pai, ele já tinha tudo pronto ali. Todos os empregados altamente capacitados, todos os instrumentos, dois estúdios e uma longa lista de bandas iniciantes.
Infelizmente, ele só estava ali de passagem dessa vez. Iria passar um mês na Alemanha, visitando seus avôs e depois ficaria na Inglaterra até o começo do ano que vem.

- Zaaaach. - eu o chamei dengosamente.
- Sim ?
- Eu estou com fome. - falei fazendo uma cara sapeca.
- E ?
- Pede para alguém comprar uma comida para gente, eu falei que ia levar a Bia para almoçar mas nem deu tempo. - meu irmão respondeu em meu lugar - Faz esse favor para mim, cara.
- Eu quero comida japonesa do Szechuan Palace, tá ? - falei e ele revirou os olhos, sorrindo logo em seguida.
- Como eu pude me esquecer do quanto você é mandona e fresca ? Me diz ! - ele falou fazendo drama e saindo logo em seguida.

Segui junto ao Luc para a última sala do andar. A parede do canto esquerdo e da frente da sala também era de vidro, assim como na sala do Zach. As outras duas paredes eram azuis, cor preferida do Luc, os móveis pretos e o piso branco. Quase ao centro da sala se encontrava duas cadeiras pretas, no canto esquerdo um sofá pequeno também preto e no outro lado da sala uma televisão de LCD com um pouco mais de 50 polegadas estava presa à parede. Perto das cadeiras ao centro, se encontrava uma mesa também preta. Em cima dela estava um computador branco da Apple, uma luminária azul e alguns blocos de papel.
Logo ao lado do computador havia um porta retrato digital com fotos nossas e logo em baixo, gravado na mesa a frase “She makes my life worthwhile”.

- Você é o melhor irmão do mundo sabia ?
- Sabia. – ele veio em minha direção e abriu os braços – E apesar de parecer o contrário, você é a melhor irmã mais nova que alguém poderia ter.

Abraçar o Luc era bom, eu me sentia mais do que protegida e amada, era como seu pertencesse ali, pertencesse a ele. O Luc é o melhor irmão e melhor amigo que alguém pode ter, ele sabe as coisas certas a dizer, te faz sentir melhor te faz sentir querida.
Nós praticamente lemos a mente um do outro, sabemos o que o outro está sentindo pelo olhar e às vezes isso é ruim.

- Você já se decidiu. – ele falou e não foi uma pergunta.
- Sim.
- Você é tão teimosa.
- Eu acho que vai ser melhor deixar as coisas como elas estão, você ouviu o que ele disse, Luc.
- Sim, eu ouvi. Mas eu continuo achando que ele falou aquilo só porque estava com ciúmes.
- E eu continuo achando que ele falou aquilo porque é verdade. – retruquei rispidamente, fazendo com que ele revirasse os olhos.
- Quando você descobrir que eu tenho razão, eu vou estar lá só para dizer ‘eu avisei’.
- Por que você não pode ser um irmão ciumento como qualquer outro e me obrigar a ficar longe de meninos ?
- Tenho culpa se a vontade de te ver feliz vence o meu egoísmo de te ter só para mim ?

Eu não mereço o meu irmão, sério.
Nós ficamos conversando durante um tempo sobre esse assunto, até que o Zach voltou com nossas comidas. O dia passou rápido, fui forçada pelos dois a cantar em um dos estúdios e até rolou a ideia de fazer um concurso de novos talentos no meu colégio para que eles pudessem conhecer as bandas locais. Desse jeito o dia passou voando e nós perdemos a hora.

- Luc, meu amor. São quase uma hora da manhã, eu acordo às seis para ir pro colégio. – falei assustada.
- Nossa, isso tudo ? – ele arregalou os olhos – Mas veja pelo lado bom, maninha. Você pelo menos já está com uniforme. – e por um momento eu me perdi observando o Zach gargalhar.
- Lado bom nada, só se for um lado porco, né ? E além do mais, eu tenho outro uniforme, ok maninho ? – ele fez um sinal de positivo e segurou o riso – Foi bom te ver Zach, manda um beijo pros seus pais.
- Pode deixar, eles vão adorar saber de você. Sabe que a minha mãe ainda insiste em te ter como nora ?
- Sério ? – perguntei surpresa. Nossas mães diziam que nós iríamos crescer e nos apaixonar, ele nunca levou isso a sério. Já eu, acreditei nisso até os meus 12/13 anos.
- Seríssimo, ela e o meu pai brincam com isso até hoje.
- Mantenha-os longe da mamãe então. - Luc falou brincando.
- Ao que parece não foi só a minha que parou no passado. - Zach disse fazendo com nós rissemos.

Nós fomos embora e demos uma carona para o Rosen até o hotel em que ele estava hospedado, Hotel Hilton é claro. Como se ele fosse ficar em qualquer outro hotel menos famoso.
Quando nós chegamos em casa, a primeira coisa que eu fiz foi tomar banho. Eu estava nojenta, com a mesma roupa desde seis horas da manhã, sem nem um mísero banho. Depois disso eu fui ver as meninas que dormiam como anjos e, sim, até a atacadinha da Mari.

- Bia, acorda. Bia, minha fofinha linda a gente tem aula. acorda. - pude ouvir a Paula sussurrar em meu ouvido e logo em seguida me sacodir.
- Hum... Me deixa dormir. - murmurei.
- Uh uh, pode acordar mocinha. Eu não vou deixar você faltar aula a toa !
- Ok, mamãe. - falei me levantando.

O caminho até o colégio foi bem agitado dessa vez e para a minha grande sorte, as meninas resolveram ir a pé. Legal, hum ?
Elas tentaram entrar no assunto do Kurt e de tudo o quê ele havia falado antes, mas eu ignorei esse assunto e logo comecei a falar para elas sobre o deus grego de toda minha vida, o dono dos olhos mais cativantes, que quase me faz perder o chão (veja bem, eu disse quase) e que também é conhecido como Zach Rosen.

- Thiago, que saudade de você. - falei o abraçando.
- Menos, gatinha. A gente se viu ontem. - ele falou zoando com a minha cara.
- Você sabe que me ama.
- BIA ALMEIDA.
- JOEY HARCOURT.
- Que saudade de você, menina. Primeiro você some, depois você quase não fala comigo e depois você some de novo. Parece que nem gosta mais de mim. - ele falou, fazendo drama.
- Liga não, amor. - Flora falou dando um selinho no namorado - Ela está assim com todo mundo desde que o Luc chegou.
- Que mentira !
- Ah, também dá um desconto né gente ? A fofinha não vê o irmão a sei-lá-quanto-tempo, deixe-a recuperar o tempo perdido.
- Aham, Paula. - Ana Juli começou irônica - Você só está querendo agradar a sua futura cunhada.
- Idiota. - Paula respondeu, com a cara fechada.
- Hey, Paula.
- Fala, fofinha.
- Eu não me importo se você quiser me agradar, pode começar arrumando meu quarto, depois fazendo aquela lasanha que só você sabe fazer, aí você pode lavar o meu carrinho querido, fazer meus exercícios e ...
- Você quer que eu te agrade ou vire sua escrava, Bia ? - Paula falou seriamente, fazendo com que todos rissem. Até o Kurt que estava passando despercebido por mim até agora. Droga, ele parecia estar mal.

Mas eu não vou deixar isso me abalar. Ele fez a merda, ele que conserte. Sem contar que ele piorou mais ainda as coisas depois de dar aquele showzinho com o meu irmão. Mas não vamos lembrar disso.
Hoje eu tinha as minhas aulas preferidas: literatura inglesa, sociologia e história. Eu sei que você está se perguntando como alguém pode gostar tanto dessas matérias que são, na maioria das vezes tediosas, mas... Não tente entender, você não irá conseguir.

- Paula. - nós estávamos no refeitório quando Kurt chamou a Paula, atraindo a minha atenção também - Seu peguete está vindo em sua direção.
- Meu peguete ? Ahn ? O Luc tá aqui ?
- EU SABIA ! - eu berrei - Até que fim você assumiu que está a fim do meu irmão, coisa linda.
- Eu nunca tinha negado. - ela deu de ombros.
- Enfim. - Kurt falou um pouco mais alto - Eu estava falando do Arthur, na verdade.
-
Arthur ? Faça-me o favor né, Kurt. Ele é tão século passado. Só foi um dia. Na verdade uma noite. - ela parou para pensar - Ok, alguns beijos e ele nem vale a fama que tem, se é que vocês me entendem.
- Qual foi a piada ? -
Arthur perguntou ao chegar na nossa mesa e nos ver rindo.
- Você não vai querer ouvir, dude - Joey falou.
- Tenta. - ele falou simplesmente, mas para a sorte da Flora o sinal bateu - Ai, que saco. Então eu vou dar uma festa amanhã, espero vocês lá. Você pode levar seu novo namorado, Bia.
- Ele não é meu novo namorado,
Arthur. É meu irmão. - falei revirando os olhos.
- Ah... - ele me pareceu feliz com a minha resposta, dei de ombros e fui para sala.

Eram quase oito horas da noite quando a campainha estridente escolhida pela minha querida mãe, tocou. Eu estava na sala, assistindo a uma marotona da primeira temporada de 90210 e obrigando o Luc à assistir comigo.
Abri a porta, enquanto berrava com o Luc e me assutei ao ver quem estava ali parado.

- LUC, SE VOCÊ MUDAR A PORCARIA DO CANAL, VOCÊ VAI VER SÓ. - virei minha atenção para a pessoa parada na porta e bom - Kurt ?
- Er... Oi, Bia. Será que eu posso falar com você ? - ele pediu, bagunçando seu cabelo visivelmente sem graça.
- Er, tá. - fechei a porta.
- Eu nem por onde começar...
- Bom, as pessoas normais começam do começo. - tentei fazer uma gracinha para descontrair o clima.
- Então...
- Então...
- Eu...
- Você...
- Er.
- Será que você poderia ser direto, Kurt ? Eu estou um pouquinho ocupada agora.
- Eu estou aqui tentando conversar com você, mas se você tem coisa mais importante para fazer, tudo bem. Pelo menos eu tentei. - ele falou dando as costas.
- Acho que isso quer dizer que você se arrepende, né ? - falei, fazendo com que ele se virasse de novo.
- Ahn ?
- Você está aqui, parado na minha porta, tentando ajeitar as coisas. Esse é o seu jeito de retirar tudo que você disse antes ?
- Eu não estou te entendendo, Bia. O quê eu disse ?
- Você disse que queria qualquer uma menos eu, disse que não voltaria nem me procuraria mais. Só que você está aqui agora.
- E você tá adorando essa situação não está ? Está adorando ver eu me humilhar e poder jogar tudo na minha cara. Não sei como eu pude acreditar quando o Thiago disse que você estaria disposta a me ouvir e me entender.
- Ao contrário do que você pensa, eu não estou gostando dessa situação. Nem um pouco, mas aquelas coisas que você me disse ainda estão na minha cabeça. Você não tem ideia do quanto doeu ouvir você dizer antes qualquer uma do que eu.
- Eu estava nervoso. Você tinha acabado de terminar comigo e no outro dia aparece um menino te agarrando... Aquilo acabou comigo. Eu fiquei... Eu fiquei com ciúme.
- Não acredito que ele estava certo. - murmurei.
- Quem estava certo ?
- O Luc me falou isso naquele mesmo dia, mas eu não acreditei. Se ele descobrir que tem razão vai me encher pelo resto da vida. - sorri.
- Você vai à festa do
Arthur ?
- Aham. - concordei com um sorriso.
- E ao baile ? - ele perguntou, enquanto coçava a nuca.
- Eu não atrapalhar a sua noite com a Mellanie, Kurt. Eu não vou aparecer lá.
- Na verdade, eu não vou mais com a Mell. Eu só iria com ela, porque ela ameaçou contar a você sobre "a gente" - ele fez aspas com os dedos - Mas como você já sabe, não tem mais nenhum motivo para isso acontecer.
- Ah...
- Eu queria que você fosse. Tem uma coisa que eu quero te mostrar.
- Hum.. O quê ?
- Acho que você só vai descobrir se for. - ele falou e saiu.

Certo. Eu deveria estar curiosa em relação a isso ? Por que eu estava sendo tão legal e tão 'fácil' com ele, depois de tudo que ele disse mesmo ? Ah, claro. Porque eu o amo.
Sabe, tem vezes que eu realmente odeio o amor.
Mas eu acho que vou seguir o conselho da Paula e não pensar em nada relacionado ao Kurt, por enquanto. Amanhã tem festa na casa do
Arthur e eu vou me divertir. Daqui a dois dias será o baile e ali eu decido o que vou fazer com ele.
É, isso mesmo.

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