segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O melhor sonho. Capítulo 2. parte 1

NÃO É A MESMA HISTORIA DO 1
 Bia Almeida, 17 anos, nascida e criada no Brasil. Morou lá durante cinco anos, quando o seus pais foram promovidos. Estudou durante 10 anos em um colégio interno, muitos achariam horrível estudar em um lugar em que você só poderia receber visita aos domingos, ela também. Até o dia em que se viu fora dali. Seus pais se tornaram pessoas extremamente influentes no mercado internacional, diretores de uma das empresas mais importantes do mundo. Sempre mudavam de cidade, carregando Bia consigo. A menina começou o primeiro ano no Canadá, terminou em Madrid. No segundo ano de seu ensino médio, ela estudou em quatro escolas, todas em países diferentes. Estava cansada dessa rotina. Não tinha amigos, mas por escolha própria. Ela sempre se entregou demais as suas amizades e construir algum tipo de relação, seja ela de amizade ou amorosa, estava completamente fora dos planos de Bia.
Quando seus pais falaram que eles iriam para os Estados Unidos, mas precisamente em uma cidade chamada Dallas, no Texas, ela se sentiu feliz. Pela primeira vez, em três anos, ela se sentiu aliviada. Sua prima e melhor amiga, vivia ali. E ela sabia que tendo a única irmã de sua mãe por perto, seria mais fácil convencer os seus pais de não levarem para qualquer que fosse o próximo lugar em que eles precisariam trabalhar.
Bia também tinha um irmão, Luciano. Desde que completou 18 anos, resolveu viver a sua vida sem precisar ficar se mudando com os pais. Da última vezes em que se falaram, Luc (como era chamado carinhosamente pela irmã) estava morando em Montreal.

Era o meu primeiro dia no Early College High School. Mais um primeiro dia em uma nova escola, com novas pessoas, novos grupinhos.
As aulas já haviam começado há quase dois meses, logo todos reparariam na novata aqui. Cheguei um pouco cedo, a pedido de minha prima, Ana Juli Montagner. Eu estava estramente animada, quase não consegui dormir no dia anterior de tanta animação. O uniforme do colégio (saia xadrez preto e vermelho um pouco acima do joelho, blusa estilo baby-look branca com o brasão do colégio do lado esquerdo, meias que iam até um pouco abaixo do joelho e sapatos pretos, de bico fino e salto agulha), havia ficado perfeitamente em mim. Me perdi em pensamentos enquanto observava as pessoas ao meu redor. Não pude deixar de me lembrar dos tempos do colégio interno em Londres, as coisas eram diferentes claro, mas em todos os meus primeiros dias de aula, eu lembrava deles. Dos meus amigos, da minha segunda família que havia ficado lá. No começo, eu amaldiçoava os meus pais por me fazerem mudar tanto, mas depois eu acabei me acostumando. Porém, o que mais me incomoda nessa história toda é a distância entre mim e o meu irmão. Se eu pudesse, obrigaria ele a ficar comigo, é tudo tão mais difícil sem ele aqui. É claro que eu não falo sobre isso com os meus pais, como a minha antiga emprega de Barcelona falou 'o Sr e a Sra Almeida tem problemas demais para lidar com os seus problemas sentimentais, mocinha'.

- Terra chamando Bia.
- An ? - acordei dos meus pensamentos e vi que a Ana estava na minha frente - Desculpa, prima.
- Você estava aí, com a maior cara de brisa. Estava pensando em quê ? No namorado que você deixou em Barcelona foi ? - nós duas rimos.
- Você sabe muito bem que o último namorado que eu tive, está em Londres, pateta.
- Só você. Podendo ter um namorado em cada parte do mundo, se prende a um inglês idiota. - ela falou brincando.
- Ele não é idiota e eu não estou presa à ele. Eu só gosto de começar um relacionamento sabendo que mais cedo ou mais tarde ele vai terminar.
- Deve ser um saco, né ?
- É, um pouco. - ela me olhou com uma cara 'me engana que eu gosto' - Ok, é terrivelmente chato. Sei lá quanto tempo faz que eu não tenho amigas de verdade.
- Mas isso vai mudar. Vou te apresentar pras minhas amigas e... - eu a interrompi.
- Aí eu vou me apegar à elas para uns quatro meses depois eu ter que me mudar novamente. Não, obrigada. - ela olhou pra mim com uma cara de pena e eu não suporto que sintam pena de mim - Mas eu acho que o fato de você morar aqui, vai ser mais fácil de convencer os meus pais a me deixarem ficar. - sorri verdadeiramente ao perceber que ela também sorria.
- Ao que depender de mim, você vai ficar aqui pra vida toda. - gargalhei.
- Também não exagera, Ana Juli. Eu só quero poder terminar o ano letivo em um lugar só e entrar em uma faculdade boa.
- Esse ano vai ser tudo diferente, Bia. Você vai ver. - ela falou de uma forma aconchegante. Era impressionante a forma como ela conseguia me acalmar. Mesmo passando anos longe uma da outra, sempre que a gente se encontrava era como se nós nunca tivéssemos nos separado.
Ficamos conversando sobre assuntos aleatórios e, praticamente, todas aquelas pessoas encaravam a gente. Acho que queriam saber quem era a novata que estava conversando animadamente com uma das meninas mais populares da escola.

- Então você acha que o seu namorado te trai com um HOMEM ? - perguntei, rindo mais um pouco.
- Para de rir, Bia. Isso não tem graça. - ela disse fazendo bico.
- Não tem graça ? Isso é cômico, Ana Juli ! Já pensou se você for trocada por ... Ele ?
- Deus me livre. - ela falou com uma cara assustada - Vira essa boca pra lá, Bia. Vai que a praga pega ?!
- Ai ai. - enxuguei uma lágrima que caia dos meus olhos - Mas você tem certeza disso ?
- Não. É só que... Você tem que ver a forma com que ele acompanha esse garoto. Parece que vai comê-lo com os olhos. - parei um pouco. Olhei pra cara dela, que parecia estar imaginando a mesma coisa que eu.
- EEEEEEEW. - berramos juntas.
- E o que você está pensando em fazer ?
- Eu sinceramente não sei. Ele é um ótimo companheiro, vai pro shopping comigo, me ajuda a escolher as roupas pra usar, me trata super bem. Adora ver aqueles filmes de adolescente comigo, não briga quando eu falo sobre quanto o Chace Crawford é gostoso. Ele se arruma super bem, sempre combinando. - ela suspirou.
- Nossa, isso é tão... Gay. - ri de novo - Mas você o ama ?
- Amo, mas não da mesma forma de antes.
- Você está desconfiando dele, Ana. Por que não termina logo ? - era simples. Não era ?
- Nós estamos juntos à quase dois anos. É difícil terminar. Eu sinto um carinho enorme por ele.
- Você conhece a minha experiência em relacionamentos amorosos. - dei de ombros.
- Claro, um inglês sem graça que você namorou por quase três anos. - o sinal bateu.
- Qual aula você tem agora ?
- Química. - revirei os olhos - Você ?
- Eu também. Vamos logo.

Então a Ana saiu correndo e me carregando junto. Não tive tempo nem pra reparar nos armários no colégio. Quando estávamos virando em um corredor qualquer, ela esbarrou em alguém.

- Olha a pressa, Montagner. - o menino falou.
- Foi mal, Carter. - só consegui ver que o menino estava com mais três garotos, já que a minha querida prima esqueceu a educação em casa.

Cheguei na sala e a professora fez com que eu me apresentasse para a turma. Assim o fiz, depois de umas dez escolas mais ou menos, você se torna craque nisso.

- Cadê suas amigas ? - sussurrei, enquanto a professora explicava alguma coisa.
- Elas estão na aula de Matemática. No intervalo eu apresento vocês. - ela respondeu no mesmo tom que o meu.
- Ok. Qual é a sua próxima aula ?
- Educação física. - fiz uma careta ao olhar no papelzinho e constatar que não era a mesma.
- Biologia.

Cheguei na aula de biologia atrasada. O professor pediu que eu me sentasse ao lado da única menina que não tinha dupla. Ao que parecia, ninguém gostava dela ali.

- Oii. - sussurrei animada.
- Oi. - ela foi seca.
- Eu me chamo Bia. - estiquei a mão.
- Paula. - ela falou escrevendo, deixando a minha mão abanando o ar.
- Bonito nome. Estuda aqui desde quando ?
- Você vai realmente continuar falando comigo ? - ela finalmente virou o rosto pra mim, percebi o quanto ela era bonita. Seus olhos azuis faziam um contraste perfeito com seus cabelos pretos, de corte médio.
- Se você não quiser falar comigo tudo bem. Eu li em algum lugar que é normal os novatos não serem bem tratados por aqui...
- Não é isso.
- Então o que é ? - continuamos a conversa em sussurros.
- Você não vai querer estragar a sua reputação conversando comigo.
- Que reputação, Paula ? - ela estranhou ao me ver chamá-la desse jeito. Sim eu pego intimidade fácil. - Eu cheguei aqui hoje.
- Chegou hoje, mas já estava super íntima de uma das meninas mais populares da escola. Não dou uma semana pra você virar popular também.
- A Ana Juli é minha prima e eu não ligo para popularidade.
- Tanto faz. - ela deu de ombros.
- Mas por que você disse que a minha reputação estragaria se eu andasse com você ?
- Eu não falei isso. - ela voltou os seus olhos para o quadro.
- Falou sim.
- Não falei.
- Você é estranha, mas eu sei o que eu ouvi.
- Ok, eu falei.
- Então... - ela parecia um pouco constrangida.
- Acho que você já percebeu que essa escola é cheia de gente rica. - é eu tinha percebido e bem... Eu era uma delas.
- E...
- Ninguém gosta de mim porque eu sou bolsista. - fiquei olhando para ela - Agora é hora que você sai de perto de mim.
- Eu não esse tipo de pessoa, Paula. O que importa é o que a pessoa é e não o que ela tem. - falei séria. Eu realmente nunca me importei com isso, o caráter vem sempre antes que o dinheiro. Pelo menos pra mim.
- Mas assim que começarem a falar da nossa "amizade" - ela fez aspas com as mãos - você vai se afastar de mim. Acredite eu sei o que estou dizendo.
- Você não me conhece para saber se eu me importo com o que as pessoas dizem. - ela ficou calada e então nós voltamos nossa atenção para a aula.


- As amiguinhas populares da sua prima não vão gostar de te ver comigo. - nós duas estávamos indo em direção ao refeitório. Eu já podia considerar a Paula uma amiga. Depois da aula de biologia, nós tivemos um horário livre então descobrimos tudo uma da outra. Ela não deve ter amigas, já que até seus segredos me contou. Contei os meus também, mas não por obrigação de retribuir, eu senti que podia confiar nela. A Paula é humilde e eu vejo sinceridade em seus olhos. Ela veio de Maryland, tem dois irmãos e perdeu sua mãe quando tinha 14.
- Eu prefiro ter uma amiga com caráter do que ter várias com dinheiro. - dei de ombros e ela riu.
- Você é muito diferente das outras pessoas daqui, Almeida. Mas é sério, eu não posso ir.
- Por que ?
- Eu tenho que fazer um trabalho na biblioteca, depois a gente se encontra. Tchau. - ela saiu correndo.
- Tchau. - falei para o vento. Me virei e entrei no refeitório, todos que estavam ali se viraram para mim. Senti meu rosto arder, provavelmente eu estaria mais vermelha do que um tomate, e encontrei a Ana em uma mesa com mais duas meninas. Umas três mesas antes da das meninas, estavam quatro meninos, senti os olhos deles em mim. Passei normalmente sorrindo para a minha prima. Um dos três me chamou atenção, ele era charmoso, bonito e dono de um sorriso que pirava qualquer uma.

- Hey. - cheguei sorridente a mesa.
- Hey, Bia. - ela me deu um beijinho da bochecha - Gente essa é a minha prima Bia. Bia, essas são a Flora e a Veh.
- Prazer, Bia. A Ana falou muito de você. - a Flora levantou e me abraçou, fiquei surpresa, mas retribui ao abraço.
- Espero que bem. - as duas riram. A tal da Veh olhou pra mim de um jeito superior e não um oi me deu. Não gostei dela.
- Como foi sua aula ? - a Ana perguntou, sempre atenciosa.
- Ah, foi legal. Biologia não é uma das minhas matérias preferidas, mas depois eu tive um horário livre... - dei de ombros
- Fez alguma amizade ? - minha prima me perguntou sorridente.
- Conheci uma menina chamada Paula. A gente tem umas quatro aulas juntas, ela é legal.
- Paula Smith ? - a Veh falou pela primeira vez.
- É. Acho que é esse o sobrenome dela sim.
- Ela é bonita e parece ser legal mesmo. - a Flora falou. Ela parecia que não ligava para a popularidade, assim como a Ana. A Flora(como preferia ser chamada) era muito bonita, cabelos loiros, olhos extremamente verdes e encantadores.
- Você não pode andar com ela. - Veh-já-te-odeio.
- Por que não ? - não gostei do tom que ela usou comigo, além do mais, ninguém me diz o que eu devo ou não fazer. A Veh era até bonita, mas em seu rosto era visível o quanto ela se achava melhor do que as outras pessoas. Eu poderia até dizer que ela é vulgar, mas chamá-la de vulgar seria uma ofensa... às pessoas que são vulgares. Com o perdão da palavra, só de olhar para ela você percebe que ela é uma puta. Pronto, falei.
- É suicídio social. Você não vai falar mais com ela.
- Quem você pensa que é pra dizer o que eu devo ou não fazer ?
- Calma, Bia. - a Ana sussurrou em meu ouvido.
- Se você continuar andando com ela, não vai poder andar com a gente.
- Fale por você, Veh. Eu não vou ignorar a minha prima só porque você tem esse complexo idiota de superioridade. - Ana Juli falou séria.
- Concordo com a Ana. - Flora.
- Eu prefiro andar com a Paula e cometer suicídio social do que andar com você e ser confundidas com pessoas da sua laia. - a Flora e a Ana reprimiram uma risada e ela bufou. Conversamos durante todo o intervalo, com exceção da Veh.

- Vocês sabem quem são aqueles meninos ? - perguntei olhando a mesa dos quatro garotos de antes.
- Ah, são os Carter e o Harcourt. - a Flora me disse, olhando para mim como se quisesse ler os meus pensamentos e desobrir o por quê do meu interesse. Ri com o meu pensamento.
- Aquele ali é o Thiago, o do lado é o Joey, o outro com quem a gente esbarrou no corredor é o Arthur e o outro é o Kurt. - então o nome do menino que chamou minha atenção é Kurt. Bonito nome, mas não tão bonito quanto ele mesmo.
- Por quê ? - Flora perguntou arqueeando uma sombrancelha.
- Quem te conseguiu roubar a atenção da minha pequena e querida prima ?
- Bom, o Kurt é bonitinho, né. E bem... Não é um inglês sem sal. - as outras duas riram comigo, enquanto a Veh olhava pra mim bufando de raiva.
- Fique longe do Kurt. Ele é meu. - ela disse em um tom possessivo.
- Acho que eu vou até lá e perguntar se você é dona dele. - falei debochada.
- Eu tô falando sério, Bia.
- Tô morrendo de medo.
- Fala sério, Veh. Você ainda não superou o pé na bunda que o Kurt te deu, não ? - Flora.




- Por que vocês são amigas da Veh ?

Depois da aula, a Ana e a Flora vieram para minha casa, a Paula não pode vir, já que tinha que cuidar dos irmãos. Nós passamos a tarde toda conversando, a Flora já sabia tudo da minha vida e eu da dela. Melhores amigas de cara. Quem poderia imaginar que logo no primeiro dia eu iria arrumar duas melhores amigas... Ai ai. Qualquer pessoa estranharia, mas eu não. Já vivi o suficiente para saber que a amizade não se faz com o tempo, mas sim com a intensidade. Eu sinto que posso confiar nas duas.

- Eu não sou amiga dela. - Flora falou logo - Só andava com ela por causa da Ana. - entregou.
- Ela só anda com a gente. A única amiga da Veh é a Amber. - Ana
- Amber ? - perguntei.
- É a cópia da Veh. Nos dias que ela falta a vadia mor vem se sentar com a gente. - minha prima deu de ombros.
- Então se eu fizesse vocês escolherem entre mim e a Veh...
- Eu escolheria você. - Flora disse e veio me abraçar.
- Difícil... - a Ana pareceu pensar - Claro que eu escolheria você, anta.

No meio da semana nós tivemos a nossa primeira aula junto com a Paula. A Veh nunca mais falou comigo e com as meninas só o essencial do essencial. As três se deram super bem e a Ana e a Flora se perguntavam porque não havia falado com a Paula antes. Eu fiquei feliz em saber que mudei a percepção das duas, se não fosse por mim elas nunca dirigiriam uma palavra à ela. É claro que muitas pessoas se perguntavam o por quê da Paula andar com a gente, faziam apostas pra saber o quanto a amizade com a gente iria durar e mandavam ela se afastar da gente. A Paula sofria com isso, mas eu sempre pedia pra ela esquecer. E bem... Era isso que ela fazia.

- Com licença. O diretor quer falar com a Bia Almeida. - a inspetora disse ao entrar na sala. As meninas olharam pra mim e me lançaram um olhar tipo 'o quê ele quer falar com você?' dei de ombros e a segui. No meio do caminho ela se virou pra mim, após falar no tijolo, digo, celular dela e me fez pedido.
- Você pode chamar pra mim o Kurt Harcourt, no laboratório ? O diretor quer falar com ele também. - concordei e fui chamá-lo. Não entendi o por quê, mas o meu coração acelerou ao ouvir o nome dele. Preferi ignorar e dei três batidinhas antes de abrir a porta.

Kurt's pov ON

Hoje fazia quase um mês, desde que aquela menina entrou na escola. O seu nome eu ainda não sabia, mas parecia que todo mundo a conhecia. Ela andava com a Ana Juli e a Flora. Desde a primeira vez que eu a vi fiquei hipnotizado. Como alguém pode ser tão bonita daquele jeito ? Parecia uma... Deusa. A minha Deusa. Como meus irmão diziam, eu estava patético, fiquei dias e mais dias ensaiando e procurando uma ideia para me aproximar dela, mas não o fiz. Eu mesmo não me entendia. Putz, eu sou Kurt Harcourt, o capitão do time de futebol da escola, posso ter qualquer garota aos meus pés, mas eu não consigo falar com aquela que me balançou. Que idiota, coisa de gay.

- Com licença, professor. - uma voz doce ecoou na sala silenciosa, mas eu continuei de cabeça abaixa - A inspetora pediu que eu chamasse Kurt Harcourt. O diretor quer falar com ele. - nesse momento eu levantei a cabeça, ele provavelmente queria falar alguma coisa relacionada ao time do colégio ou à banda. Sabe, o diretor me adora. Sou demais.
Ok, depois desse pensamento egocêntrico, olhei para a pessoa da porta. E foi aí que o meu coração parou. Tá, mentira. Ele acelerou, parecia que ia sair do meu peito. Aquela menina que ultimamente vinha me tirando o sono, a minha deusa, a menina que me pirou completamente sem nunca me dizer um oi.

- E-e-eu ? - ótima hora pra gaguejar, meus irmãos e o Thiago olharam pra mim do tipo 'para de ser patético'.
- Bem, se você é Kurt Harcourt, eu acho que sim. - ela disse.
- Acompanhe-a, Harcourt. - o professor falou, ainda voltado para o quadro branco. Estávamos andando em completo silêncio, até que eu resolvi puxar assunto.
- Então... Gostando da escola ?
- É bem legal aqui. É diferente das outras escolas, as pessoas aqui são... Diferentes, não sei explicar. - ela deu de ombros.
- Então a novata já arrumou encrenca ? - perguntei brincando. E eu sei o quê você está pensando. 'idiota, idiota'
- Eu já estou aqui há quase um mês, acho que não sou mais novata. E sinceramente, eu não sei pra que fui chamada. E o que você faz aqui, hein ? - ela sorriu. E que sorriso. Nesse momento eu percebi que queria ter aquele sorriso pra mim. Só pra mim.
- Ele deve querer falar algo sobre o time de futebol ou... - fui interrompido. Só para constar, eu detesto quando me interrompem.
- Ah, claro. Esqueci que estou com o capitão do time de futebol ao meu lado. - então ela deu uma gargalhada gostosa de ouvir e... Ok, por ela eu abro essa exceção.
- Mas ele pode ter me chamado para falar sobre a minha banda. A gente tá tentando tocar no baile de primavera. - respondi com um sorriso enorme, pensando na possibilidade da gente tocar para uma plateia que não seja feita apenas dos alunos do Early College High School. Ok, seria com os alunos do colégio de qualquer forma... Mas teriam os convidados. Fato.
- Você tem uma banda ? - os olhos dela brilhavam - Que legal.
- Aham. Você toca alguma coisa ou canta ? Porque do jeito que você falou parece gostar muito de música. - acrescentei, depois que ela me olhou com uma cara de confusa, tentanto entender o por quê da minha pergunta, provavelmente.
- Eu amo cantar, mas a minha voz não é muito boa, toco guitarra, violão e piano desde que me entendo por gente. Tá legal, nem tanto. - nós dois rimos.
- Eu tenho certeza que a sua voz é bonita. Só preciso ouvir você cantar pra confirmar. - ela sorriu.
- Quem sabe um dia, Harcourt.
- Me chame de Kurt.
- Bia Almeida, mas se você tem amor à sua vida me chame de Bia.
- Acho que ele vai querer te ouvir primeiro. - falei indicando a sala do diretor com a cabeça. Ela sorriu pra mim, de novo, e foi falar com a Senhora Montez que a mandou entrar.

Kurt's pov OFF

Ok, para tudo. Como assim ? A sorte deve estar ao meu lado, só pode. Enquanto eu vinha conversando com o Kurt, várias coisas passavam pela minha cabeça. Era um turbilhão de emoções que eu não sabia explicar, nunca havia ficado tão nervosa ao conversar com um menino. Pra minha sorte, eu sei disfarçar, ele provavelmente não percebeu que eu estava nervosa, então nós conversamos. Agora tudo o que eu tenho que fazer é falar com ele, o primeiro passo já foi dado e a sorte está lançada... Ok, eu preciso realmente parar de andar com a Paula, olha como eu tô falando. Céus.

- Licença. - pedi, após ter batido e entrado na sala do diretor.
- Senhorita Almeida. Sente-se por favor. - ele apontou para uma cadeira em frente à sua.
- Então...
- Seu pai me ligou. Ele queria saber como você está sendo tratada na nossa escola. Há algo que eu possa fazer por você ? - bufei. Era sempre assim, meu pai ligava e os diretores me chamavam. Todos eles insistiam na ideia absurda de querer me tratar melhor do que os outros alunos. E isso me irritava. Muito.
- Estava tudo ótimo, até agora. - sim eu sou aquele tipo de pessoa que fala o que pensa, o que sente.
- O quê aconteceu ? Posso fazer alguma coisa para te ajudar ?
- Pode começar a parar de querer me agradar. Eu sou como qualquer outro aluno daqui, me trate como tal.
- Mas os seus pais querem...
- Não é a primeira vez que isso acontece. Faça de tudo para me agradar, daqui à pouco eu vou ter que me mudar mesmo e tudo vai ficar igual. - dei de ombros.
- Eu só quero dizer que eu estou disposto a te ajudar no que precisar, para que não seja necessário desagradar os seus pais.
- Se você não quiser desagradar os meus pais esquece de quem eu sou filha e passe a me tratar como qualquer outro aluno do seu colégio.
- Mas...
- Passar bem, senhor diretor.

Saí da sala batendo as portas, não existe nada pior do que ser tratada de uma maneira diferente só porque os seus pais são influentes. Um monte de pessoas no meu lugar iriam descordar, mas eu acho isso. Ponto.

- Acho que ele não vai te tratar muito bem, Kurt... - sorri e fui caminhando em direção à minha sala. Percebi que ele havia dado um sorriso bobo para mim e ri comigo mesmo do meu pensamento. Ele não devia saber que eu existia, até eu ir chamá-lo em sua classe. O máximo que aconteceria seria a gente se cruzar dizer um oi e dar um sorrisinho sem graça. E eu sei, faz pouco tempo, mas eu queria mais que isso. Bem mais. 





Então finalmente havia chegado sexta-feira, as meninas viriam dormir aqui em casa hoje, na verdade passariam o fim de semana todo aqui. Surpreendentemente meus pais estavam em casa e, pela primeira vez, desde que nos mudamos, almoçaríamos em família.

- Como está indo no novo colégio, Bia ? - minha mãe perguntou. Estranhei, nenhum dos dois nunca havim demonstrado interesse algum nesse assunto antes.
- O colégio é bom, a maioria das pessoas são legais comigo, mas é um pouco estranho. - dei de ombros.
- Estranho por que ? - meu pai perguntou.
- Aqui, em cada aula é uma turma diferente. Não é como nos outros colégios que tinham turmas fixas. É aula de inglês, aula de biologia e não 3ºA e 3ºB...
- E isso é ruim pra você ?
- Está sendo um pouco difícil de me adaptar. Eu só estudei em turma fixa é estranho, mas com o tempo eu me acostumo. - dei um sorriso fraco.
- Com licença. - meu pai terminou de almoçar e foi para o escritório, com certeza pra fazer as milhares de ligações diárias.
- Suas amigas vão vir pra cá mesmo ? - minha mãe perguntou.
- Vão sim. Por que ?
- Eu e seu pai vamos precisar viajar, voltamos na segunda. A Flora vem também ? - sim, meus pais haviam super simpatizado com a Flora, acho que o fato de os pais dela trabalharem na mesma empresa que eles ajudou bastante. Eles também adoraram a Paula, confiavam nela mais do que em mim. Desde que eu contei a história de vida dela, eles só sabem dizer o quanto ela é responsável e o quanto pode me fazer crescer. E a Ana... Bom, a Ana Juli é minha prima né ? Eles sempre dizem que ela é igualzinha a mim.
E eu ainda não descobri se isso é uma coisa boa ou não.

- MÃE TÔ SAINDO. - berrei pra avisar quando eu resolvi dar uma volta.

Perto da minha casa havia um parquinho, daqueles bonitinhos e bem cuidado sabe ? Com escorregos, gangorras e aqueles brinquedos de girar - dos quais eu nunca soube o nome.
Sentei ali e fiquei pensando na vida. Me lembrei das vezes em que eu não quis fazer amizades com o medo de perdê-las. Hoje eu estou aqui, com três melhores amigas e uma vida de verdade. Eu nem sei o que seria de mim se os meus pais me obrigassem a mudar de novo. Mas de uma coisa eu tenho certeza, posso ter aberto exceções e ter me permitido ter amigas de novo, mas namorar, gostar de alguém é algo totalmente fora dos meus planos. Fui dispersa dos meus pensamentos quando alguém puxou o meu braço e se sentou ao meu lado. Um sorriso se abriu em meu rosto quando percebi que era uma criança, a mais fofa de todas.

- Hey, moça.
- Hey, pequeno.
- Você pode me ajudar ? Eu quero ir pra casa, só que eu não quero ir sozinho. Está escurecendo. - ele fez uma carinha triste, completamente fofa.
- Por que um menininho do seu tamanho estaria sozinho aqui ? - perguntei, apertando suas bochechas.
- Ei, eu já sou um rapaz. - ele falou fazendo bico.
- Ok, então o que um rapaz como você faz aqui sozinho.
- Meus irmãos não queriam me trazer aqui, então eu vim sozinho. - ele sorriu.
- Seus irmãos são malvados com você. - fiz careta.
- Muito malvados. Qual o seu nome ? - ele perguntou e eu ri da forma em que ele trocou de assunto.
- Bia, mas me chama de Bia.
- Tá, eu sou o Frankie. - ele se levantou e estendeu as mãozinhas pra mim - Vamos Bia ?
- Vamos sim, Frankie. Mas você vai me guiando tá ? - ele concordou e nós começamos a andar, seguimos o mesmo caminho que eu fiz. Achei que estava indo para a minha casa e as minhas suspeitas me confirmaram quando ele apontou para a casa do lado esquerdo da minha e disse que morava ali.

- Ah, então você é meu vizinho.
- Você mora ali ? - ele disse olhando para a minha casa com os olhos brilhandos.
- Sim, por que ?
- Eu sempre quis entrar nessa casa. A piscina é tão grande. Dá pra ver da janela do meu quarto. - gargalhei.
- Então qualquer dia você vai lá, tá bom ?
- Tá. Quer entrar ?
- Não, Frankie. Acho melhor não.
- Ah, entra Bia. Por favor. Meus irmãos vão gostar de conhecer você. - ele fez uma carinha tão fofa que era impossível de resistir.
- Tá bom, tá bom. - tocamos a campainha e fomos recebidos por uma mulher muito bonita e elegante. Ao que parece era a mãe dele.

Nós três ficamos conversando durante um bom tempo, o Frankie era um rapazinho muito elétrico e dado. Eu já tenho uma paixão enorme por crianças e ele me encantava de graça. Sra. Harcourt passou um bom tempo me contando sobre as travessuras de seus filhos, quatro no total e todos homens.

- MÃE, CHEGUEI. - um ser gritou da sala e veio em direção à cozinha, sendo seguido por mais dois seres.
- Bia ?
- Oi, Kurt. - falei sorrindo.
- Que você tá fazendo aqui ?
- Nossa. Também estou super feliz de te ver.
- Não, não é isso. É só que... Eu não sabia que você sabia que eu morava aqui. - ele falou todo confuso e um pouco corado.
- Mas eu não sabia, mesmo.
- Se liga, Kurt. Ela veio aqui me ver. - o outro menino falou.
- Desculpa mas... Quem é você mesmo ? - eu falei e todo mundo riu, até o menino 'oi, eu me sinto'
- Claro, claro. Prazer, eu sou o Thiago. O irmão mais gato dos três. - ele me abraçou.
- Prazer eu sou o Joey. - ele me deu dois beijos no rosto e se sentou ao meu lado - Podemos saber o quê Bia Almeida, a mais nova popular gatinha do colégio está fazendo em nosso humilde casa ?- eu ri, por dois motivos. Um, o 'mais nova gatinha popular do colégio' foi realmente engraçado tendo em vista o tom que ele usou e dois, de humilde aquela casa não tinha nada. NA-DA.
- Eu encontrei o Frankie na praça. Parece que os irmãos malvados dele não quiseram levé-lo. Coisa feia, hein Harcourt.
- A gente precisou dar uma saidinha, aí não deu...
- Aposto que tinha mulher no meio. - eu disse e o Kurt corou um pouco.
- Se tratando da gente.
- Você adora se achar, né Thiago ?
- Eu não me acho, são as outras que me procuram, gatinha. - ele piscou pra mim.
- Ui, que piscadinha sexy. Tá me seduzindo é ? - já falei que eu pego intimidade rápido ? Pois é ...
- Depende. Tô conseguindo ? - todos, com exceção do Kurt, riram.
Antes de eu responder, meu celular começou a tocar.

you told me there's no need to talk it out cause its too late to proceed and slowly I took your words
- Alô ? ... Tô na casa dos Harcourt... Aham... Já chegou ?... E as meninas?.... Tá bom, tô indo. Beijo, amo você pateta.

- O papo tá muito bom, mas eu vou ter que ir. - falei.
- Já ? - Frankie perguntou.
- Já sim pequeno, a Ana Juli tá me esperando em casa. Se eu deixá-la sozinha na minha casa é capaz dela se apoderar das minhas coisas. - dei um beijinho em seu rosto.
- Ana Juli Montagner ? - Thiago perguntou, visivelmente interessado.
- É sim. A minha prima não vive mais sem mim.
- Prima ? - Joey perguntou.
- Aham.
- Então a beleza é de família. - Thiago sussurrou para o Kurt, mas mesmo assim eu ouvi.
- Obrigada, Thiago. - eu disse e ele ficou corado.
- Se você quiser a gente te leva, já está escuro. É perigoso. - Kurt falou de uma maneira fofa que me encan... Que me nada. Nada, Bia.
- Não precisa, mas obrigada.
- A gente faz questão. - Joey.
- Eu moro aqui do lado gente, dez passos e eu estou em casa. - sorri.
- Então é você que mora ali ? - Thiago falou com os olhos brilhando. Sorri novamente, ele me lembrou o Frankie mais cedo.
- Eu sei, a piscina de lá é grande e legal e você sempre quis entrar lá. - céus, o que eles têm com a minha casa ?
- Sonhos de criança. - Kurt falou.
- Dos quatro ? - perguntei em tom desafiador. O que foi péssimo, devo registrar.
- De todos menos o meu. - Joey falou rindo.
- Ok, então quando eu chamar os seus irmãos para irem lá não preciso te chamar, certo ? - arqueei uma sombrancelha.
- NÃO. Eu vou claro que vou, se não era o meu sonho passou a ser. - gargalhei.
- Então tá né. Se vocês quiserem podem ir amanhã.
- Já ? - Thiago.
- Por que ? Algum problema ? - perguntei sem graça.
- Não, imagina. - Kurt se apressou em falar - Não vai criar nenhum problema pra você, não ?
- Não. Meus pais vão viajar hoje e as meninas vão passar o fim de semana comigo. Quanto mais gente melhor. - sorri.
- Amanhã a gente vai pra lá às 10, ok ?
- Tudo bem, mas eu acordo às 11. Beijo, amores. - me despedi de cada um e fui embora. O Kurt me levou até a porta e ficou esperando eu entrar em casa, percebi que ele corou quando eu o abracei e dei um beijinho em seu rosto. E nossa... Como ele é cheiroso.
 
 
 - SAI AGORA DESSE BANHEIRO, BIA. - Ana Juli berrava e batia pela milésima vez na porta. Quando eu cheguei em casa, as três vieram me bombardear de perguntas sobre os Harcourt, deixei-as falando sozinha e fui para o meu quarto tomar banho. Saí do banheiro com a minha toalha rosa bebê na cabeça e o meu pijama da Minnie.
- Que isso, pra que tanto estresse, gatinha ? - falei jogando a toalha em cima dela.
- O quê você estava fazendo lá ?
- Desde quando vocês se conhecem ?
- Seus pais sabiam que você estava lá ? - todas me fizeram essas perguntas, ao mesmo tempo. É claro que a última foi da Paula, com certeza a mais responsável.
- Eu encontrei o Frankie na praça, o irmãozinho deles. E eu só conhecia o Kurt, mas devo dizer que os irmãos e a mãe dele são uns amores. - sorri.
- E... - a Paula ia começar a falar quando eu a interrompi
- Não, Paula. Os meus pais não sabiam e eu tenho certeza absoluta que eles não se importam.
- Você viu o Thiago ? - minha querida prima falou com um olhar um pouco... Apaixonado.
- Vi, Ana Juli. Ele é um gatinho hein, como não havia reparado nele antes ? - provoquei.
- Tira o olho que o Thiago é meu. - ela falou.
- Seu ? - Flora disse rindo.
- Ah, vocês entenderam... - ela corou.
- Você já teve alguma coisa com ele, Ana ? - Paula perguntou.
- Puft. Nada. Quem dera. Tudo o que a gente fala é 'Oi', 'Desculpa', 'Tá frio né ?' e QUANDO fala.
- Não pensei que você fosse tímida.
- Não sou, só perto dele. - ela disse e nós rimos.
- Ana Juli, você tem namorado, lembra ? - Paula falou repreendendo.
- Desencana, xuxu. A Ana tá querendo dar um fora nele há muito tempo. - eu falei e a minha prima concordou.
- Ana Juli safadona. Só de olho no Thiago, hein. - Flora disse e jogou uma almofada nela. Antes que se iniciasse uma briga de almofadas, eu me intrometi, tentando salvar as minhas almofadas rosinhas de um massacre.
- Eu acho que ele também tem uma quedinha por você.
- Sério ? - ela berrou - Quer dizer... Por que você acha isso ? - ela tentou parecer desinteressada, mas saiba que só tentou !
- Aham. A gente tava junto quando você ligou, aí eu falei que era você e os olhos deles brilharam de uma forma mega fofa. Aí depois eu falei que você era a minha prima e ele disse que a beleza era de família. Tão cute.
- Já vou avisando pra você tirar o olho em Bia. - eu e as meninas rimos.
- Fica tranquila, Ana. - a Flora começou.
- Nós quatro sabemos que o interesse da Bia é pelo Kurt. - a Paula disse e eu me fiz de indignada.
- Como ?
- Ah, fala sério Bia. Nós somos suas amigas, pode desafabar. - Flora disse de uma forma que me fez lembrar da minha última terapeuta. Do jeito que as minhas amigas eram, eu não precisaria de terapeuta ou psicanalista tão cedo...
- Ele é legal, é bonito, tem charme, me trata bem e ...
- Você está tendo uma super queda de 9876543210 andares por ele. - Ana Juli me completou.
- Ah, para gente. - falei corada.
- Não precisa ter vergonha da gente, amiga. - Paula.
- É, nós estaremos aqui pra ouvir você falar durante horas o quanto está apaixonada por ele. - Flora.
- Eu não vou me apaixonar por ele. - falei, ficando séria de repente.
- E por que não ? - Ana me perguntou.
- Porque já basta eu ter me apegado à vocês. Não quero sofrer mais do que já vou sofrer quando for embora, de novo. Um namorado não está nos meus planos e vai contra os meus princípios.
- Que princípios ? - Paula.
- Os que eu criei para proteger meus sentimentos, oras.
- Eu já falei que você não vai embora tão cedo, amorzinho. - Ana.
- É amiga, a gente tá aqui com você agora. - Flora.
- Os seus pais nos amam. Tudo fica mais fácil assim. - Paula. Nós quatro nos abraçamos e caímos de costas na minha cama king-size.
- Qualquer coisa a gente vem morar aqui com você. - Ana.
- Sabe que seria uma boa ? - Flora falou animada.
- Sério ? Se vocês quiserem podem se mudar amanhã, eu vivo sozinha nessa casa mesmo. - dei de ombros.
- Eiii, pera ae. Essa hipótese é só pra caso de extrema urgência !
- Você é muito chata, Paula. - dei língua pra ela.
- Também te amo, fofinha. - ela apertou minha bochecha e eu fiz careta.
- Quem disse que eu te amo ? Eu amo mais a Flora. - falei abraçando a dita cuja, que abriu um sorriso maior que a boca.
- Ei e eu ? - Ana falou fazendo cara de coitadinha.
- Eu também te amo, prima.
- Poxa, me senti total desamada agora.
- Ah, Paula. Nós todas te amamos. - Flora falou e a gente pulou em cima dela.
- Isso coisinha, nós não vivemos mais sem você. - falei.

Ficamos conversando por mais algum tempo, até que elas resolveram colocar o pijama pra gente assistir filme. Nós vimos 'Um amor pra recordar' e 'Antes que termine o dia', não preciso nem dizer que no final nós estávamos acabadas de tanto chorar né ?
Papo vai, papo vem... As lágrimas agora tinham perdido espaço para as risadas. Muitas risadas, por sinal.

- É serio, gente. Para de rir. - Flora.
- Quer dizer então que na hora H você pulou fora deixando o menino de cueca no banheiro de uma festa ? - Ana.
- Aham. - ela confirmou corada.
- Então quer dizer que você ainda é ... - Paula.
- Virgem ? Aham. - ela falou com orgulho de si mesma.
- Você também é, Paula ? - Ana perguntou.
- Não, eu namorei por quase quatro anos o mesmo menino. Não tem como manter um namoro por todo esse tempo sem fazer isso.
- Discordo. Eu até hoje não fiz com o meu namorado.
- Claro, você suspeita que ele é gay. - nós todas rimos do tom que a Flora usou, até a Ana.
- Ah, nossa fofinha está tão caladinha né, gente ? - Ana falou e eu sorri. Elas decidiram me chamar assim, por eu ser a mais nova das três e elas sentirem que devem se preocupar e cuidar de mim. E eu gosto disso, desse carinho e dessa atenção.
- E você, Bia ?
- Ah, por favor né Paula. Já é um milagre eu ter namorado por três anos, estudando em um colégio interno. Vocês estaria pedindo demais se quisesse que eu não fosse virgem.
- É verdade. Esqueci o quanto você é pura, ingênua e inocente. - ela disse ironicamente.
- Háhá. Tão engraçada você, xuxu.
- O papo está bom, mas é melhor a gente dormir. - Ana.
- Isso, até porque os Harcourt vão passar aqui amanhã. - falei, me deitando já.
-
Harcourt ? Amanhã ? Pra que ? - Flora perguntou afobada.
- Piscina, só espero que faça sol.
- Eu também espero. Só de imaginar o Thiago sem camisa... UI. - Ana.
- Que Thiago, mané Thiago. Sou mais o Joey. - Flora.
- Ok, Bia. A gente sabe que você está doida pra ver o Kurt sem camisa também... - Paula falou, provavelmente estranhando o meu silêncio repentino.
- Me erra, Paula. Vai dormir.
- Larga de ser chata, Bia. - ela me deu um pedala e eu exclamei de dor, exageradamente, claro.
- Tadinha, não bate nela sua bruta. - Flora falou brincando.
- Ah, que seja. Vão dormir que amanhã o dia vai ser longo. - Ana.
- Tá Ana, a gente sabe que você está louca pra sonhar com o Thiago sem camisa.

Era tão bom ter amigos de novo, amigos próximos de você. Aquelas pessoas que você sabe que vão estar lá sempre que precisar, nem que seja pra fazer brotar um sorriso no meio das lágrimas.
Completa, era assim que eu estava me sentindo. Eu estava, finalmente, preenchendo o vazio em meu coração. Agora eu me lembrava o quanto era bom se sentir querida, amada e necessária pra alguém. Agora eu me lembro o quanto é bom ter um amigo de verdade ao seu lado. E foi com esse tipo de pensamente que eu adormeci, apertada porque as quatro estavam na minha cama - ignorando os colchões arrumados para elas no chão - e com um sorriso em meu rosto.  


Foi muito fácil para todas nós acordarmos cedo no dia seguinte, os meninos chegaram 10 horas em ponto.

- Ah, fala sério. Eu estava crente que ia te acordar, gatinha. - Thiago falou beijando minha testa.
- Fazer o quê, né ? - dei de ombros
- Bom dia, Bia. - Kurt e Joey falaram após me abraçar.
- Então... Vamos pra piscina ? - Frankie.
- Só depois do meu beijo, pequeno. - ele veio e me deu um beijinho no rosto. As meninas já estavam na piscina, então eu só precisei levá-los até lá.

- Heeey. - Paula falou primeiro. Pelo visto ela também percebeu que as outras duas não falariam nada, estavam ocupadas demais babando nos meninos que já haviam tirado a camisa.
- Acho que não preciso apresentar ninguém, né ?
- Acho que você não tem educação, né ? - Ana disse assim que saiu de seu transe.
- Eu não conheço esse pequeno. - Flora falou e apertou as bochechas do Frankie.
- Oi, eu sou o Frankie. - ele disse sorrindo, fazendo com que eu e as meninas suspirassem e os meninos revirassem os olhos.
- Oi Frankie, eu sou a...
- Deixa o meu pequeno em paz, Paula.
- Então... Piscina ? - Joey.
- SIM. - todos concordaram, menos eu.
- Depois eu vou. - deitei perto da borda da piscina pegando sol, percebi que quando eu tirei meu vestido o Kurt não tirou os olhos de mim e eu... Bem, eu gostei né ?! Fiquei olhando eles brincando e pela primeira vez eu agradeci pelos meus pais terem se mudado e me carregado junto. Eu finalmente havia encontrado um lugar pra mim, eu havia encontrado meu ponto de equilíbrio. Estar com eles era tudo o que me importava e nesse momento eu decidi que, se fosse necessário, passaria o resto da minha vida ao lado deles. Mesmo não tendo muita intimidade com os
Harcourt - ainda - eles já faziam parte da minha vida.

- Ei, gatinha.
- Fala, gatinho. - decidi entrar na brincadeira do Thiago.
- Vai entrar não ? - ele falou e eu percebi o Kurt se aproximando de mim.
- Kurt
Harcourt, você não vai fazer isso. - fui me afastando.
- Ah, eu vou sim. - e ele foi se aproximando.
- É melhor você correr, Bia. - Flora falou rindo e foi isso o que eu fiz. Nós ficamos correndo pela borda da piscina durante um bom tempo, até que a Paula me distraiu com a sua responsabilidade exagerada.
- Para de correr, Bia. Você vai acabar esc...
- HÁ. PEGUEI. - Kurt gritou após ter me abraçado por trás.
- Você não me jogar não né, amorzinho ? - falei me virando de frente para ele e fazendo uma cara fofa.
- Vou sim.
- Ah, mas...
- Se prepare, Bia. - ele disse e meio segundo depois se jogou na água, junto comigo, sem soltar a minha cintura. Subimos, ainda abraçados e ficamos nos olhando enquanto a nossa respiração se normalizava. Quando percebi que ele estava perigosamente perto e que o meu corpo não faria nada pra se afastar senti um peso em meus ombros me empurrando de volta para a água. Era o Thiago.

- Merda, Thiago. Você bebe ou o quê ?
- Depende do que esse 'ou o quê' significa. - ele disse meio pensativo.
- Significa que... Oh, Frankie. Não tira a sua boia não, pequeno. - falei.
- Significa que... - ele disse tentando fazer com que eu continuasse.
- Ah, esqueci. - dei de ombros.
- Então tá né...
- Hey, seus doidos. - Ana.
- Vamos brincar de briga de galo ? - Flora pediu com os olhos brilhando.
- Teve infância não, amiga ? - Paula falou zoando com ela.
- Ah, eu gostei. Eu quero, eu quero. - falei parecendo uma criancinha e batendo palmas em um momento foca on.
- Eu vou com a gatinha. - Thiago veio pra perto de mim. Percebi que a Ana não gostou muito disso pela cara que ela fez.
- Então eu vou com o Kurt. - Ana.
- Eu não quero brincar. Vou ficar com o Frankie. - Paula disse e voltou sua atenção para o pequeno.
- Ok, Joey. Eu faço esse sacrifício de ir com você. - Flora
- Eu sei que no fundo era isso que você queria, Flora. - ele falou dando uma piscadinha, fazendo-a corar.
- Só se for no mundo bem no fundo mesmo. - ela retrucou.

Começamos a brincar, primeiro foi a Ana Juli com a Flora. As coisas que os meninos falavam era hilariamente idiotas do tipo 'credo, que selvagem' ou 'vai lá poderosa, acaba com elas', o último foi do Joey e... Bem se eu não tivesse percebido o quanto ele secava a Flora, diria que ele era gay. Eu e o Thiago também ganhamos da Flora e do Joey.

- Mostra pra eles, gatinha. Nós somos os melhores. - Thiago falou, enquanto me ajudava a subir em seus ombros.
- Veremos. - Kurt. Uns três minutos depois, eu e o gatinho estávamos gritando.
- LOOSEEEEEEEEEEERS.
- Não vale, a Bia enfiou o dedo no meu olho.
- Ah, para de reclamar, Ana Juli. Sabe perder não ? - Thiago.
- Mas vocês roubaram. - ela respondeu.
- Calma, Ana. - Kurt.
- MAS ELES ROUBARAM, MERDA ! Só eu vi isso ? - ela falou indignada, eu ri.
- Se não sabe brincar não desce pro play, colega. - falei, quando já estava fora da piscina.

Nós passamos o dia todo juntos, brincamos de verdade e consequência (mesmo todo mundo pedindo verdade, ainda era essa brincadeira certo ?), conversamos sobre tudo. No fim do dia cada pessoa sabia da vida inteira da outra, literalmente.

- Hey, gatinho. Pega água pra mim. - nós estávamos na cozinha e eu pedi, vendo que o Thiago era o que estava mais perto da geladeira.
- Levanta e pega. - ele falou.
- Pooooxa. Joey ? - ele fingiu que não me ouviu. Me virei pro Kurt que estava do meu lado e fiz o mesmo pedindo, usando aquela cara que eu sei que ninguém resiste.
- Mal me conhece e já me explora. Céus. O que me aguarda ? - ele fez uma voz dramática e se levantou pra pegar água.
- O Luc costuma dizer que você pode dar tudo para a Bia, menos intimidade. - Ana falou e eu ri, lembrando da quantidade de vezes que ele me falava isso.
- Quem é Luc ? - Thiago perguntou.
- O irmão super gato da Bia. - Flora.
- A beleza é realmente de família. - A Paula completou e todo mundo riu, até o Frankie que estava se lambuzando de sorvete e totalmente distraído.
- E aonde ele está, Bia ? - Kurt perguntou voltando para o seu lugar e me entregando o copo de água que eu havia pedido.
- Eu não sei, na última vez ele estava em Montreal e a gente não se fala tão frequentemente. - senti meus olhos marejados e agradeci mentalmente a capacidade da Paula ver quando um assunto (como esse) não me faz bem.
- Posso fazer uma pergunta ?
- Já tá fazendo, Paula. - Thiago falou para implicar com ela. Típico.
- Vocês três são irmãos e pelo que percebi não são gêmeos, muito menos trigêmeos. Joey é o mais velho, Kurt o do meio e Thiago o mais novo.
- Descobriu a América. - Ana Juli falou baixo, debochada, para que só eu ouvisse.
- Como vocês conseguiram a proeza de estudarem juntos, no MESMO ano/série ?
- O Joey é burro e repetiu, eu sou muito inteligente e avancei e o Joey... Ah, o Joey é normal. - todos riram do descaso com que o Thiago falou sobre isso. Devo adimitir que nunca parei para pensar, realmente, nisso. Quero dizer ... Eu sabia que eles estudavam juntos, mas nunca me liguei muito para a idade dos três. Anyway, isso não importa agora...
- Vamos ver filme ?
- Ae, finalmente a Flora teve uma boa ideia hoje. - Joey falou jogando um potinho que estava em cima da mesa nela.
- Perdeu a noção do perigo, moleque ? - ela disse em tom bravo.
- Eu quero ver filme de terror. - Ana disse interrompendo uma possível discussão.
- Ah, mas eu tenho medo. Não gosto. - falei.
- Liga não, Bia. O Kurt vai estar aqui pra te proteger. - Thiago falou e eu corei. Olhei pro lado e vi o Kurt dando um sorriso de confirmação.
- Acho melhor você levar o Frankie enquanto a gente escolhe o filme e prepara alguma coisa pra comer. O menino tá quase dormindo em pé. - sussurrei pra ele, que balançou a cabeça indo pra perto do pequeno.
- Hey, Frankie. Já tá tarde, vou te levar pra casa. - os dois foram e o Thiago foi escolher o filme. Eu era viciada em todo e qualquer tipo de filme (até os de terror, mesmo tendo medo - nem comente, cada louco com a sua loucura. Certo ?), então opção era o que não faltava aqui em casa. Fiquei na cozinha junto com a Flora fazendo pipoca. Quando o Kurt voltou todos já estavam na sala.

- Qual o filme ? - perguntei.
- Os estranhos.
- Ain, que frio. - Flora - Bia amor, liga o aquecedor ? - ela perguntou com carinha de anjo.
- Não sei aonde fica, amiga. - dei de ombros - Pega uns cobertores lá no meu quarto. - falei e ela subiu. Voltando em seguida apenas com quatro. A Paula, possessiva e egoísta, pegou um só pra ela, a Ana ficou com o Thiago, a Flora com o Joey e eu dividi o cobertor com o Kurt.

- Você tá tremendo, Bia. Isso tudo é medo do filme ? - ele sussurrou em meu ouvido fazendo com que eu me arrepiasse.
- Também. Eu tô com frio e esse filme tá me deixando muito nervosa. - falei no mesmo tom - Eu não vou conseguir dormir de noite, Kurt. Vou sonhar com essas máscaras e nunca mais vou ficar sozinha em casa.
- Menos, Bia. - ele riu e eu olhei para o relógio da sala.
- Ai meu Deus, se a campainha tocar agora eu morro. - ele olhou pra mim confuso e eu apontei para o relógio, que marcava quatro horas da manhã, com a cabeça.
- Eu tô aqui pra te proteger, pequena. - abri um sorriso, era a primeira vez que ele havia me chamado de algo sem ser o meu próprio nome. Isso foi fofo. E também ficou parecendo coisa de menininha apaixonada, então... Esquece ! Me encostei em seus ombro, sendo vencida pelo cansaço. Me diverti muito hoje e se divertir cansa. Minha cabeça permaneceu em seus ombros e eu me aproximei mais dele, enquanto deixava o sono me pegar. Adormeci logo depois dele ter beijado minha testa e entrelaçado sua mão na minha. Uma corrente elétrica passou pelo corpo com esse ato. Sorri, deixando minha mão ali, se aquecendo junto com a dele.



Na segunda-feira, todos os alunos do colégio estavam aglomerados no ginásio da escola. Ao que parece o diretor queria nos informar de alguma mudança. Cheguei e fui me sentando entre o Thiago e o Kurt, abaixo de mim estavam a Ana e a Paula, estranhei não ter visto nem a Flora nem o Joey. Minha mente tratou logo de arrumar uma explicação maliciosa e eu tratei de ignorá-la.

- Bom dia, alunos. Não vou tomar muito o tempo de vocês. - o diretor começou - Eu tenho uma notícia boa para os alunos do terceiro ano e uma mudança no colégio.
- Você sabe o que aconteceu, gatinho ? - sussurrei para o Thiago.
- Não, ninguém sabe. - o Kurt respondeu pelo irmão que estava ocupado demais fazendo carinho nos cabelos da Ana Juli.
- Os alunos dos terceiros anos vão concorrer a uma viagem para Suíça. - nesse momento um falatório se iniciou, olhei sorrindo para Kurt, que me retribuiu.
- Silêncio. - a inspetora berrou, fazendo com que todos calassem a boca.
- Mais detalhes depois. E a outra coisa, a partir de hoje, o nosso colégio será dividido em turmas fixas.
- Eu não acredito que eles fizeram isso. - falei pra mim, mas o Kurt ouviu.
- Eles quem ? Fizeram o quê ? - dei um sorriso fraco.
- Nada, esquece. - ele deu de ombros.
- As turmas estão fixadas no mural ao lado da diretoria, sem tumulto, vão lá ver em que turma vocês estão.
- AAAH, isso é tão legal. Nunca estudei assim, vou lá ver. - Flora falou surgindo do nada e se metendo na multidão que seguia em direção à diretoria. Fui atrás dos meninos, completamente desanimada.
- O que aconteceu com você, Bia ? Tá passando mal ? - Ana, sempre preocupada comigo.
- Eu tô bem. Só acho que...
- Acha que... - Thiago falou para que eu prosseguisse.
- Tenho quase certeza que tem o dedo dos meus pais aí. Como eles resolvem mudar de uma hora pra outra ? A escola era diferente desde sempre, que eu saiba. - falei.
- Por que os seus pais fariam isso ? - Paula me perguntou.
- Eu comentei com eles na sexta que era complicado estudar desse jeito, pelo menos para mim. - falei cabisbaixa.
- Quem dera os meus pais fizessem tudo o que eu pedisse. - Kurt começou - Se eu falo que estou com fome meu pai manda eu me virar. - ele completou e todos, menos eu, riram.
- Acontece que eles fazem isso porque não me dão atenção. Eles querem que tudo esteja da forma que eu quero, para que eu não os incomode com os meus problemas. - terminei de falar assim que chegamos perto da diretoria. Flora saiu da multidão e veio em nossa direção toda sorridente.
- Ok, todos nós estamos na mesma sala. 3ºB

A nossa primeira aula foi de álgebra seguida pela de química, me sentei com a Flora e nós passamos a aula toda conversando. Quando bateu o sinal do intervalo a turma toda saiu correndo, literalmente, para o refeitório. Nós estávamos junto com os meninos e parecia que todos naquele lugar estavam reparando na gente.
Na verdade não era só impressão minha, pude ouvir comentários do tipo 'O que eles estão fazendo juntos ?', 'Ouvi dizer que a Flora e o Joey estão namorando', 'Parece que o Kurt e a Bia se odeiam' e outros mais, tão ridículos quanto esses. A nossa mesa estava silenciosa, todos muito concentrados em seus respectivos 'lanches', até que aquele menino que estava com os
Harcourt no meu primeiro dia, se aproximou da gente.

- E aí, Arthur. - Thiago falou. Quando Kurt reparou que ele estava ali, fechou a cara.
- Meninas. - ele disse dando um sorriso. Retribui fracamente e voltei minha atenção para o bolinho de chocolate que estava comendo.
- Oi, Arthut. - a Ana foi a única que falou.
- Veio saber o dia do treino, dude ? - Kurt perguntou. Não se esqueça que ele era o capital do time de futebol da escola, os irmãos também jogavam.
- Na verdade, eu vim falar com a Bia. - desde quando ele tem tanta intimidade comigo pra me chamar de Bia ?
- Comigo ?
- Aham. Será que você pode vir aqui comigo, um minuto. - ele falou. Eu olhei pro Kurt e vi que ele estava vermelho, encomodado com a situação.
- Qualquer coisa que você queria dizer pra mim pode ser dita na frente dos meus amigos, Arthur. Eles vão saber de qualquer forma. Assim você me poupa o trabalho. - dei de ombros e ele pareceu surpreso com a minha atitude.
- Ah... Ok, então... Ern... Quer sair comigo ? - ele falou.
- Sair com você ?
- É, hoje de noite. Vai ter uma festa na casa da Veh aí eu pensei que você iria querer ir comigo. - pensou errado queridinho. É claro que eu não falei isso.
- Não vai dar. - falei com uma falsa tristeza.
- Não vai dar ? Por que ? - ele perguntou incrédulo.
- Sabe como é, hoje é segunda, amanhã tem aula. Meus pais não gostam que eu saia de noite dia de semana. - tive que prender um riso, quando percebi que todos da mesa faziam o mesmo.
- Ah, tudo bem. A gente pode sair de tarde então. - ele tentou de novo.
- De tarde... Ern... É que... - eu tentava arrumar uma desculpa, até que o Thiago me salvou.
- De tarde ela vai assistir o ensaio da nossa banda, cara. - suspirei aliviada e agradeci, falando um obrigada sem som, que só ele percebeu. Parece que o Kurt não percebeu que o Thiago estava tentando me ajudar.
- Ela vai ? - ele perguntou de olhos arregalados.
- É, eu vou. - falei entre os dentes.
- Ah, é. Eu tinha esquecido. - finalmente ele entendeu.
- Então a gente marca outro dia. - céus, ele não ia desistir ?
- É, até outro dia então... - ele ainda estava na mesa quando a Paula chegou se jogando em cima de mim.
- Perdeu o caminho da roça, Paula ? - ele falou e eu me lembrei de quando ela me disse que ele era o que mais a perturbava.
- Não vou me dar ao trabalho de te responder, Arthur.
- Acho que você se esqueceu de que os bolsistas não se misturam com gente como nós. - ele falou usando o plural. Logo se referia a todos presentes ali na mesa.
- Fale por você, dude. - Joey falou.
- A Paula pode ser bolsista, mas ela é mil vezes melhor do que muita gente nessa escola. - Kurt falou, fazendo com que ele bufasse e saísse da mesa resmungando. A Paula sorriu pra ele em agradecimento e eu sorri junto, sei lá porquê. Mas sorri.
- Então, fofinha. O que vamos fazer hoje ? - Paula perguntou, dando fim ao assunto anterior.
- Vocês eu não sei, mas eu vou assistir ao ensaio dos
Harcourt. - sorri.
- Tudo bem, não precisa chamar a gente, meninos. - Ana falou e eu ri.
- Se vocês quiserem... - Thiago começou.
- Na na ni na não. Hoje o ensaio vai ser exclusivamente para a minha pessoa. Run. - fiz cara de mandona.
- Também não queria. - Flora deu de ombros.

Fui embora junto com os
Harcourt, almocei na casa deles por insistência da Sra. Harcourt. Nós quatro estávamos sozinhos em casa, já que o Frankie estava estudando, a Sra Harcourt tinha ido ao mercado e o Sr. Harcourt estava trabalhando.

- Vocês são muito folgados. Nem pra lavar a louça e ajudar a mãe de vocês. Credo. - falei enquanto entravamos no quarto do Kurt.
- Quem ouve até pensa que você ajuda sua mãe em casa. - Joey
- Como se a minha mãe tivesse tempo para se dedicar à assuntos da casa. - dei de ombros
- Nós não vamos pro estúdio não ? - Thiago perguntou confuso. Sim, existia um estúdio naquela casa.
- Não, vamos tocar só com o violão. - Kurt disse e sorriu pra mim.
- Hello Beautiful ? - Joey perguntou e começou a dedilhar algo no violão, após a confirmação dos irmãos.


Olá linda
Como você está indo?
Eu ouvi que é maravilhoso na Califórnia

 Eu estou sentindo sua falta
É verdade

Hoje a noite eu vou voar
É, hoje a noite eu vou voar
Porque eu poderia cruzar o mundo e nunca ficaria satisfeito
Se eu não pudesse ver seus olhos

Thiago começou cantando a primeira parte da música, Joey acompanhava com o violão, enquanto Kurt fazia a segunda voz em determinadas partes. A letra era muito bonita e eu, sinceramente, me surpreendi com o fato de os três a terem escrito.
Na segunda parte quem cantava era o Kurt e ele cantou olhando nos meus olhos. Eu não desviei, os olhos dele me prendiam, por mais que eu quisesse olhar em volta e me lembrar do Thiago e do Joey, eu não conseguia. Era como se existisse um imã entre a gente, algo que me fizesse esquecer do mundo e me concentrar somente no Kurt. Isso estava me deixando louca, completamente louca por ele.

Olá linda 

Já faz muito tempo
Desde que meu telefone tocou
E você estava na linha
Eu estou sentindo sua falta
É verdade

Hoje a noite eu vou voar

É, hoje a noite eu vou voar
Porque eu poderia cruzar o mundo e nunca ficaria satisfeito 
Se eu não pudesse ver seus olhos

- E aí, gostou, gatinha ? - Thiago perguntou, fazendo com que eu saísse do meu transe particular.
- A música é linda e vocês cantam super bem. Nossa. - falei ainda extasiada - Vocês já pensaram em mandar uma demo pra alguma gravadora ?
- A gente mandou uma vez, mas não deu muito certo. - Joey falou com uma voz desanimada.
- Isso acontece, vocês só não podem desistir. Um talento como o de vocês não pode ser desperdiçado.
- Obrigado, Bia. - Kurt disse e sorriu, recebendo um sorriso meu em troca.
- Só não quero que vocês se esqueçam de mim quando ficarem famosos e ganharem groupies pegajosas e atiradas. - fiz uma cara de má.
- A gente nunca vai esquecer de você, Bia. Isso já é fato. - Joey falou e os meninos concordaram. Abri o meu melhor sorriso.
- MENINOS, ME AJUDEM COM AS COMPRAS. - ouvi a Dê gritar lá de baixo.
- Kurt fica aí com a Bia. - Thiago disse e foi ajudar a mãe com o Joey.
- Agora é a sua vez. - Kurt
- Minha vez de que ? - perguntei confusa.
- Você vai cantar pra mim. - arregalei meus olhos.
- Eu o quê ?
- Eu lembro que você me disse que cantava, Bia. - ele revirou os olhos - Agora eu quero ouvir.
- Mas...
- Você disse que eu ouviria você cantar. - ele estava parecendo uma criança birrenta e eu falaria isso, se ele não estivesse tão fofo desse jeito.
- Eu disse 'quem sabe um dia,
Harcourt'. - falei após me lembrar do momento em que ele estava falando.
- Esse dia é hoje, então. Para de enrolar. - ele disse jogando o violão que antes era tocado por Joey, em cima de mim.
- Tá tá. Eu vou tocar uma das minhas músicas preferidas.
 
Beije-me 

Longe da moita de cevada
 Todas as noites junto à verde, verde grama
Balance, balance, balance o degrau giratório 

 Use aqueles sapatos e eu usarei aquele vestido

Oh, beije-me bem embaixo da via-láctea
Leve-me pra fora, no chão iluminado pela lua
Levante sua mão aberta
Faça a banda tocar e faça os vaga-lumes dançarem
A lua prateada está brilhando
Então me beije

Toquei apenas a primeira parte da música, porque - convenhamos - aquilo estava parecendo uma indireta bastante direta. Não que eu não quisesse ser beijada por ele, mas a minha cara de pau ainda não atingiu esse nível.
Deixei o violão ao lado da cama (nós estávamos sentados) e voltei meu olhar para ele.

- Nossa, sua voz é linda.
- Perfeita. - falei irônicamente.
- Parece voz de anjo.
- Também não exagera, Kurt. - me virei pra ele.

Ficamos nos encarando durante um tempo, até que ele começou a se aproximar de mim e eu permaneci imóvel, apenas olhando em seus olhos. Quando estava perigosamente perto dos meus lábios, ele falou.

- Eu nunca senti antes o que estou sentindo por você. Como você pode fazer isso comigo em tão pouco tempo ? - não tive tempo de responder nada, já que um furacãozinho entrou correndo no quarto, fazendo com que o Kurt se afastasse rapidamente de mim.
Será que o Frankie não poderia ter esperado só alguns minutinhos ?




Um mês se passou desde aquele dia na casa dos
Harcourt.
Os boatos sobre a nossa amizade repentina foram cessando aos poucos. Sinceramente, eu não sei daonde as pessoas tiraram a ideia de que eu e o Kurt nos odiamos ou como elas sabiam que a Flora e o Joey estavam 'próximos' demais para uma simples amizade - já que eu mesma nunca havia reparado nisso, até que fui surpreendida pelo fato de eles estarem se 'conhecendo melhor'.
Nem eu nem o Kurt falamos mais sobre aquele dia, assumo que eu queria uma explicação sobre o que ele me disse ou estava prestes a me dizer, embora tenha uma ideia do que era. Meu coração acelerava toda vez que eu lembrava disso. Nós nos aproximamos muito durante esse tempo, o Joey me dava os melhores conselhos de todos e ele estava quase namorando a Flora, o Thiago era meu melhor amigo e apaixonadérrimo (embora não admitisse para mim) pela Ana, que já tinha terminado com o suposto namorado gay. A Paula estava morando sozinha, já que os irmãos haviam conseguido uma bolsa de estudos em um dos melhores colégios de Nova York e o pai resolvera se mudar pra lá, após conseguir um emprego melhor. Como ela não vive sem mim (eu me acho, oi), resolveu continuar morando aqui, na casa da família.

- Nossa, quem morreu ? - perguntei após chegar na sala e ver a Flora com uma cara de enterro.
- Ninguém morreu... Ainda. - ela me respondeu sombria.
- O que aconteceu amiga ? - me sentei ao seu lado.
- Meus pais vão se mudar.
- Ei, tá querendo roubar a minha saída dramática ? - tentei fazer graça com a situação.
- Eu deixaria ela todinha pra você se pudesse.
- Em alguns meses você se torna maior de idade e seus pais são compreensíveis. Se você pedir eles te deixam aqui.
- É eu vou tentar...
- Quem diria eu estaria consolando ao invés de ser consolada... - falei em um momento de reflexão patético - Ainda bem que meus pais não vão se mudar tão cedo, eu não aguentaria ter que deixar tudo pra trás de novo...
- É... Ainda bem... - eu ia pergunta-la se ela estava escondendo mas alguma coisa de mim, a Flora me pareceu muito arrasada com o que eu disse. Decidi deixar pra mais tarde já que o professor de Biologia havia entrado na sala, sendo seguido pelos
Harcourt. Essa aula passou rápido, talvez tenha sido porque eu passei a aula toda preocupada com a Flora que fungava ao meu lado, a Paula e a Ana chegaram na segunda aula.
Eu estava fazendo meus exercícios de inglês, quando a inspetora chega me chamando para ir à sala do diretor.

- Fala sério, esse homem só pode amar você, gatinha.
- Ew, credo
Thiago. Vira essa boca pra lá !
- O que será que ele quer falar com você, amiga ? - Paula.
- Não sei, mas é melhor eu ir logo ver antes que essa mal amada da inspetora me coma com os olhos.

Para a minha imensa, gigante, absurda surpresa não foi o diretor quem eu encontrei lá.

- Mãe ? Pai ? O que vocês estão fazendo aqui ?
- A gente precisa falar com você, meu amor. É melhor você se sentar. - minha mãe falou.
- Pode falar. - não me sentei - Aconteceu alguma coisa ?
- Aconteceu. Você sabe que nós nos mudamos pra cá por culpa do nosso trabalho, certo ? - meu pai começou.
- Certo.
- E isso vem acontecendo desde que a gente te tirou do colégio interno... - papai.
- Eu sei...
- Você sempre veio junto com a gente e nunca reclamou. - mamãe
- Será que vocês dois podem parar de me enrolar e ir direto ao assunto ? - eu já estava impaciente.
- Nós vamos nos mudar.
- O QUÊ ? - eu berrei.
- Semana que vem nós iremos para a Austrália. - minha mãe falou, ignorando o meu surto.
- Vocês não podem fazer isso comigo. NÃO PODEM. - meus olhos começaram a marejar.
- Nós estamos aqui há quase três meses, Bia. Não vai ser tão difícil deixar essa vida pra trás.
- Vocês nunca me entendem, nunca pensam em mim. Não vai ser difícil pra vocês que só se preocupam com o trabalho. Mas e eu ? E os meus amigos ?
- Você pode fazer outros lá.
- Pra depois ter que me mudar de novo ? Não obrigada.
- Você já sabe como é a nossa vida, não deveria se envolver com pessoas que você sabe que no fim terá que abandonar.
- ESSA É A VIDA DE VOCÊS. EU NÃO VOU ME MUDAR, EU NÃO VOU IR EMBORA E DEIXAR TUDO PRA TRÁS OUTRA VEZ.
- Nós já decidimos. Iremos embora na quarta, agora volte para a sala.

Não disse nada, apenas saí batendo as portas enquanto lágrimas pesadas desciam dos meus olhos. Eles não podiam fazer isso comigo, me forçar à abandonar as pessoas que eu amo mais uma vez. Primeiro em Londres, agora aqui.
Não voltei para a sala, chegar lá chorando desesperadamente chamaria muita atenção, fui em direção ao jardim do colégio e sentei ali, abraçando meus joelhos. Meus soluços estavam ficando cada vez mais altos e mais constantes, eu não conseguia parar de chorar. Só de pensar em deixar a Ana aqui, ficar sem os cuidados da Paula, sem os conselhos do Joey...
Agora eu entendi porque a Flora ficou tão estranha quando eu falei que não mudaria, ela já sabia disso, antes de mim. Me peguei pensando em como seria a minha vida longe dali. Eu poderia afirmar completamente que eu nunca mais seria feliz de novo. Eu não teria mais a minha Flora, a minha Ana, a minha Paula, o meu
Thiago nem o meu Joey comigo. E o Kurt, ah o Kurt... Como eu poderia pensar em sorrir sabendo que eu não veria mais aquele sorriso que eu tanto amava ? Como eu iria me imaginar em um lugar sem ele por perto ? Tudo que eu precisava estava ali, em Dallas. O Kurt estava ali...
Tudo ao meu redor girava, eu estava tonta, a minha cabeça parecia que ia explodir, logo, nada mais fazia sentido pra mim. Naquele momento, a minha cabeça era dominada por um único sentimento e isso me assustava. E foi aí que eu percebi, ele era como uma droga extremamente viciante. Era um mal necessário, era o MEU mal necessário. Eu havia acabado de ter uma confirmação. Um sentimento crescia dentro de mim traçoeiramente, e ele contrariava todos os meus princípios anteriores. Como uma coisa que só se torna notável quando é irreversível. Era fato, eu não tinha como escapar. Eu estava completa e terrivelmente apaixonada por Kurt
Harcourt. E eu só descobri isso no momento em que surgiu a confirmação de que eu o perderia. Era trágico, irônico e revoltante, eu iria perder algo que nunca tive. Estava chorando pelo fim de uma coisa que nem chegou a começar.
Kurt's POV ON
Bia havia saído para a sala do diretor e ainda não tinha retornado. Eu, meus irmãos e as meninas fomos procurá-la assim que o sinal tocou. A Flora tentava nos convencer de que talvez fosse melhor deixá-la sozinha, já que ela não havia voltado. Às vezes, ao olhá-la, eu tinha a impressão de que ela sabia mais do que o resto de nós, mas ignorei isso e continuei em busca da Bia. Tudo o que eu queria era vê-la, para fazer esse nó que se formou em minha garganta ir embora. Poderia ser ridículo até. Mas eu estava tão preocupado.
Fomos em direção ao jardim do colégio, lugar que ficava completamente vazio no intervalo e ali a encontramos. Ela estava sentada em baixo de uma árvore, abraçando seus joelhos com o olhar perdido. Corri em sua direção e a cada passo que eu dava, percebia que seus olhos estavam vermelhos e seu rosto enchado. Ela havia chorado e tudo o que eu queria fazer era bater no filho da mãe que havia feito a minha pequena chorar. Me sentei ao seu lado e assim que ela percebeu a minha presença, me abraçou fortemente. Encostou seu rosto entre o meu pescoço e meu ombro, começando a chorar. O seu choro não cessava, comecei a acariciar seus cabelos em uma tentativa inútil de consolo. Logo todos nós estavamos sentados em uma espécia de roda, esperando que a Bia se acalmasse e nos contasse o que aconteceu.

- Você sabia né, Flora ? - ela falou depois de longos minutos silenciosos.
- Aham. Meus pais me contaram ontem. - ninguém entendia o que as duas estavam falando.
- Por que... Você... Não... Me... Contou ? - ela perguntou, meio aos soluços que ainda teimavam em aparecer.
- Desculpa. Eu sabia que eles viriam aqui te contar e você estava tão feliz que... - a Flora não conseguiu terminar de falar e começou a chorar.
- Será que dá pra vocês compartilharem esse assunto com a gente também ? - Ana Juli e sua eterna sutileza. Bia respirou fundo antes de começar a falar.
- Quando eu fui para a sala do diretor, encontrei meus pais lá.
- O quê eles estavam fazendo aqui ? - Paula perguntou tão surpresa quanto o resto de nós, com exceção da Flora.
- Eles vieram me dizer que... - apertei a mão dela, como se isso fosse dar forças para ela continuar - Nós vamos nos mudar.
- O QUÊ ? - todos berraram, exceto eu e a Flora. Ela, porque já sabia e eu porque não tinha forças. Eu não podia perdê-la, eu não queria que a Bia mudasse.
- Não acredito que eles vão fazer isso. - Ana Juli exclamou com os olhos brilhantes. Daqui a pouco começaria a chorar e eu estava com muita vontade de fazer o mesmo.
- Você não pode se mudar daqui, gatinha. Como vai ser a nossa vida sem você ? - Thiago.
- Como eu vou viver sem vocês ? Eu construi uma vida aqui. Apesar do tempo, eu não vivo sem vocês, eu não sei ser feliz sem vocês. - ela disse e olhou para mim. Talvez esperando alguma reação.
- E quando você vai ? Pra onde ? - perguntei.
- A gente vai para a Austrália, daqui a uma semana. - uma semana ? Então eu só tinha uma semana com ela ao meu lado ?
- Você não pode ir. - Paula.
- Não pode mesmo. - Joey concordou.
- E se meus pais conversassem com eles ? Você podia ficar lá em casa. - Ana deu a ideia, logo um sorriso de canto apareceu em minha boca, só de pensar nessa possibilidade. Era uma boa saída, não era ?
- Eu não sei. Eles pareciam irredutíveis e meu pai falou que 'Não vai ser tão difícil deixar essa vida pra trás'. - ela falou imitando a voz de seu pai, deixando sua cabeça cair em meus ombros mais uma vez.

Eu não estava me entendendo. Minha cabeça estava dolorida e o meu coração batia rapidamente. Eu não imagino a Bia longe de mim. Eu quero tê-la ao meu lado, poder cuidar dela, fazer com ela se sinta bem, mas perto de mim. Em um piscar de olhos, era como se eu finalmente percebesse algo que eu sempre ignorei. Oh, céus. Eu a amava. Eu não poderia deixá-la ir embora, não agora. Não sem antes dizer o que sinto, não sem antes sentir o gosto de seu beijo e a sensação de ter o seu corpo junto ao meu. Um primeiro beijo que se tornaria o último, um próximo abraço que viraria só uma lembrança, um sorriso que só ficaria em fotografias. Eu faria de tudo para que ela não precisasse se mudar com os pais, eu vou arrumar uma ideia e a Bia não irá embora daqui, mas se ela for... Eu espero, sinceramente, que precise e queira voltar.
Kurt's POV OFF



Eram dez horas da noite e eu estava terminando de me arrumar. Não sei como as meninas me convenceram a sair hoje. Bem, na verdade eu sei sim.
Os Harcourt iriam tocar em um barzinho, perto da casa da Flora. Eles estavam completamente animados e felizes, eu me sentia mal por não estar conseguindo sentir o mesmo. Os dias após eu ter descoberto que iria mudar simplesmente não existiram na minha vida. Eu parecia um zumbi ambulante, pálida com olheiras... Eu não vivi, passei por eles. Não comia, não dormia. Os meus amigos tentavam me animar, mas isso era impossível. Na verdade era impossível eu sorrir, até que recebi um bilhete do Kurt. Bilhete o qual eu estou lendo agora, enquanto espero a Paula terminar de tomar banho.

'Por favor, Bia. Eu quero estar lá no palco e te ver na plateia. Me dando forças, me apoiando. Você não tem ideia do quanto é especial pra mim. Te ver desse jeito me deixa pior do que eu já estou. Então coloque o seu sorriso lindo no rosto, fique mais linda do que já é e venha ouvir a música que eu escrevi pra você.
Com amor, Kurt.'


- Você realmente não cansa de ler isso. Só porque ele quase se declarou nesse papel, não significa que você deva furar o pobrezinho de tanto que você ler, fofura.
- Cala a boca, Paula. As meninas já foram pra lá, por sua culpa a gente vai chegar atrasada. - falei dando um tapa leve na cabeça dela, enquanto me dirigia ao banheiro, para terminar minha maquiagem.
- Seria tão engraçado ver o Kurt nervoso, pensando que você não vai. Pra quê que eu vim me arrumar aqui mesmo ? - ela falou em tom de lamentação.
- Porque você me ama, está usando minhas roupas e não vive sem mim. Nossa, como você é má, tadinho dele.
- Eu ainda me surpreendo com a sua capacidade de mudar de assunto rapidamente.
- Para de falar e anda.

Nós duas estávamos simples e muito bonitas. A Paula usava um vestido meu, branco que caiu perfeitamente em seu corpo (melhor do que em mim, devo admitir) junto com uma sandália de salto e tiras, rosa que contrastava perfeitamente com os detalhes do vestido. Seus cabelos estavam presos em um coque desarrumado, seu make estava simples: gloss, rímel e blush.
Eu optei por ir de calça. Escolhi uma blusa preta que havia comprado em Paris, com detalhes prata, justa no busto e soltinha depois dele; minha calça skinny preta e botas de salto e cano alto. Meus cabelos estavam cacheados e soltos, caindo em minha cintura, meus olhos estavam bastante marcados e minha boca possuia um tom rosado. No meu pulso, a pulseira Tiffany's que meu irmão mandou pra mim em meu último aniversário.

- Aonde você pensa que vai, Bia ? Hoje é noite de família. - minha mãe falou quando a gente desceu.
- Quando a nossa família for realmente uma família, eu acredito nisso.
- Você não vai sair.
- Veremos.
- Obedece sua mãe, Bia. - meu pai falou.
- Vocês já acabaram com a minha vida, não vão acabar com a minha noite. - bati a porta e fui em direção ao New Beatle rosa que me esperava já em frente à minha casa.
- Você não deveria falar com eles desse jeito, Bia. Eles são seus pais.
- Paula, por favor não banque a responsável. Pelo menos não agora. Eles mereciam muito mais que isso. - falei irritada
- Tudo bem. Mas eu realmente preciso dizer o quanto esse carro é podre. Eu nunca vou dirigir isso.
- Primeiro, eu nunca deixaria você dirigir o meu mais novo bebê e segundo só porque ele é rosa, não significa que é podre. Po, olha que gracinhaa - falei manhosa, no meu mais novo momento patricinha.

O barzinho estava completamente lotado, parece que a notícia que a banda de três dos meninos mais populares da escola iriam tocar ali atraiu grande parcela dos estudantes da Eagle College High School. Avistei as meninas em uma mesinha, perto do palco.

- Heeey, amores.
- Fala, fofinha. - a Ana e a Flora responderam juntas.
- Oi pra vocês também.
- Uau, Paula. Veio pra arrasar corações, hein. - Flora disse, fazendo com que todas nós rissem.
- Claro, os corações das minhas amigas já estam arrasados. Eu que não vou virar castiçal.
- Por que você viraria castiçal, Paulazinha ? - Thiago perguntou, chegando por trás dela junto de seus irmãos, nos assustando.
- Nenhum motivo aparente. - dei de ombros, torcendo para que eles acreditassem.
- Oi, amor. - Joey falou dando um selinho em Flora. Selinho esse que se tornou um beijo bastante... Ern... Quente.
- Hey, nos ainda estamos aqui. - Kurt disse, se sentando ao meu lado - Que bom que você veio, pequena.
- O que é importante pra você é importante pra mim. - falei e dei um beijinho em sua bochecha.
- Então, estão nervosos ? - Ana.
- Um pouco, a plateia é grande hoje. -
Thiago, que estava do lado dela respondeu.
- Eu já pude contar umas vinte atiradas do colégio aqui. Todas elas bolando planos para agarrar um de vocês. - Ana Juli ciumenta mode on.
- Ninguém vai agarrar o meu Joey. - Flora falou, se metendo na conversa dos dois.
- Ciúmes, Montagner ? -
Thiago provocou minha prima, arqueando uma sombrancelha.
- Só se for nos seus sonhos,
Harcourt. - ela respondeu.
- O papo está ótimo, mas está na hora da gente tocar. - Joey falou ao ver um senhor anunciar a atração da noite.
- A nova música é pra você. - Kurt sussurrou em meu ouvido, deu um beijo em minha testa e foi ao palco, em direção aos irmãos.

Eles começaram tocando a mesma que tocaram para mim, seguida por uma romântica que só a Ana conhecia. Opa, sinto algo relacionado ao
Thiago nisso.
Para ser sincera não reparei muito nos covers que eles tocaram, minha cabeça estava longe dali. Mais precisamente na Austrália, o que será que eu tinha que fazer para meus pais perceberem que eu preciso continuar aqui ?
Uma melodia desconhecida por mim começou a tocar, me despertando e eu fiquei prestando atenção na letra, sem desgrudar meus olhos do Kurt.

Você, é como dirigir em um domingo
Você, é como descansar na segunda
Você é como um sonho, um sonho realizado

Eu, era apenas um cara que você nunca reparou
Eu, só tentando ser honesto comigo mesmo 
Com você, com o mundo

Você pode pensar que
Eu sou um idiota por me apaixonar por você

Então o que eu posso fazer
É provar a você
Que isso não é tão difícil  

Dê uma chance ao amor
Só mais uma vez
Porque você sabe que estou do seu lado
Dê uma chance ao amor
Só mais uma vez 


Quando a música acabou, o Kurt olhou para os meus olhos e percebeu que eu estava chorando. Aquela música tinha sido feita para mim, então ele também me amava. Certo ? Eu queria dar uma chance ao amor (e se eu entendi bem a música, ao nosso amor), mas isso não era possível. Droga de vida, droga de pai e mãe.
Por que tudo parece tão mais difícil agora que eu sei que o amo e que sou correspondida ?
Eu queria esperar ele descer do palco, abraçá-lo fortemente e beijá-lo pela primeira vez. Como em todos os sonhos que eu tive, realizando a minha maior vontade. Mas, inconscientemente, minhas pernas me levaram para o lado de fora do bar em direção ao meu carro. Eu não conseguia olhar pra ele sem pensar que em quatro dias eu iria embora. Eu não podia me apaixonar mais do que eu já estava. Eu não podia fazê-lo sofrer mais do que ele sofreria.

- Bia. Espera. Tá indo pra onde ? - Kurt falou ao me ver do lado de fora do bar. Quando viu que eu estava chorando mais compulsivamente que antes, completou. - O que foi ? Por que você tá chorando, pequena ? Não gostou da música ?
- Não é isso. A música é linda. Ninguém nunca tinha feito isso antes.
- Foi a melhor forma que eu encontrei pra te dizer o que eu sinto. - ele falou se aproximando de mim.
- Não, Kurt. - me afastei.
- Por que ?
- Porque eu... Eu não gosto de você da mesma forma. - falei desviando o meu olhar de seu rosto.
- Isso é mentira.
- Ah, é ? E como você sabe, então ? - tentei ser irônica.
- Eu percebo a forma que você se arrepia quando eu falo em seu ouvido, o quanto você fica corada se eu te elogio, quando você não tira os olhos de mim e a forma com que você disfarça quando eu percebo. Eu sinto que o meu sentimento por você é correspondido, Bia. Não tente enganar a si mesma.
- Eu não estou me enganando. Se eu falei que não gosto de você dessa forma é porque eu não gosto. Que droga !
- Então fala isso olhando em meus olhos. - ele segurou meus braços, me colocando em sua frente, fazendo com que eu olhasse em seus olhos - DIZ !
- Eu não... - comecei - Eu não gos... QUE MERDA ! Eu gosto de você tá legal ? EU JÁ TE AMO, KURT. Como eu nunca amei ninguém na minha vida. Amo tanto que chega doer. E isso me assusta. - senti meu rosto molhar. Merda de lágrimas.
- Ah, eu te amo tanto pequena. - ele falou aproximando seu rosto do meu.
- Kurt... - murmurei.
- Você quer isso tanto quanto eu. - ele falou e segundos depois eu senti seus lábios sobre os meus. Ficamos assim, durante alguns segundos e quando ele tentou aprofundar o beijo, eu me afastei.
- Não. - consegui abrir a porta do carro e quando estava prestes a entrar, ele acordou de um transe e se aproximou de mim.
- Por favor, Bia.
- Eu vou embora na quarta, Kurt. Nos entregarmos ao que a gente sente agora só vai piorar a situação. Desculpa. - lhei dei um selinho e entrei, saindo com o carro o mais rápido que pude.

Fique olhando o Kurt através do retrovisor, até que o perdi de visão. O caminho até a minha casa foi mais longo do que parecia ser, eu não conseguia parar de chorar e por um milagre não aconteceu um acidente. Minhas mãos tremiam como eu nunca havia visto, ele me amava. E isso era tudo o que eu conseguia pensar.

- O que aconteceu, minha filha ? - minha mãe ainda estava acordada, provavelmente e milagrosamente me esperando.
- Minha família me aconteceu. Seu estúpido emprego me aconteceu. Obrigada por estragar a minha vida de uma vez por todas, mamãe.





Acordei com uma tremenda dor de cabeça e uma ardência nos olhos, resultante da noite anterior em que tudo o que sabia fazer era chorar. Os pequenos raios de sol que me acordaram, marcavam o início de mais uma dia depressivo e angustiante em minha vida. Era mais um dia a menos.
Sabe quando você quer tanto uma coisa e a mesma te parece mais distante do que a lua ? Era assim comigo. Eu estava prestes a ir embora, mas tudo o que eu queria era ficar. E isso só aconteceria por um milagre, daqueles bem grandes sabe ?
As coisas deveriam ser mais fáceis. Quer dizer... Eu vivo nessa de mudar desde os meus 14/15 anos de idade e nunca foi tão difícil quanto agora. Eu já morei em mais de seis países, já conheci os tipos mais diferentes de pessoas que você possa imaginar, mas foi aqui em Dallas que eu conheci a mim mesma. Eu me descobri, me achei. Não existe outro lugar no mundo que vá me fazer tão bem quanto esse, não existem outras pessoas no planeta que irão me fazer mais feliz do que os meus xuxuzinhos daqui...
Olhei para o lado e vi que o meu relógio rosa de cabeceira, que eu havia ganhado do Thiago, marcava 10:32 da manhã. Meus pais já deveriam ter saído para arrumar os últimos detalhes da viagem, pois é, nem no domingo eles descansavam.
Desci em direção à cozinha, com a minha blusa surrada do Pateta, minhas pantufas do Scooby-Doo e um shortinho leve de dormir branco.

- Heey Anne. - ela era a governanta da casa. Fora indicada pela mãe da Flora, tinha 28 anos e uma grande preocupação comigo. Se ela não fosse apenas 11, quase 12 anos mais velha do que eu, as pessoas diriam que ela era a minha mãe, já que me tratava melhor do que a mesma.
- Pensei que não ia sair da cama, dorminhoca. - ela falou divertida, mas logo ficou com um semblante sério - Vai me contar por que chegou em casa ontem aos prantos ?
- Você sabe o motivo, intrometida.
- A mudança, seus amigos, eu sei. Você já me contou. Mas tem certeza que é só isso ?
- Tenho. - eu falei e ela me olhou de uma forma que dizia 'Desembucha logo, garota' - Tá, ok. Tem um menino também...
- E...
- Ele é lindo, me trata bem, é um dos meus melhores amigos e ontem ele me disse que também me amava.
- E isso não era motivo para você estar sorrindo ?
- Não, claro que não. Eu vou embora, Anne. Para a Austrália, do outro lado do mundo praticamente. Saber que ele também me ama, me assuta.

É definitivamente me assustava. Eu quase pirei quando finalmente admiti pra mim mesma que estava apaixonada pelo Kurt, imagina agora que eu sei que sou correspondida ?
É engraçado quando você pensa sobre o quanto mais fácil seria se a vida fosse de outra forma, mas ela infelizmente não é. Isso é triste, patético e revoltante. E eu adoro usar essas palavras para caracterizar a minha querida vidinha.
Por que tudo não pode ser, simplesmente, da forma que a gente deseja ? Coisa injusta.

- Você está fazendo tempestade em um copo d'água. - ela falou serena.
- Claro que estou. Afinal você amar uma pessoa e ter que deixá-la é algo simples. E quando envolve pessoas que você ama mais do que tudo fica mais simples ainda. - falei irônica.
- Você já cogitou a hipótese de pedir aos seus pais pra ficar aqui ? - ela me perguntou.
- Já.
- Quantas vezes ?
- No dia que eles me avisaram.
- Então é assim que você acha que vai conseguir o que quer ? Tentando uma vez e desistindo ?
- Eles pareciam tão irredutíveis em relação a isso... - comecei a murmurar, mas fui interrompida.
- Mas quando se quer realmente uma coisa, você vai atrás, Bia. Não importa o quanto pareça impossível, você simplesmente dá tudo de si pra tentar consegui-la. E você fez isso ?
- Não. - sussurrei.
- Tudo o que você fez foi ficar lamentando sem correr atrás para mudar essa situação. Você tem que parar de querer tudo nas mãos e do modo mais fácil. Tem que agir ao invés de pensar e reclamar. Tá na hora de você amadurecer.
- Vo-você tem ra-razão. - falei por fim, em um tom quase inaudível. Tentando conter as lágrimas que queriam cair, continuei - Eu vou falar com os meus pais sobre isso assim que eles chegarem. Vou mostrar o quanto vai ser difícil para mim dessa vez. Se eles realmente me amam, vão me deixar ficar.
- Poupe seu trabalho.
- An ?
- Alguém já fez isso por você.
- Como assim, Anne ? Você só pode estar louca.
- Minutos depois que você chegou, teve um menino aqui te procurando. Sua mãe disse que você já deveria estar dormindo e que não iria te encomodar, então ele pediu para falar com ela e o seu pai.
- E o que te faz acreditar que isso tem a ver com a mudança ?
- Você vai saber nesse momento. - ela falou e eu pude ver a minha mãe entrar na cozinha. Ela foi andando em direção ao escritório e eu a segui.

Meu pai estava sentado na cadeira dele, minha mãe me colocou sentada em outra cadeira acolchoada, só que de frente para dele, e logo se portou ao seu lado.

- Nós precisamos conversar, Bia. - papai
- O seu estado tem nos preocupado muito, minha filha. Você quase não come, não dorme, não sai. E quando sai volta aos prantos. O que tá acontecendo com você, meu anjo ? - mamãe perguntou. Por um segundo eu pude ver aflição e preocupação em seu olhar.
- Vocês sabem o que está acontecendo.
- Por que isso agora, Bia ? Você nunca havia reclamado antes. - meu pai falou surpreendentemente sereno.
- Porque eu sabia que isso era importante para vocês, eu nunca havia ficado tão próxima e dependente das pessoas como eu fiquei com os meus amigos daqui. Eu percebi que aqui é o meu lugar, aqui eu construir uma nova vida, uma segunda família e vocês estão me forçando a abandonar tudo isso. De novo... - suspirei.
- Ontem um amigo seu esteve aqui. - minha mãe começou.
- Quem ?
- Aquele que é nosso vizinho, o Harcourt.
- Qual dos três ?
- Acho que o nome dele é... Kurt. - minha mãe falou incerta do nome, nesse momento meu coração parou e por alguns instantes eu esqueci de respirar.
- E... O que ele queria ?
- Nos mostrar o quanto nós estamos fazendo mal à você. - minha mãe me respondeu, suspirando fortemente, em seguida.
- E o que ele falou ?
- Isso não importa agora. - meu pai falou rude, cortando qualquer vontade que eu tinha de saber as palavras do Kurt.
- O jeito que você está agora nos mostra que ele tem razão.
- Eu só queria poder ficar aqui. - murmurei.
- Nós não gostamos de te ver desse jeito, filha. Eu sei que durante todo esse tempo nós fomos péssimos pais, mas ainda assim somos os seus pais. Nós deveríamos te apoiar incondicionalmente e não fazer com que você cumpra esse papel em relação à nós dois. - mamãe disse e nesse momento nós duas já chorávamos, silenciosamente.
- Nós raramente estivemos presente em sua vida ou em sua formação, mas nós te amamos. Todos nós cometemos erros, então acho que já está na hora de começar a consertá-los. - papai
- Co-co-como a-a-assim ?
- Nós vamos para a Austrália, Bia. - ele disse e eu senti o meu último fio de esperança se partir - Mas você fica.
- Sério ? - provavelmente, os meus olhos devem ter começado a brilhar.
- Aham. Nós não queremos que você faça o mesmo que o seu irmão. - papai.
- O Lucas só quis viver a vida dele, ele não fez nada de errado. Eu que era certa demais para abandonar vocês. - falei, os meus pais nunca aceitaram a decisão do Luc de viver por 'si só'. Mas eu sempre o defendi, de tudo e de todos, agora não seria diferente.
- Isso já não importa mais. - meu pai falou, voltando a ficar sério.
- Mas tem uma condição. - minha mãe falou. Ótimo, claro que tinha uma condição, não seria assim de graça e do nada.
- Fala.
- Você tem até terça para encontrar alguém que possa morar aqui com você. Sozinha você não fica.
- Mas e a casa da Ana ? - perguntei, mesmo já tendo uma solução para a condição imposta eu estranhei esse fato.
- Essa casa já está no seu nome, não tem necessidade recorrer à sua tia. - ela me respondeu.
- Pode ser mais de uma pessoa ? - Perguntei com um sorriso fraco em meu rosto.
- Pode, desde que seja menina. - papai não é liberal. Percebeu né ?
- Então eu já sei o que fazer. Obrigada mãe, obrigada pai.
- Por que ?
- Por confiarem em mim e terem devolvido a minha vida. - abracei os dois.

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