segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O melhor sonho. Capítulo 2. parte 2

- Ah, vai Paula... Por favor. – eu estava parada na frente do meu armário, junto com a Flora, tentando convencer a Paula de ir morar com a gente.
- Mas a Flora já aceitou morar lá. Você não vai estar sozinha, fofinha.
- Ah, mas você conhece os meus pais. Eles vão dizer que se eu quero morar com ela, isso pode ser feito lá na Austrália e além do mais, eles confiam muito em você. – falei apelando e suplicando. No fundo, isso era verdade.
- Não sei. - ela falou simplesmente e eu me irritei.
- Se você não quer morar com a gente é só falar. - comecei a minha chantagem emocional, sendo acompanhada pela Flora.
- É verdade, Paula. Fala logo que não quer e ponto.
- Não é isso, amores.
- Então é o quê ? Eu pensei que você faria de tudo para que nós duas não nos mudassemos, mas eu vejo que estou enganada. - meus olhos lagrimejaram, já falei que eu sou uma excelente atriz ?
- É muito mais complicado do que isso, Bia. Você sabe que se dependesse só de mim...
- Mas depende só de você, caramba. - Flora a interrompeu indignada.
- Basta dizer, sim ou não.

Nesse momento os Harcourt e a Ana chegaram, só o Thiago e a minha prima sabiam da condição imposta pelos meus pais. Ah e a Flora, claro.

- O que tá acontecendo aqui ? - Kurt perguntou preocupado, ao me ver quase chorando.
- Ah Paula, não quer que eu e a Flora fiquemos aqui.
- Como assim ? - Joey.
- Não é assim, Bia. Para de drama. - Paula.
- Drama, drama. Você só fala isso, porque não é você que vai se mudar para o outro lado do mundo.
- Começa a chorar. - Thiago sussurrou em meu ouvido.
- Que ?
- Começa a chorar, gatinha. A Paula não suporta te ver chorando.
- Poxa, Paula. - minhas lágrimas começaram a correr livremente pela minha face e ela me olhou com uma cara preocupada.
- Você é a única que pode fazer a gente ficar. - Flora.
- Ah, vai Paula. - Ana e Thiago falaram juntos.
- É, Paula. Aceita logo o que elas estão propondo, mesmo que eu não saiba o que seja... - Kurt falou, fazendo todos rirem.
- Resumidamente, - Flora começou - os pais da Bia deixaram ela ficar com uma condição.
- Eu não posso morar sozinha. - completei.
- Chama a Flora. - Joey falou, como se tivesse descoberto a América.
- Eu já chamei.
- Ela não aceitou ? - Kurt perguntou, olhando diretamente para a Flora.
- Claro que sim, anta. Mas eu e a Kurt vamos nos mudar para o mesmo lugar... - ela respondeu de uma forma óbvia.
- Se vocês podem morar juntas aqui, também podem morar lá. - Thiago completou.
- Eu não quero ser o motivo de vocês não continuarem aqui. - Paula começou - Eu quero as minhas melhores amigas juntas de mim. Então, eu faço esse esforço.
- Faz ? - eu e a Flora falamos juntas, com um sorriso gigante.
- Sim, pode falar pros tios que a Paulazinha aqui vai morar com as duas.
- AAAAAAAAAAAH. - eu, a Ana e a Flora gritamos e pulamos em cima dela
- MOOONTINHO. - os meninos berraram e pularam na gente. Só para registrar, isso aconteceu no corredor do colégio.

Estávamos indo para a sala, quando eu comecei a andar devagar, ficando ao lado do Kurt.

- Obrigada, Kurt.
- Pelo que ?
- Se eu vou poder ficar, é por causa de você.
- Imagina.
- Você lutou por mim, mesmo quando eu havia desistido. Eu nunca vou esquecer disso. Nunca. - falei e o puxei para um abraço. Admito que não queria me soltar dele nunca mais.
- Agora a gente pode terminar o aquele assunto de sábado, né ? - ele sussurou em meu ouvido, fazendo com que eu me arrepiasse e o meu coração acelerasse.
- Sem dúvidas. - falei no mesmo tom.
- Hey, vocês dois. O professor já está na sala. - Paula.

As aulas passaram arrastadas e tudo o que eu queria era chegar em casa e avisar os meus pais. Quando o sinal tocou, sai correndo sem me despedi de ninguém. A Flora fez a mesma coisa, mas foi em direção à sua casa.
Cheguei em casa e os meus pais estavam com as malas prontas, estranhei, hoje ainda era segunda. Eles me explicaram que a viagem tinha sido adiantada e que eles e o Sr. e a Sra. Paiva partiriam hoje. Falei que quem moraria comigo seria a Flora e a Paula, fazendo com que eles suspirassem aliviados quando disse o nome da última.
Os quatro quartos principais da casa, eram do mesmo tamanho, então não houve problemas quando as meninas chegaram lá com as malas. Eu continuei no meu precioso quarto, a Paula no dos meus pais e a Flora no quarto de hóspedes, que ficava de frente para o meu.

- AI. - berrei após uma Flora descabelada se jogar em cima de mim, no sofá da sala.
- Eu amei o meu quarto. Nunca vi quarto de hóspedes mais bonito do que aquele.
- Quem bom, amiga. Agora dá pra sair de cima de mim ?
- Idiota. - ela resmungou e foi para o sofá do lado.
- Geeeeente. Aquele closet me mostrou uma triste realidade. - Paula começou a falar chegando na sala.
- Qual ? - perguntei.
- Eu sou pobre e não tenho roupa. Aquela merdinha é grande demaaaaaais. Do tamanho do meu antigo quarto. Estou bege. - eu e a Flora rimos da cara de indignação que ela fez.
- Larga de ser besta, Paula. - falei.
- Aproveita que tá em pé e atende a campainha. - Flora.
- Hey, eu me mudei pra cá, mas não virei empregada não valeu ?!
- AMOOOOOOOORES. - berrei quando os Harcourt e a Ana entraram.
- Viemos dar as boas-vindas para a Paula e a Flora. - Thiago falou.
- É, bem-vindas ao seu maior pesadelo. - Ana completou.
- Pesadelo ? - Flora perguntou confusa.
- É. Boa sorte.
- Por que boa sorte, Ana Juli ? - minha prima é maluca. Dessa vez não é de família.
- Elas vão precisar por estar morando com você. - ela me respondeu e eu lhe mostrei a língua.

Ficamos conversando na sala por algum tempo, até que a Flora quis mostrar o seu quarto pro pessoal. Estavamos deitados no tapete felpudo lilás, que ela havia levado, sem fazer nada até que eu comecei a reclamar.

- Ah, que tédio. Eu quero fazer alguma coisa.
- Dois. - Ana.
- Mas tem que ser algo divertido. - Thiago.
- Dois. - Ana outra vez.
- Algo beeeem legal. - Flora falou com uma cara maliciosa.
- Que tal se a gente brincar de... - comecei.
- De... - todos disseram juntos e eu continuei o que ia falar, com uma cara maliciosa.
- Sete minutos no paraíso.
 
- UOOOOOL. - Ana falou, com uma cara tão maliciosa quanto a minha.
- Oh, Eistein. Somos três meninos e quatro meninas. Alguém vai sobrar. - Joey sempre corta o meu barato.
- Verdade. - Flora suspirou.
- Vocês podem brincar. Eu organizo as coisas aqui. - Paula falou e o sorriso malicioso de todos os presentes logo voltaram - Meninas façam uma fila, Thiago você é o primeiro.
- Ok. - ele respondeu simplesmente. Antes de começar, eu fui até ele e sussurrei.
- A Ana vai ser a segunda. - qual é, o menino é o meu melhor amigo e ama a minha prima, eu tinha que ajudar né ?
- Obrigado. - ele sussurrou e eu voltei pro meu lugar. Pisquei pra Flora, que estava ao meu lado e ela continuou com o mini-plano-inventado-naquela-hora-para-ajudar-dois-lesados.
- Ana Juli, troca de lugar comigo. Quero ser a terceira.

Como havia sido combinado, o Thiago escolheu a segunda pessoa. Ou seja, a Ana. Eles foram para o closet da Flora, enquanto o Joey marcava os sete minutos no celular. A Paula já ia começar a escolher a próxima dupla e chamou o Kurt, que quando passou por mim sussurrou.

- Fica no lado esquerdo. - foi o que eu fiz, claro. Como o Joey e a Flora eram praticamente namorados, ele deixou os dois irem primeiro.
- Nooossa. A coisa tava boa lá dentro, hein. - falei, após ver a Ana e o Thiago sairem totalmente descabelados, amassados e com as bocas vermelhas.
- Ô se tava. - ela falou se abanando e com um sorriso de dar medo.
- Ok, da próxima vez não esqueçam da proteção. - eu tive que fazer a minha gracinha, totalmente sem graça e em troca recebi o dedo feio do Thiago.

O tempo passou rápido.
Ok, sete minutos não é tanto tempo assim, mas quando você fica nervosa e deseja que aquele momente demore a chegar, ele vem mais rápido que tudo. Sério mesmo.
Enquanto eu e Kurt íamos em direção ao closet da Flora, Thiago berrou.

- A coisa vai pegar fogo ali dentro.
- É, tava na hora desses dois se pegarem já. - minha prima falou, fazendo com que eu corasse.
- Realmente. - Kurt falou baixinho, mas mesmo assim eu ouvi.
- Sete minutos, amores. Não façam nada que eu não faria. - Flora disse e fechou a porta.
- Ou seja, a gente pode fazer tudo. - Kurt falou e nós rimos.
- Bia / Kurt. - falamos ao mesmo tempo.
- Fala. - juntos de novo.
- Você primeiro. - juntos again.
- Não fala você. - adivinha ? Juntos !
- Tá legal, eu falo. - ele disse e eu balancei minha cabeça afirmando - Aquele dia lá no bar.
- Sei...
- Você disse que me amava.
- É, eu disse. - agradeci mentalmente o fato de estar escuro, assim ele não pode ver o quanto vermelha eu fiquei.
- Eu também disse que amava você.
- E eu falei que a gente não podia ficar junto.
- Porque você iria embora.
- Mas agora eu não vou mais...
- Então...

Ele foi se aproximando e eu fui me esquecendo de respirar. Cada vez mais próximo de mim, os seus lábios, seu corpo. Quando ele colocou a mão em minha cintura e me puxou para mais perto dele, meus olhos se fecharam e inconscientemente levei uma de minhas mãos ao seu peito e a outra coloquei em sua nuca. Sua respiração quente em meu rosto, estava tão descompassada quanto a minha. Ele mordeu meu lábio inferior de leve, provocando, depois depositou beijinhos em meu pescoço subindo para o meu rosto, o meu nariz e finalmente a minha boca.
No momento em que nossas línguas se encontraram, foi um choque. De uma boa maneira é claro. Nosso beijo era calmo, devagar. Havia uma mistura de sentimentos, amor, vontade, desejo. Era como se esse beijo fosse tudo que a gente queria desde muito tempo. O que era verdade, pelo menos pra mim.
Kurt me puxava mais para si (como se fosse possível, tendo em vista o quanto nós estávamos grudados) e o beijo ia aumentando de velocidade. Subi a minha mão, que estava em seu peito, arranhando levemente suas costas e percebi que ele havia se arrepiado. Sorri no meio do beijo, quando vi que eu exercia sobre ele o mesmo poder que ele tinha sobre mim.
Por muito custo nos separamos, como se tivessemos adivinhado que o tempo tinha acabado. Quando Joey abriu a porta do closet, nós dois estávamos nos encarando e sorrindo.

- Pelo visto a coisa foi boa aqui também, cambada. - ele berrou, se aproximando dos outros.
- Agora que eu te tenho, não vou te perder. - Kurt falou em meu ouvido, quando sentamos no círculo que estava formado no chão.

A noite foi passando agradavelmente, a Paula já tinha ido dormir já que (nas palavras dela) naquele quarto só tinha 'pseudo-namorados'. Os Harcourt não iriam dormir lá, mas como nós erámos vizinhos não existia 'hora de ir pra casa'.
Não sei como, mas eu acabei dormindo no colo do Kurt. Ele me levou para o meu quarto, me colocou na cama, deu um beijo em minha testa e falou.

- Eu vou fazer com que isso seja eterno. Vai durar para sempre, pequena. Você vai ver.
- Kurt... - falei sonolenta, segurando suas mãos (sim, eu estava praticamente dormindo, mas se é algo relacionado ao Kurt eu não consigo me desligar completamente).
- Tô aqui, pequena.
- Não se esqueça disso.
- Não vou. - então ele me deu um selinho e eu apaguei. Não me lembro se sonhei, no fundo eu não precisava. Um dos meus maiores sonhos estava se realizando, eu teria o Kurt. Eu o teria só para mim e, como ele mesmo disse, para sempre.

- BOM DIA FLORES DO DIA. - berrei ao chegar na cozinha e, em seguida, dei um beijo na Flora e na Paula.
- Parece que alguém acordou feliz hoje. - Paula falou enquanto catucava a minha barriga.
- Super, hiper, mega, duper feliz. - falei com um sorriso de orelha à orelha.
- Que ótimo, agora é que eu viro castiçal. OBA. - ela falou desanimada.
- Ain, amiga. Se meu irmão estivesse aqui eu deixaria você ficar com ele. - falei piscando.
- Ótimo consolo, saber que eu poderia ter aquele DEUS que você chama de irmão, mas não tenho. - ela falou toda dramática.
- Deixa eu falar, deixa eu falar. - Flora nos interrompeu com mais um momento foquinha on, dela.
- Fala, fala. - sim, eu estava feliz, entrei na dela e me fiz de foca também !
- O Joey... - ela começou a fazer suspense.
- Sim... - entrei na dela, tudo bem que esse tipo de coisa me irrita, mas...
- Ele...
- Para de coisa e fala logo, imbecil. - A Ana e sua eterna sutileza, acabou de entrar na cozinha e já foi distribuindo os seus famosos tapas na cabeça da Flora.
- Bom dia, prima. - falei
- Fala logo, Flora. - Paula.
- Tá, tá. Nem posso fazer suspense mais, que coisa. - ela falou se fazendo de ofendida, mas não demorou muito para contar - O JOEY ME PEDIU EM NAMORO. AAAAAAAH.
- Que lindo, amiga. - Paula e eu falamos juntas - Parabéns, eu sei que esse era o seu maior sonho. - ela continuou, zoando com a cara da Flora pra variar.
- Ótimo, a mais safada de nós três tá namorando e euzinha aqui, neeca. - Ana falou, levando um beliscão da Flora.
- A mais safada é a Paula, ela já deu. - eu falei e todo mundo riu. Até a Paula.
- Se as coisas continuarem como estão eu não vou a única a fazer isso. - ela falou pensativa e foi se arrumar para a escola, gesto imitado por todas as outras. Depois de comer nós saimos em direção a escola, o dia seria longo e eu quase não veria o Kurt depois da nossa segunda aula, já que o time estava se preparando para o campeonato que iria ter. Eu não entendia o por quê de começar a treinar agora, já que o campeonato só aconteceria no final do mês, mas quando eu perguntei para o Kurt ele, sorrindo, me respondeu que assim as chances de trazer a taça para mim (sim, repito. Para a minha pessoa, Bia Almeida) seriam maiores. Eu suspirei, sorri e lhe dei um selinho. Ah, cara. O que eu fiz para merecer alguém assim ? 

Ok, eu estou uma pilha de nervos. Fato, fato, fato.
Qual é, cara ? É uma viagem para a Suíça. Su-í-ça. Tudo bem que já dei, praticamente, uma volta no mundo por causa dos meus pais, mas eu nunca fui pra lá. Dá um desconto, beleza ?!
No primeiro dia dessa semana, o diretor reuniu os terceiros anos e avisou que as turmas competiriam entre si pela viagem.
O sorriso encantador, que convence qualquer um de fazer tudo do Kurt o tornou o líder da turma. Lógico que os seus irmãos também tomaram a frente para organizar as coisas da gincana, assim como a gente.
O primeiro desafio foi super fácil. Um jogo de futebol entre os meninos das turmas. Não precisa nem dizer qual turma ganhou, certo ?
Nós tínhamos o capitão do time de futebol da escola, o artilheiro e o primeiro goleiro em nossa turma. Começamos em primeiro lugar na 'disputa'. A primeira turma eliminada foi a turma da Susy (uma das meninas mais fofoqueiras da escola, que sabe tudo de todos), o 3ºD.
O segundo desafio, foi mais equilibrado e quem ganhou foi a turma da vaca da Veh, o 3ºC. Era uma competição tipo ginástica artística, não sei explicar muito bem. Só sei que tinha que dar cambalhotas, estrelinhas e aquelas outras palhaçadas que as líderes de torcida fazem.
Resultado, 3ºA eliminado, disputando a final a minha turma e a da Veh.

- Ok, todos animados ? - o diretor perguntou e recebeu vários gritos e 'uhuls' dos alunos. Todos os terceiros anos estavam ali, até as turmas de quarto, segundo e primeiro. - O desafio hoje será um pouco diferente dos outros. Equipes, escolham um representante.

Entrei em uma espécie de transe, enquanto pensava em como seriam estas provas. Despertei, quando a Ana chamou o meu nome e pude perceber que a Veh já estava no palco. Ótimo, tinha que ser a aspirante a Paris Hilton, só para aparecer.

- Então, o que você acha, Bia ? Bia ? BIA. - Ana Juli me chamou.
- Ern... O que eu acho do quê, exatamente ? - perguntei corada, todos da turma estavam olhando para mim.
- Ser a nossa representante nessa prova, oras. - Megan e sua eterna sutileza.
- O QUÊ ? - gritei assustada - Não, obrigada.
- Por que não, Bia ? - Kurt me perguntou, olhando em meus olhos.
- Porque... - oras, não tinha explicação. Eu não queria e ponto. Mas é claro que eu não falaria isso para ele.
- Ah, vai Bia. Por favor. - ele insistiu olhando para mim com cara de cachorro que se perdeu em mudança, sendo imitada por seus irmãos e minhas amigas.
- Por que logo eu ? Manda a Paula, ela é a mais inteligente de todas. - falei em um tom óbvio.
- Acontece que a gente não sabe se eles vão querer algo que exija inteligência. - Paula me respondeu e eu olhei para ela indignada.
- Como é que é, colega ? Só me chamaram porque a prova pode não 'exigir inteligência' ? É isso ?
- Não, Bia. Para de complicar as coisas, só aceita e pronto.

Sabe aquele sorriso que sempre te convence do Kurt que eu falei ? Então. Ele me deu um desses e eu, igual uma tonga, cedi. Nesse momento estou no palco, bem ao lado do diretor escutando as suas instruções e odiando aquele sorriso galanteador.

- Primeira parte do desafio. - ele começou - Como a nossa escola, no último ano, recebeu alguns intercambistas, nós compramos algumas coisas de países diferentes, para juntar com a nossa cultura. Eu quero que vocês vão à biblioteca e me tragam um livro em uma língua diferente. Prontas ? Vão.

Então nós duas saímos correndo, somente eu e ela. A escola estava um terror, completamente silenciosa e vazia. Me lembrei que eu nunca tinha ido à biblioteca do colégio, logo não sabia onde ficava. Isso poderia ter sido uma boa vantagem para a Veh, mas do jeito que aquela lá é burra e sem cultura, não deve ter ido nunca nesse lugar. Aposto que ela nem sabia que existia uma biblioteca aqui.
Cansada de correr sem rumo, me dirigi ao jardim interno do colégio, quando me lembrei que lá tinha um mapa e me localizei.
Caminho do laboratório, direita, direita, esquerda, sobe a escada, até o fim do corredor, esquerda, placa pratiada com letras douradas escritas 'Library'.
Entrei.
Estava tão vazia quanto o resto do colégio, a bibliotecária tadinha, estava dormindo sentada e babando. Que nojo.
Não sabia como era organização da biblioteca, então perdi quase meia hora só pra encontrar a parte 'Estrangeiros'. O primeiro livro que eu peguei, foi um que eu conhecia bem, havia recebido de um parente do Brasil. Sete Minutos, Paulo Coelho. Abri e li aquelas letrinhas com certa dificuldade, depois de tanto tempo sem falar/escrever a minha língua mãe, era óbvio que eu não conseguiria ler mais de um capítulo sem a ajuda de um tradutor.
Saí correndo em direção ao ginásio e encontrei a Veh, no centro do palco montado, dando um sorriso vencedor para cima de mim. Passei pela minha turma e lancei um olhar de 'desculpa', recebendo um sorisso da Flora e do Joey em troca.

- Como a Bia foi a última a chegar, vamos ver o livro dela primeiro. - ele falou e tomou o livro da minha mão - Muito bom, parece que a senhorita Almeida pegou um livro... - ele ficou em dúvida, tentando decifrar que língua era aquela e quando dei por mim já tinha aberto a minha boca.
- Isso é português, idiota. Quer dizer... Senhor Diretor. - completei assim que vi o olhar maléfico que o mesmo mandou em minha direção.
- Tarefa cumprida. - ele falou com desgosto - Entretanto, a sua concorrente chegou primeiro. Veh passe o seu livro.

Ela passou e quando ele abriu, seus olhos (e os meus também) se arregalaram, demonstrando o quanto nós estávamos incrédulos com o que ela pegou.

- Isso é um livro de ilustrações, senhorita. - ele falou.
- Claro né. A gente usa a língua escrita, o diferente dela é a desenhada. Ganhei, ganhei. - ela falou como se tivesse certa e quando eu dei por mim já havia aberto a minha boca. De novo.
- Ele queria um livro em outro idioma sem ser o inglês, sua animal. - falei e ela me lançou um olhar duro.
- Vitória do 3ºB. - aí a minha turma começou a comemorar, a Veh ficou tentando argumentar e eu sorri.

Provas desse tipo, fáceis, ocorreram o dia todo. No final, nós duas estávamos empatadas, três vitórias para cada uma.

- Ok, agora a prova de desempate. Todas as turmas poderão participar, menos o 3ºB e 3ºC. - o diretor começou - Vocês estão vendo aqui, em frente ao palco, duas urnas vermelhas, papéis e canetas. A decisão de qual turma ganhará a disputa está nas mãos de vocês. Basta apenas responder a seguinte pergunta: 'Se o Baile de Primavera do colégio fosse hoje, em quem você votaria para a rainha do baile. Bia ou Veh ?'

Eu estava agoniada, os professores já estavam contando os votos há mais de meia hora. O Kurt tentava me acalmar, mas eu estava uma pilha de nervos.
HELLOW, será que ninguém fazia ideia do quanto era importante para a minha pessoa ganhar essa prova ? Eu já nem estava mais me importando com a viagem, eu só queria ganhar da Veh, ganhar da Veh. Meus pensamentos foram interrompidos quando a inspetora foi me arrastando para o palco. O resultado havia saído, a Veh estava completamente confiante e me olhava debochada toda hora. Eu queria esganá-la bem ali e agora.

- A decisão do colégio foi unanime. Com 483 votos, contra 200 da segunda colocada, a vencedora é a ...

Ok, só para deixar claro aqui, eu preciso realmente ganhar essa viagem. Tipo, questão de vida ou morte.
Tá legal, nem tanto.
Mas eu juro para você, que se eu perder, vou ser capaz de matar um. Ou melhor, uma. Porque, cá entre nós, levar a Veh dessa para uma melhor seria um favor feito para a humanidade. Fala sério.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH. Eu não acredito que eu vou para a Suíça. - Paula entrou em casa berrando e comemorando.
- Eu ganhei da Veh, tem coisa melhor ? - falei me sentindo. Depois que o diretor anunciou que eu havia ganhado os 483 votos fiquei extasiada. Só sabia sorrir, gritar e pular.
- Eu daria tudo para ver aquela cara de vaca loser de novo. - Flora falou.

Agora, realiza a situação. Eu venci a Veh. A VEH, cara. Aquela que se acha melhor que todo mundo. Acho que dá para ter uma ideia do tamanho da raiva que ela ficou certo ? Pior do que perder, é perder para mim. Amei, amei, amei.

- Quando a gente vai ? - Paula perguntou. Ela era sem dúvidas a mais animada de todas.
- Depois de amanhã. - Flora respondeu dando de ombros e isso fez com que ela arregalhasse os olhos.
- Eu não tenho roupa de frio, preciso comprar. - ela falou.
- Isso significa... - Ana começou. Ah, claro. Acho que esqueci de te dizer que a minha prima também se mudou para minha casa. Agora nós quatro morávamos juntas. Tipo uma república. Tão lindo isso.
- SHOPPING. - berrei com os olhos brilhando.

Em menos de uma hora todas nós estávamos prontas. Eu estava usando um short jeans, uma blusinha regata azul, meu querido all star (também azul), meus óculos brancos e minha bolsa. Nada muito caprichado, era apenas uma tarde no shopping. Fomos no meu carro, ouvindo Britney Spears, diva forever.

- Cansei. - Ana Juli falou, quando sentamos em uma mesinha afastada, no McDonald's.
- Duas. - Falei. Nós fizemos a festa nas lojas, literalmente, meu pequeno Beatle iria voltar para casa hoje explodindo, tadinho.
- Eu vou lá pedir, alguém vem comigo ? - Paula perguntou.
- Eu vou querer um Quarteirão especial, com coca média e batata grande. - pedi.
- Eu vou querer o mesmo. - Ana falou e Flora foi de companhia.
- Como que você e o Thiago estão ? - perguntei, casualmente.
- Estamos indo. Não é nada muito sério... Ainda. - ela completou - E você e o Kurt ?
- Nós estamos indo também. Ficando sério, sabe ? Eu não fico com mais ninguém, nem ele. O melhor é deixar fluir. - falei.

Terminamos de comer e fomos embora, cheguei em casa super cansada, tomei um banho e fui dormi. No outro dia nenhuma de nós foi a escola, resolvemos ficar em casa para arrumar as coisas para viagem. A mesma seria feita em um avião particular (dos meus pais, que inventaram tudo isso óbvio), então não teria toda aquela burocracia dos aeroportos. A acomodação e as refeições seriam pagas e organizadas pelo colégio. Passaríamos uma semana lá.
Essa viagem prometia, eu tinha a sensação de que alguma coisa muito boa aconteceria lá na Suíça e isso fez com que a minha ansiedade só aumentasse.
 
A viagem ocorreu tranquilamente, nós pousamos no Aeroporto Internacional de Genebra no fim da tarde. Ainda era possível ver o pôr-do-sol.

- Eu jurava que Genebra era uma cidade fictícia. - minha querida prima falou, enquanto esperávamos um táxi.
- O quê Ana Juli ? - Paula perguntou.
- Ah, vocês sabem, poo. Cidade que não existe, inventada... - ela começou a explicar.
- Na boa, Ana. Cala a boca. - eu falei.
- Por que você pensava isso, inteligência ? - Kurt perguntou colocando um pouco de ironia em sua última palavra.
- Nunca viu ou leu O Diário de Uma Princesa não é ? - ela retrucou com outra pergunta em um tom bastante óbvio.
- Ana Juli... - Flora começou
- A cidade do filme/livre é Genóvia e não Genebra. - concluí o que ela falaria.
- Claro que não, é Genebra.
- Larga de ser anta, Ana Juli.
- Liga não, Flora. A inteligência da família deve ter ficado só comigo. - falei e fui seguida das risadas dos Harcourt e das meninas, exceto a da Ana. Essa aí ficava me olhando do tipo como-você-é-engraçada-e-como-eu-quero-te-matar. Maluca !

Os nossos professores acompanhantes nos levaram para um hotel, junto com toda a turma, assim que encontraram um mini-ônibus que pudesse levar todos ao mesmo tempo.
Nos acomodamos no Hotel Epsom e, pasmem, eu e as meninas ficamos na 'Suite Présidentielle'. Nada mais, nada menos do que a suíte presidencial.

- Se isso for um sonho não me acorde. - Paula começou - Nem nos meus maiores e mais impossíveis sonhos eu imaginei que estaria em uma suíte como essa.
- Ok, a gente espera o seu ataque acabar pra poder sair, tá ? - Flora falou irônica esperando ela se tocar e começar a se arrumar.

Nós decidimos não esperar o outro dia para começar a conhecer Genebra. Eu estava completamente pirada por estar ali, em uma das cidades suíças cheias de charme e surpresa.
Eu estava vestindo uma calça skinny escura da Ellus, minhas botas de camurça sem salto Manolo Blahnik e um casaco de cashmere preto Marc Jacobs.

- Bienvenue à Genève¹. - falei assim que saimos do hotel. Por ser uma cidade pequena, optamos por conhecer Genebra a pé mesmo.
- O quê que você tá falando, Bia ? Grego ? - Paula me perguntou.
- Francês, animal. - falei e dei um tapa de leve em sua cabeça.
- Desculpa se você sabe falar duas línguas e eu não. - ela se fez de ofendida e o tom usado fez com que todos rissem.
- Na verdade, eu falo quatro idiomas. Inglês, francês, espanhol e, embora esteja um pouco fraquinho nesse momento, português. - eu murmurei e todos olharam para mim um pouco ern... Espantados - Que foi ? Tenho culpa se meus pais se mudam mais do que sei lá o quê.
- Não tem não. - Kurt falou e me deu selinho.

Fiquei nas nuvens. Ok, exagero. Isso tem se tornado cada vez mais frequente.
Já perdi a conta de quantas vezes eu ouvi a Flora e a Ana dizerem que nós estamos parecendo um casal de namorados apaixonados e que não nos desgrudamos mais. E a Paula vai mais longe, ela diz que só falta um pedido oficial, mas que para ela nós estamos namorando. Hello. Preciso relembrar que o casal em questão sou eu e o menino que eu gosto ? Acho que não. Então, se fosse realmente desse jeito eu saberia. Céus. Alguém manda as minhas amigas pararem de me iludir, por favor !

Como nós tínhamos uma semana, e já havia se passado dois dias, nós decidimos 'dividir' o que restava para nós. Dois dias para conhecer a cidade historicamente, palavras da Paula, dois dias para se divertir e um dia inteiro para os casais.
Separados, cada um com a sua garota, como foi frisado fervorosamente pela Flora.

- Bonjour². - ouvi alguém falar para mim, enquanto esperava as meninas descerem junto com os meninos. O dia estava lindo, perfeito para um passeio no centro histórico de Genebra. Palavras da Paula. De novo.
- Bonjour. - respondi com um sorriso, assim que me virei e me encontrei com um par de olhos mais azuis que o oceano, cabelos loiros, alguns poucos (ok, muitos) centímetros maior do que eu, pele branquinha, rosto rosado e um corpo com um físico que dava inveja a qualquer outro homem.

Ficamos conversando por quase meia hora (sem contar o tempo em que eu me perdia em seu sorriso completamente branco&provocante), quando finalmente as pessoas que eu esperava chegaram ao hall do hotel, que era aonde eu estava.

- Au revoir³. - me despedi dando dois beijinhos em seu rosto e me aproximei do Thiago que me aguardava de braços abertos.
- Bonjour. - ele falou me dando um abraço apertado como sempre costumava fazer.
- Que isso, hein. Já tá até falando francês o meu gatinho gente. - sorri - Então, vamos ? Quero conhecer o Jet D'Eau.
- Você não vai brigar com a gente nem fechar a cara porque demoramos ? - Joey perguntou em um tom indignado e eu ri.
- Não. - respondi simplesmente.
- Claro que ela não vai. Pelo visto ela estava em boa companhia. - Kurt falou, olhou para atrás de mim aonde o Pierre (sim, esse era o nome dele) estava e saiu.

Ok, essa eu não esperava.
Levei uns segundinhos para deixar a ficha cair e quando eu finalmente consegui entender o que tinha acontecido, eu sorri. Sim, sorri. Kurt Harcourt estava com ciúmes de mim. Dá para acreditar ? Até pouco tempo ele não era de se envolver com as meninas, era do tipo que usava e jogava fora. Bem, se alguém sente ciúmes é porque ele gosta da outra pessoa. Certo ?

- VAMOS DE BONDE. - Ana Juli berrou no meio da rua, fazendo com que as pessoas olhassem para ela, que corou - Por favor. - completou mais baixo.
- Isso porque é um bonde. - Thiago falou indignado baixinho, esperando que ninguém ouvisse, creio eu. Mas adivinha só ? Eu ouvi. E adivinha o que eu fiz ? Ri.
- Do que você está rindo, anta ? - Flora me perguntou. Ai ai, é tanto amor.
- Nada, nada. - dei de ombros e entrei no bonde, me sentando ao lado do Joey.

Nossa primeira parada foi o Palais des Nations, um lugar que abriga exposições e no qual já aconteceram conferências históricas. Não sabia muita coisa sobre o que era exposto ali e, sinceramente, não busquei saber. Kurt ainda estava com a cara amarrada e não havia falado nada mais comigo.
Seguindo o roteiro da minha querida Paula, nós fomos ao famoso Flower Clock. Um relógio de flores com 5 metros de diâmetro, realmente bonito. Tiramos um trilhão de fotos, sem exagero, até que chegamos ao lugar que eu queria. O Jet D'Eau ou Jato D'Água, como preferir, a fonte mais alta da Europa. A vista do Lago Genebra com o Jet D'Eau a partir das ladeiras da parte antiga da cidade é fora de série.
Como em tantas outras vezes, eu me senti completa. Estava visitando um dos lugares que eu sempre quis ir, juntos com os meus melhores amigos.
Me virei pro lado e vi que Kurt estava afastado da gente então fui até onde ele estava.

- Un bonbon pour vos pensées. - falei.
- Hein ? - ele fez uma cara confusa muito fofa que me deu uma vontade enorme de beijá-lo naquele momento.
- Eu disse 'um doce pelos seus pensamentos'.
- Ah. - ele deixou escapar como um sussurro e voltou sua atenção para a fonte.
- Que foi, Kurt ?
- Nada.
- Por que você está desse jeito ?
- Eu tô normal, oras.
- Não tá nada. Você está assim desde o hotel. O que aconteceu ? - precisava manter a calma.
- Você sabe o que aconteceu, Bia.
- Ah, não. Não acredito que você está assim por causa do Pierre !
- Pierre, tá até íntima do garoto já.
- Não começa.
- Você nem conhece o menino e já fica toda cheia de sorrisinhos para ele. - ele falou e cruzou os braços.
- Eu não acredito que você está com ciúmes de mim. - falei dando um sorriso de lado e entrelaçando meus braços em seu pescoço.
- Não tô, não.
- Isso é o quê então ?
- Preocupação. Vai que ele é algum sequestrador, estrupador ou bandido ? - ele descruzou seus braços e finalmente os colocou em minha cintura.
- Ele trabalha na mesma empresa que os meus pais, só que na filial que tem na França.
- Mas Genebra não é na França.
- Jura ? - santa ironia - A França é praticamente aqui do lado, ele está aqui a negócios.
- Tanto faz. Mas ele me parecia muito novo. Tem quantos anos ? Uns 26 ?
- 21.
- O que vocês tanto conversavam ?
- Ele falava sobre os meus pais e eu só fingia que prestava atenção, oras. - ok, eu sei que isso é mentira. Mas certas coisas não precisam ser ditas. Fato !
- Sei.
- Agora você pode, por favor, parar de fazer esse biquinho antes que eu não me controle e te beije aqui mesmo ? - falei divertida e ele sorriu sapeca.
- Acho que você vai ter que fazer isso mesmo.
- Isso o quê ?
- Santa lerdeza. Isso... - ele falou e então me beijou.

Céus, será que eu nunca pararia de sentir essas borboletas em minha barriga ?
Os nossos beijos eram os melhores, o encaixe, a duração, o carinho. Nós nos desligávamos no mundo e, pelo menos para mim, era como se existisse somente eu e ele naquele lugar. Não tinha como evitar eu estava apaixonada, completamente apaixonada.

- POMBINHOOOOOOOOS. - alguém gritou perto da gente e é óbvio que, pela forma com que o fez, só poderia ser o Thiago - Vamos embora. Agora a Ana quer ir de ônibus. - ele completou e revirou os olhos.

Kurt tirou minhas mãos de seu pescoço, enquanto me dava um selinho, depois as segurou e fomos andando de mãos dadas até os outros.

¹ - Bem-vindos a Genebra :: ² - Bom dia :: ³ - Até Logo



- AAAAAAAAAAAAAAAAH. Eu não tenho uma roupa que preste. - dei o meu famoso ADP.

Ana estava no banho, Flora já havia saído com o Joey e a Paula estava me ajudando com a roupa.
Acontece que, desde que o Kurt me chamou para sair hoje na nossa última noite em Genebra, eu estava pirando completamente. Nada estava bom o bastante ou o bonito o bastante ou...

- Quer parar Bia ? Todas as suas roupas são lindas qualquer uma vai ficar super bem em você, fazer o Kurt babar e se tocar de te pedir em namoro logo. - eu ri. Ela era mestre em tirar de mim um sorriso, mesmo nas minhas situações mais desesperadoras. É, como essa.
- Ok, então escolhe uma roupa aí para mim. - me dei por vencida e deitei na cama apenas com calcinha e sutiã. Agradeci pelo aquecedor estar ligado.

- Ual, que isso hein gata. Assim o Kurt pira. - Ana falou assim que eu sai do banheira vestida da forma que a Paula escolheu.

Eu estava usando um vestido branco balonê Gucci de alcinha fina e alguns poucos detalhes em rosa, sandálias de tiras com uma cor que se aproximava de um rosa perolado de Giuseppe Zanzottis. Meus cabelos estavam soltos e minha maquiagem fraca, estava levando uma bolsinha de mão da Chanel preta com um espelho, meu inseparável gloss e meu blackberry rosa.

- Me desejem sorte. - falei assim que vi a mensagem de texto que Kurt havia me mandado, avisando que estava no hall.
- Sorte. - elas falaram juntas.
- E MUITOS BEIJOS NA BOCA, MAS NADA DE FAZEREM FILHINHOS. - escutei a Paula berrar enquanto fechava a porta.

Eu estava nervosa, mas ao mesmo tempo tranquila. Feliz, mas triste por ser a última noite.
Resumindo, eu parecia uma antítese. Uma confusão de sentimentos tremenda e nem eu mesma entendia o por quê disso.
Não era o nosso primeiro encontro, nem muito menos o primeiro encontro da minha vida. Eu já tive tantos...
Não que eu seja uma safada que sai com qualquer menino que chama, mas... Ah, você entendeu.

- Você está linda. Vamos ? - Kurt me perguntou e eu confirmei com a cabeça e um simples sorriso.
- Saisir la nuit à Genève¹. - o recepcionista falou, assim que passamos por ele.
- Merci². - respondi.

Ele est ava fazendo mistério sobre o lugar no qual me levaria, chamou um táxi e uns dez minutos depois nós estávamos parados em frente à um restaurante. O nome estava escrito em alemão, logo não entendi.
A decoração era simplesmente perfeita e completamente romântica, algumas mesas eram iluminadas por velas. Os assentos das cadeiras eram revestidos por algum tipo de veludo vermelho, a mesa com toalhas vermelhas e rendas brancas costuradas a mão.

- Bonne nuit. Ce qu'ils veulent ? - senti um certo alívio ao ouvir o homem que nos atendeu falar em francês.
- O que ele disse ? - Kurt perguntou fazendo uma cara confusa.
- Ele deu boa noite e perguntou o que a gente deseja.
- Pede o prato da casa. - ele falou e eu o mirei confusa - Foi o que recomendaram, quando me falaram desse restaurante.
- Ah sim. Le plat de la maison, s'il vous plaît.
- Você fica tão charmosa falando francês. - ele falou e eu corei.
- É, eu sei. - falei e nós dois rimos.

Conversamos bastante, enquanto esperávamos o nosso pedido chegar. Era incrível o fato de que um não se cansava do outro, eu estava completamente feliz e perdidamente apaixonada.
É, estava sim.

- Il est un homme chanceux. - um senhor que estava passando por nós falou, no momento em que estávamos saindo do restaurante. Dei um sorriso fraco.
- O que ele disse ? - Kurt me perguntou.
- Que você é um homem de sorte. - respondi e senti meu sangue pulsar minhas bochechas.
- Não precisa corar. - ele começou a falar segurando meu rosto com uma de suas mãos - Eu sei que tenho sorte só por ter alguém como você aqui, comigo.

Então ele me beijou, da forma mais carinhosa que já havia feito. Como se quisesse guardar aquele momento para sempre, assim como eu queria.
Depois nós fomos para um barzinho aconchegante, perto do hotel em que estávamos. A decoração possuia um estilo antigo, do século XVIII, entretanto suas janelas e portas de vidro davam um tom moderno ao local. Seu nome era um tanto sugestivo 'Qui est toujours', algo parecido com 'que seja para sempre'. Parecia ser um dos barzinhos preferidos para os casais que moravam aqui, a música acústica que tocava mais a frente de onde estávamos, deixava o ambiente ainda melhor.
Não demorou muito para que uma música bastante conhecida minha e dele começasse a ser tocada. Vi Kurt parado em pé ao meu lado, com uma de suas mãos esticadas. Quando a peguei, ele me conduziu até a pequena pista de solado de madeira, colocou seus braços em minha cintura ao mesmo tempo em que eu coloquei os meus em volta do seu pescoço. Ficamos nos encarando.

It's amazing how you can speak right to my heart
Without saying a word, you can light up the dark
Try as I may I can never explain
What I hear when you don't say a thing
The smile on your face
Lets me know that you need me
There's a truth in your eyes
Saying you'll never leave me
The touch of your hand
Says you'll catch me wherever I fall
You say it best when you say nothing at all
 
Parecia que não existia ninguém além de nós dois, como acontecia várias vezes. Era eu e ele, em uma ligação absurda, uma conexão inexplicável. Era como se eu tivesse encontrado a maior parte de mim, aquela mais alegre, mais fiel, mais bonita, enquanto eu olhava em seus olhos. Um sorriso surgiu em meu rosto, aquele mesmo sorriso que me denunciava sempre que ele estava perto e quando ele retribuiu o meu gesto, eu finalmente percebi.
Não importa quantas meninas do colégio ou da cidade desejassem ele. Kurt Harcourt era meu. Seus olhos me diziam isso, a forma com que suas mãos apertavam minha cintura me dizia isso. E eu faria isso ser eterno. Para sempre e sempre, era o que ecoava em minha cabeça.

All day long I can hear people talking out loud
But when you hold me near
You drown out the crowd (drown out the crowd)
Try as they may they could never define
What's been said between your heart and mine
The smile on your face
Lets me know that you need me
There's a truth in your eyes
Saying you'll never leave me
The touch of your hand
Says you'll catch me wherever I fall
You say it best when you say nothing at all
You say it best when you say nothing at all


- Namora comigo ? - ele sussurrou em meu ouvido, me surpreendo - Diz que aceita ser minha namorada, me faz o homem mais feliz do mundo inteiro ? - sorri
 

  The smile on your face
Lets me know that you need me
There's a truth in your eyes
Saying you'll never leave me
The touch of your hand
Says you'll catch me wherever I fall
You say it best when you say nothing at all
You say it best when you say nothing at all

E sem nem pensar uma única vez, respondi.
- É tudo o que eu mais quero desde o dia em que te conheci. - logo após a minha resposta, seus lábios macios já estavam grudados nos meus.

The smile on your face
Lets me know that you need me
There's a truth in your eyes
Saying you'll never leave me
The touch of your hand
Says you'll catch me wherever I fall
You say it best when you say nothing at all
You say it best when you say nothing at all

- Eu te amo. - ele falou em um sussurro

You say it best when you say nothing at all
- Mas eu te amo mais. - respondi, antes de lhe dar um selinho demorado

The smile on your face
The truth in your eyes
The touch of your hand
Let's me know that you need me



Nós dois acompanhamos o final da música em um murmúrio e sorrimos um para o outro quando a mesma acabou.

¹ - Aproveitem a noite de Genebra :: ² - Obrigada

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