Acordei no dia seguinte sentindo uma pressão sobre minha barriga. Levei três segundos tentando entender e em seguida abri um sorriso enorme ao me lembrar de quem estava ali ao meu lado. Minha felicidade era nítida, assim como a minha tristeza se tornava toda vez que eu me lembrava do que havia acontecido no dia anterior.
Levantei e fui em direção ao meu banheiro tomar um banho frio para me despertar, vesti um short jeans, uma regata branca e minhas havaianas lilás. Prendi meu cabelo de qualquer jeito e desci em direção à cozinha, deixando o Luc ainda adormecido em minha cama. O cheiro das panquecas de chocolate da Anne podia ser sentido da escada, isso aumentou a minha fome e me fez ir correndo para a cozinha.
- Bom dia, Anne.
- Bom dia. - ela me respondeu com o sorriso maternal de sempre.
- Hoje não era o seu dia de folga ?
- Eu passei aqui só para preparar o café da manhã para você e as meninas. Já vou embora, não se preocupe. - ela falou brincalhona.
- Só pra deixar claro eu não estava de expulsando. - sorri - Enfim, você não sabe quem chegou aqui ontem.
- Quem ? - ela perguntou voltando sua atenção para mim.
- O ... - não terminei minha frase, já que o meu irmão entrou na cozinha sem camisa, sonolento e totalmente descabelado. De um jeito sexy, óbvio.
- Bia, meu amor. Por que você não me acordou ? - ele me deu um beijo na testa e se sentou ao meu lado.
- O que... Ele... Os dois... Vocês... Você dormiu com ele, Bia ? - ela me perguntou brava e confusa - Mas até ontem você namorava o Harcourt ali. Como você pode ?
Ela ainda olhava para mim com uma expressão raivosa e decepcionada no rosto, quando eu voltei o meu olhar para o Luc. A gente se olhou por cinco segundos e começou a gargalhar. Tudo bem, eu sei que meu irmão é gato e, eu sei também, que às vezes eu não tenho pensamentos muito puros quando me dá vontade de pensar 'e se ele não fosse meu irmão', mas qual é. Imaginar fazer o que a Anne pensa que a gente fez é... Bizarro. Muito.
- Anne, minha querida. - comecei - Por que você não vai ali na sala rapidinho e pega o porta-retrato de prata ?
- E deixar vocês dois aqui, sozinhos, de sem vergonhice ? Nunca.
- Ninguém vai ficar de sem vergonice, faz logo o que ela pediu.. Anne. - meu irmão falou com aquela voz rouca que seduz qualquer um. Ela foi sem pestanejar. Não duvido nada que ela esteja pensando em uma forma de me 'castigar'.
- Tá legal, o quê que tem ? - ela me perguntou já com a foto na mão.
- Olha pra foto. - falei
- O que tem na foto, Bia ? - ela pediu, já sem paciência.
- Vai dizer que o meu irmão não ficou mais gato agora. - usei meu tom de menina sapeca e apertei o tanquinho descoberto do meu irmão.
- Não sacrifica, gordinha.
- Quando você vai parar de me chamar de gordinha ? - perguntei com um falso tom de indgnação - Não percebeu ainda que eu estou gostosa, linda e absoluta ?
- Gostosa, linda e absoluta ? - ele arqueeou uma sobrancelha - Aí você cai da cama, né ?
- Idiota.
- Com licença... - a Anne começou - Tem certeza que ele... Quer dizer você é ... Esse menino da foto é você ? - ela perguntou, olhando para o Luc.
- Pelo que eu saiba sim.
- Ai meu Deus, que lindo. Seja bem-vindo, Luc. Você não sabe o quanto sua irmã sentia sua falta, eu sinto como te conhecesse de tanto que ela falava de você. - ela desatou a falar, depois de dar um abraço nele.
- Tá legal, Anne. Cale-se, antes que ele comece a se achar.
- Não, eu tô gostando disso. Continua.
Então eles começaram a conversar sobre o quanto o Luc era importante para mim, o quanto eu era apegada a ele, o quanto eu seria mais feliz tendo ele ali comigo. Tudo o que eu ouvia era blá blá blá, ela me ama, blá blá blá, ela não é nada se você e muitos outros blá blá blás
- Sabe, a Bia sempre foi muito dependente de mim.
- Parece mesmo. - os dois pareciam duas mulheres fofoqueiras.
- Vocês poderiam parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui, né ? - fui ignorada, legal - Anne, você não tem que ir para casa não ?
- Nossa, perdi a noção da hora. - ela falou espantada, após olhar para o relógio - Cuida bem da minha princesinha tá, Luc ?
- Ah, agora eu sou sua princesinha, né ? - revirei os olhos
- Sempre, Anne, sempre. - nós a acompanhamos até a porta.
- Hey, Bia.
- Sim ?
- Tem um recado na secretária eletrônica.
- De quem ?
- Sei lá, você sabe que eu não me dou bem com esses troços.
- Ai, Anne. Você é tão século passado, é só apertar esse botãozinho vermelho aqui. - falei apontado para o mesmo e revirando meus olhos com um sorriso leve em meu rosto.
- Tá, tá. Tanto faz. Se cuidem, crianças. Tchau. - quando ela estava quase fechando a porta, meu irmão gritou.
- Hey, você vai estar aqui amanhã, né ? - ele falou e eu o olhei incrédula, não é possível que ele está dando em cima da Anne - Sabe, eu não vou sobreviver se tiver que comer as gogorobas que a Bia cozinha.
- QUE CALÚNIA. Para sua irformação eu melhorei noventa por cento na cozinha. - ele me olhou com uma cara do tipo 'me engana, irmãzinha' - Tá legal, sessenta. Talvez um pouquinho menos. - me dei por vencida - OK, não mudei nada.
Ela saiu de casa rindo de nós dois, enquanto eu era arremessada no sofá de couro branco da sala e bombardeada de cosquinhas.
Ficamos assim durante um bom tempo, até que eu me lembrei do recado na secretária e consegui me livrar do panaca do meu irmão.
- Cala a boca agora que eu quero ouvir a mensagem direitinho, tá maninho ? - falei como se estivesse falando com uma criança e apertei o botão.
HEEEEEEEEEY, FOFINHA. COMO VOCÊ TÁ ? VOCÊ SAIU ONTEM DE LÁ COM O KURT E NENHUM DOS DOIS VOLTOU, QUE ACONTECEU ? PERDEU O CABAÇO FINALMENTE ? Olhei, completamente envergonhada para o meu irmão, que ria de se acabar da minha cara, esperando alguma bronca. Ele não falou nada, então voltei a prestar atenção na gravação. NÓS VIEMOS PARA CASA DA ANA, SÓ PRA TE DEIXAR A VONTADE. VAI DIZER QUE NÓS NÃO SOMOS AS MELHORES AMIGAS QUE QUALQUER PESSOA GOSTARIA DE TER ? ENFIM ...CACETE, PAULA. PARA DE GRITAR. Pude ouvir a Flora reclamar com a Paula e ri, era bastante óvio que ela me deixou esse recado ainda bêbada. Vou ter uma convercinha com ela depois. VAI SE FERRAR, FLORA. ENTÃO, ERA SÓ ISSO E... AIIIIIIII. BIA, BIA, BIA. EU CAI, DE QUATRO, EM SUA HOMENAGEM. AHUSHAUSHUAHUSHAUSHUAHUSHAUHSA; TE AMO, NÃO ME ESQUEÇA, NÃO ME ABANDONE. BYE BYE
- Er, a Paula é um pouquinho fraca para bebida. - falei.
- Percebi. - ele falou rindo - Quando vou conhecê-las ?
- Hoje, provavelmente.
Comecei a ouvir a outra mensagem que também era delas. Dessa vez era decente, sem nenhuma gritaria.
Bia, meu amor. Como você tá ? Dormiu bem ? Vocês se protegeram ? Flora começou, pude ouvir a risada da Ana ao fundo e a Paula mandando ela parar de falar auto. Como você sabe a gente dormiu aqui na Ana e a tia nos chamou para almoçar aqui. E nós aceitamos, claro. Já estava com saudade da comida da Senhora Montagner. De qualquer forma, estamos te esperando aqui até uma hora. Sem mais, me despeço. HAHAHAHA Nossa, que coisa mais típica da Paula. Te amo, fofinha.
- Todas elas te chamam de fofinha ?
- Aham e não pergunte.
- Não ia mesmo. - ele deu de ombros.
- Então, quer ir almoçar lá na tia ?
- Sinceramente ? Não.
- Nem eu. Spoleto ? - perguntei
- Qualquer coisa de uma praça de alimentação no shopping mais próximo ? - ele falou.
- Yeaaaaaaah.
Ana's POV ON
Eu saltitava alegre e feliz (tá, eu sei que são sinônimos, mas os dois juntos deixam o texto mais contente) em direção à minha segunda casa. Eu e as meninas estávamos blaster curiosas para saber o quê tinha acontecido com a Bia, já que ontem ela saiu com Kurt, não deu notícias e nem apareceu na minha casa.
Eles devem estar se agarrando em algum lugar por aí... AI MEU DEUS, será que o Kurt roubou minha santinha ? Se bem que, se eles fizeram o que nós achamos que eles fizeram, ela já não é mais tão santinha assim.
- Ana, a chave. - Flora pediu.
- Que chave ? - perguntei confusa.
- Aquela coisinha prata que fica grudada no seu chaveiro de guitarra rosa e que abre a porta da nossa amada casa. - Paula me respondeu.
- Ah, tá. Essa chave...
- Não vai me dizer ... - Flora.
- ... Que você não pegou ? - Paula completou - ANA JULI ! Como a gente vai entrar agora ?
- Ai que desespero, gente. Re-la-xa. É só tocar a campainha que a Bia atende, oras. - falei, indo em direção a porta.
- E se ela não tiver em casa, Senhorita eu-sou-demais-por-dar-uma-ideia-óbvia ? - Paula falou começando a se estressar.
- Daí, a gente senta e espera. - falei sorrindo.
A Paula bufou, mas mesmo assim apertou a campainha. Enquanto a Flora se preocupava com as unhas, eu me sentei na escadinha da frente... Nossa como esse jardim tá mal cuidado, a gente precisa contratar um jardineiro urgente. Não, melhor. Vou reclamar com a Anne.
Será que o Thiago tá em casa ? Preciso falar com ele. E por falar em falar, eu preciso dormir. Detesto a Paula bêbada.
- Oi ? - fui tirada dos meus queridos e espertos pensamentos pela fala confusa da Paula.
- Depois eu que sou burra, por que você... - interrompemos essa fala para. Tá parei.
Parei de falar quando vi o motivo da confusão da Paula. Ah, claro e o motivo do sumiço da Bia também.
Eu não podia acreditar no que os meus olhos estavam vendo, seria uma alucinação ? Pelo jeito que a Paula e a Flora estão babando, acho que não.
- LUCAAAAAAAAS. - saí correndo e me joguei em seus braços, fazendo com que nós caíssemos - Ai meu Deus, quanto tempo ! Ai que saudade.
- Eu sei, Ana. Eu também senti muita saudade de você, mas será que a gente podia levantar ? - ele me pediu com aquela cara que ninguém resiste.
- Você tá mais gostoso... E tá forte também. - falei apertando seus braços, depois que nós havíamos levantado - Andou malhando ?
- Você não mudou nada, Ana Juli. - ele soltou um gargalhada extremamente fofa e eu ouvi dois suspiros atrás de mim. Hello, gente apaixonada na área a primeira vista ? Será ? Será ?
- Assim, desculpa interromper o momento carinho de vocês, mas... Onde está a Bia ? - ela perguntou olhando diretamente para o Luc.
- Ela tá lá em cima fazendo alguma coisa que eu não sei o quê é, mas já deve descer...
- Paula, mas pode me chamar de Paula. - e ela se apresentou toda se querendo.
- Ah, então você que é a famosa Paula. - ele observou, correndo seus olhos por ela, fazendo com que a mesma ficasse envergonhada. Nossa, se a Bia me ouvisse ela ficaria orgulhosa de mim. Tô falando bonito, ae.
- Oi, eu sou a Flora. Flora.
- Prazer, Em. Eu sou o Luc, o irmão querido, amado e idolatrado da Bia, mas isso vocês já devem saber.
- HÁ-HÁ. Você é tão convencido, Luc. Já te falei isso ? - um ser usando um vestidinho xadrez cinza e preto e uma bota preta lindérrima falou, enquanto descia a escada aos pulos. Ah, tá. Era a Bia.
- Umas vinte vezes, desde que eu cheguei. - ele sorriu.
- VOCÊ É UMA VACA EGOÍSTA. - eu berrei parando perto dela.
- Por que, Ana ?
- VOCÊ NÃO FALOU NADA PARA GENTE DO LUC, BIA. GRANDE AMIGA VOCÊ. - eu falei chateada e ela riu. Sim, ela riu. Que absurdo.
- Ele chegou ontem, prima. Se acalma. Não vejo motivo para ficar chateada. - ela falou tranquilamente.
- Não vê motivos ? - tá legal, nem eu via. Mas eu curto um drama, e aí ? - Você... Você...
- Cala a boca, Ana Juli. - todos falaram. Sim, ao mesmo tempo. Isso é estranho.
- Tá calei. - falei e na mesma hora me lembrei de uma coisa e fiz uma cara de assustada. Todos olharam para mim - Bia do céu. O Luc... Ele... Você e o Kurt... O Luc... Ele te pegou na cama com o Kurt ?
Na mesma hora o sorriso da Bia sumiu e o do Luc também. Já falei que eu adoro quando eles mostram essa ligação de irmãos ? Sempre que um está feliz, o outro também está. Em relação a tristeza é a mesma coisa. E por conhecer os dois tão bem quanto eu conheço, eu sei que tem algo errado.
- Quem disse que eu estava na cama com o Kurt ? - ela revidou séria.
- Não vai me dizer que vocês brigaram de novo e por culpa daquela baranga mal amada ? - Paula falou, chegando perto dela.
- Na verdade... - Luc começou.
Posso dizer que foi estranho ouvir o que aconteceu pela boca do Luc ?
Assim, ele não estava lá. Tudo bem que a Bia deve ter tido tudo milimetricamente para ele, mas mesmo assim que eu queria ouvir da boca dela. É sempre mais legal.
Credo, Ana Juli. Como você é besta.
- Terminaram ? - Flora.
- Sim.
- E ele nem foi atrás de você ? - Paula.
- Não. - ficou um silêncio chato e todos olharam para mim esperando que eu falasse alguma coisa.
- MONTINHO NA BIA. - me levantei, para me jogar em cima dela, mas tdo mundo me olhou com uma cara de 'larga de ser besta' - Ok, nada de montinho.
Ana's POV OFF
A Ana é bizarra, só ela para conseguir me fazer rir. Quer dizer, ela e o meu irmão. E a Paula.E a Flora. Agora nós estávamos na sala, conversando sobre qualquer assunto. Menos sobre eu e o Kurt. Elas entenderam que eu já havia desabafado, chorado e falado tudo para o Luc, e aceitaram a minha decisão de não falar sobre isso, por enquanto.
- Sabe, eu invejo a beleza de vocês. - a Ana Juli falou, apontando para o sofá que eu estava com o Luc - Na verdade não. Deve ser beleza de família, já que eu sou tão gata quanto vocês.
- Ana ? - meu irmão a chamou.
- Sim, amor ?
- Sabia que você fica mais bonita de boca fechada ? - ele falou e deu um sorriso lindo.
- Por que ? Você não gosta do meu sorriso ? Ai que triste. - ela falou. Depois eu a chamo anta e a garota diz que eu sou do mal.
- Nem tenta, Luc. - Paula-íntima-do-meu-irmão, interrompeu quando ele começou a falar. - A gente ignora o quê ela diz e só aproveita as coisas que fazem sentido. E que são inteligentes. O que é bastante raro.
- Idiota. - Ana Juli murmurou.
- Aonde o Luc vai ficar ? - Flora, que estava calada até agora, perguntou.
- Tem o outro quarto de hóspedes que é do lado do meu. - falei.
- Eu acho mais certo ele ficar no quarto dos pais. - Paula disse.
- Mas é você que tá lá, Paula. Hum, já tá querendo dividir a cama com Luc, safadinha ? - Ana Juli falou em tom malicioso, fazendo com que todos rissem e a Paula ficasse vermelha.
- Claro que não, idiota. Ele vai para lá e eu fico com o quarto de hóspedes. Afinal, ele é o dono e eu sou a agregada.
- Não precisa, Paula. - ele sorriu - Tenho certeza que eu vou passar mais tempo com a gordinha do que no lugar que vocês me colocarem. Mas obrigada mesmo assim.
- Gordinha ?
- Longa história, Flora.
O resto de dia passou rápido e, como eu suspeitei, o Luc não demorou muito para se enturmar com as meninas e a Paula ficava suspirando de cinco em cinco segundos. Ok, alguém diz para ela que uma menina não pode ser fácil perto de meninos como o meu irmão ? Obrigada.
Não lembro ao certo a hora em que fui dormir, mas quando o meu despertador começou a tocar Anything do The Calling, tive a impressão que não havia dormido mais do que meia hora. Meu corpo todo doía, meus olhos estavam pesados e a minha vontade de continuar na cama era gigantesca.
Levantei devagar, para não acordar o Luc e fui na ponta dos pés para o banheiro. Tomei meu banho gelado, que havia virado uma rotina após todas as brigas com o Kurt, coloquei meu uniforme, prendi meu cabelo em uma simples trança e desci. O Luc continuava no milésimo sono.
E ele disse que me levaria hoje no colégio, claro.
- Bom dia, meninas.
- Bom dia, fofinha. - elas me responderam juntas.
Nós tomamos nosso café da manhã em um silêncio estranho. Silêncio que perdurou até o portão do colégio, quando a Paula me puxou pelo braço, me abraçou e falou em meu ouvido.
- Vai dar tudo certo.
- Eu espero que sim, Paula.
A verdade é que eu não queria que esse dia chegasse, eu não queria olhar para o Kurt e lembrar daquele olhar decepcionado que ele me 'mandou' na última vez em que conversamos. Eu não queria olhá-lo e lembrar do motivo da nossa briga, lembrar do porquê eu não poder beijá-lo naquele momento era doloroso. E lembrar do que eu fiz, me dava remorso. Pode chamar isso de arrependimento, se quiser.
- Gatinha. - Thiago me recebeu com um sorriso acolhedor, pelo visto ele já sabia.
- Gatinho. - não fui capaz de retribuir seu sorriso.
Alguns segundos depois, eu já estava sentada ao lado dele, contando tudo do meu ponto de vista e me segurando ao máximo para não chorar. Notei o olhar do Kurt em cima de mim algumas dezenas de vezes, mas achei melhor ignorar. Fingi que eu não havia percebido. Ele estava sentado com a Paula, que estava calada copiando a matéria do quadro. Dei graças ao fato da Ana Juli não ter sentado com ele, se não ela iria falar sobre o quanto eu chorei quando finalmente falei sobre esse assunto.
Parecia provocação ou alguma forma de me esfregarem na cara o que eu perdi. Kurt estava completamente sexy, não que ele não fosse nos outros dias, mas hoje ele estava diferente.
Seus cabelos estavam bagunçados daquele jeito que eu simplesmente amava, suas bochechas vermelhas, sua blusa branca aberta até o terceiro botão - deixando sua regata de baixo a mostra. Não olhei em seus olhos em momento nenhum, por isso não sei dizer o que ele estava sentindo. Nem ao menos tentei descobrir.
Devia ser medo de ver que ele não sente a minha falta, ou então qualquer outro sentimento que eu não consigo denominar.
- Vai falar com ele, gatinha. - Thiago me pediu, enquanto nós estávamos nos dirigindo à mesa. Todos estavam lá, até... Ele.
- Não sei, Thiago. Melhor não.
Me sentei ao lado da Paula, que estava ao lado da Flora, que estava ao lado do Kurt. Sim, tudo isso para não encará-lo. Nós não trocamos nem uma palavra, nem um olhar, nem mesmo um xingamento o dia todo. Mas eu acho que foi melhor assim. Não demorou muito para o sinal tocar e nós voltarmos para a aula. Dessa vez eu sentei com a Ana e o Thiago com o Kurt. Percebi que os dois conversaram a aula inteira, por um minuto eu pensei que o Thiago estava contando tudo o que eu havia lhe dito, mas depois tirei isso da minha cabeça. Os dois podem ser irmãos, mas o Thiago nunca trairia a minha confiança assim.
Fui tirada dos meus pensamentos, quando uma bolinha de papel pousou em meu caderno.
Shopping hoje ? Precisamos comprar vestidos para o baile. Já é no sábado :O Xx Flora e Paula-chata
Ah, claro. O baile. Eu não preciso comprar vestido, porque eu N-Ã-O vou. Mas é claro que eu não vou dizer isso para elas.
Ainda.
Não posso, mas a Ana vai (: Xx Bia
Coloquei uma carinha para... Para... Sei lá pra quê, acho que foi para disfarçar. Vai saber.
Por que não, fofinha ?
Não precisavam assinar, eu sabia que era da Paula.
Vou sair para almoçar com meu irmão e depois ele vai me levar no novo serviço dele. Agora prestem atenção na aula, antes que o professor veja o nosso web-paper-talk, pegue e leia para turma toda. hihi
Ok, qual é o problema dele ler para turma toda, não vejo nada que posso virar fofoca aqui :D
A PAULA AMA O IRMÃO DA BIA, QUER CASAR COM ELE E TER FILHOS COM ELE.
- agora tem, sugar
Mandei para ela com um sorriso de desdém estampado em meu rosto e pude vê-la mecher a boca em um 'vaca mentirosa'.
Aula de física é um saco, principalmente se você tem alguém como a Ana Juli do seu lado. Ela detesta física, mas presta atenção em tudo que o professor fala sem nem olhar para o lado. Claro que a mente está no mundo da lua, ou melhor... No mundo do Thiago.
Fui a última pessoa a sair de sala, porque... Bem, eu sou um pouquinho lerdinha para copiar e o professor é um mala que manda todo mundo sair e só deixar os atrasados. Vulgo eu e a Paula.
- Anda, Bia. O Luc já deve ter chegado. - ela me apressava.
- Tá com medo de deixar o Luc esperando por mim, cara amiga ? - perguntei irônica.
- Eu sabia que seu irmão era bonito, Bia mas... Nossa. - ela mudou totalmente o assunto e fez uma cara de apaixonada.
- Olha, Paula. - parei no meio do corredor, fazendo-a parar também - O Luc é meu irmão e eu o amo, mas ele nunca foi de ter relacionamentos sérios. Ele pode ser sedutor, romântico, fofo e tudo o mais que ele quiser só para ter quem ele quer.
- Por que você está me dizendo isso, Bia ? - ela perguntou, me fazendo perceber que eu havia passado uma imagem de irmã ciumenta que tenta manter tudo longe do amado irmão, mas não era isso.
- Eu amo você, Paula. Eu só não quero te ver mal. - falei e a abracei.
- Fica tranquila, fofinha. Eu sei me cuidar.- ela se soltou - Sou eu quem cuida de você também, não sou ?
Fiz um barulho com a boca que demostrava que eu concordava e fui saindo da escola. O gramado estava cheio de gente querendo saber quem era aquele menino de calça jeans, blusa social branca, all star preto e Ray Ban também preto, que estava encostado em uma Mercedes prateada.
Senti a Paula prender a respiração ao meu lado e todas as cabeças virarem em minha direção, acompanhando aquele menino totalmente charmoso que caminhava estilosamente para onde nós estávamos.
- Por acaso você está indo em direção à Bia Almeida ? - ouvi a Veh perguntá-lo, ele já estava perto da gente.
- Por acaso estou sim. - ele falou simplesmente e continuou seu caminho até nós duas.
- Jesus me abana, quê que é isso ? - Paula sussurrou um pouco antes dele chegar.
- Demorou, tampinha. - Luc falou, enquanto beijava minha mão bochecha. Devo dizer que quem visse de outro ângulo, imaginaria ser um beijo na boca.
- Sua irmã é lerda, Luc.
- Ah, mas se você estava junto, significa que você também é. - ele falou simplesmente, fazendo a Paula bufar.
- Eu só estava esperando por ela.
- Aham, Paula. - ele falou com desdém e eu ri. Pouco tempo depois eu vi a Paula andando em nossa frente e indo em direção aos Harcourt e as meninas, que estavam parados ao lado do carro. Eu e Luc nos abraçamos.
Parecia que eu podia ler os pensamentos das pessoas ali. As meninas com certeza estavam querendo saber o quê alguém como eu estava fazendo com alguém como ele. Tolinhas, se elas soubessem que para o meu irmão alguém como eu é muito melhor do quê alguém como elas... Tsc Tsc.
- Parece que a fila anda rápido para você, Bia. - ouvi o Kurt falar quando nós estávamos passando ao lado dele. Imediatamente parei e senti meus olhos lacrimejarem. Meu irmão apertou minha cintura e sussurrou em meu ouvido.
- Vá para o carro.
Assim o fiz, sentindo todos os olhares em minhas costas. Duas lágrimas escorreram pelos meus olhos e eu tratei logo de secá-las e voltar minha atenção para o que estava acontecendo lá fora.
- Você deve ser o Kurt. - meu irmão falou, olhando em direção a ele.
- Sim, eu sou. E você dever ser o mais novo otário da lista dela.
- Eu acho que isso é ciúme. - Luc falou, ninguém ali entedeu o porquê, mas eu achei que ele havia falado isso para mim. Como se fosse uma tentativa de explicar o porquê dele ter falado aquilo.
- Ciúmes ? Eu posso tentar qualquer menina desse lugar piscando os olhos. Qualquer garota que eu quiser. - ele olhou para o carro e depois voltou a falar olhando o meu irmão - E eu quero qualquer uma, menos ela.
- Seria clichê eu dizer que você vai se arrepender de tudo isso que está falando ? - Luc falou.
- Eu não vou me arrepender, porque eu não vou querer voltar atrás. Já era, acabou. Agora você pode curtir a Almeida com a consciência tranquila. O ex-namorado não vai perturbar o novo romance. Só toma cuidado, ela vai fazer com você a mesma coisa que vez comigo. - a essa altura as lágrimas já corriam silenciosamente pelo meu rosto.
- Novo romance ? Poder curtir a Almeida ? Quem você acha que eu sou garoto ?
- A nova vítima da Bia. - meu irmão olhou para ele e depois de alguns segundos resolveu falar.
- Sabe, é revoltante saber que é por alguém como você que a minha irmã está apaixonada. Que foi por alguém como você que ela passou a noite toda chorando.
Então, ele deu as costas e entrou no carro. Pude ouvir o Kurt perguntar algo como 'irmã ?' e ver a Flora concordar com a cabeça. O Luc saiu rapidamente dali e quando ele parou no primeiro sinal eu o mirei com um olhar indignado.
- Que foi ? - ele me perguntou.
- "Que foi por alguém como você que ela passou a noite toda chorando" ? - imitei a sua fala de minutos atrás.
- Foi o que aconteceu, não foi ? - ele falou rispidamente.
- Foi, mas...
- Com tanto garoto no mundo, a minha irmã foi se apaixonar logo pelo mais idiota. - ele segurou minha mão - Eu só vou te dizer uma coisa, Bia. Se você o ama de verdade, você vai fazer as coisas darem certo. Se não, é melhor terminar tudo de uma vez por todas. Eu não quero te ver machucada e para isso você precisa decidir de uma vez por todas.
- Decidir entre o quê ? - perguntei meio as lágrimas que tornaram a cair de meus olhos.
Ele nada me respondeu, porque no fundo eu sabia a escolha que tinha que fazer.
- Eu vou estar aqui para tudo, pequena. Lembre-se disso. - ele falou e eu dei um beijo em sua mão, voltando a encarar a janela.
As palavras do Kurt ainda ecoavam em minha cabeça.
E eu quero qualquer uma, menos ela.
Qualquer uma, menos ela.
Menos ela.
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