(...)
-Nofffa você ta arrasando! - Ana Juli disse quando descemos do carro
-Obrigada amiga - respondi eu usava um vestido básico.
-Vamos entrar? - ela me estendeu a mão e eu a peguei.
-Diga ai minhas gatas - Thiago apareceu na nossa frente me abraçando e depois a Ana Juli.
-Oi amor, onde ele ta?
-Nossa, eu também estou bem obrigada.
-Vai á merda, mas antes me responde, cadê ele?
-Eu não sei, ele veio me cumprimentar e saiu pela festa hoje ta bombando. Querem dançar?
-Eu vou beber. - saí em direção a um balcão e peguei um smirnoff.
-Oi gata! - Zach apareceu do meu lado.-Quer dançar?
-Vamos! - não pensei duas vezes,olhei mais uma vez em volta e não o achei decidi então fui dançar com Zach, fui dançar não transar. Já estava passando da minha décima smirnoff e eu já dançava que nem uma doida bêbada,mas eu não estava, ficar bebada fácil não é comigo cara, preciso é de 2 litros pra essa proeza. n
-Vou buscar mais uma! - falei indo em direção ao balcão,quando eu avisto aquela silhueta que eu tanto queria ver. Me aproximei dele e me coloquei minhas mãos sobre o balcão, ele segurava uma garrafa de cerveja que não aparentava ser sua primeira. - Afogando as magoas,Kurt?
-Até você - ele se virou para ir embora, mas eu o segurei pelo braço
-Hey espera, eu vim aqui pra ti ajudar, não te criticar.
-E você ajuda alguém a não ser você garota?
-OUTCH!Pensei que a sem sentimento nessa conversa era eu, mas você tratar uma mulher assim é novidade.
-Você não me conhece.
-Você é que não me conhece.
-Eu sei muito bem o joguinho que você faz e eu não vou cair nele.
-Certeza? - eu me aproximei dele colocando uma mão de cada lado de seu corpo e sussurrei no seu ouvido: -Quer dançar, Harcourt?
-Cl-Claro!- eu o puxei pelo colarinho e o arrastei até a pista de dança e juntei nossos corpos dançando de um jeito sexy,dançávamos ao som de Ayo Technology.
-Aposto que você ta doidinho pra me beijar? - falei no seu ouvido.
-Não se acha garota, você não é pra tanto.
-Ah é - fui beijando de seu pescoço e subindo até o lóbulo da sua orelha o merdendo - E agora?
-Você vai ter que fazer melhor do que isso.
-ARGGHH! - me soltei dele e sai da pista de dança com muita raiva, fui em direção a cozinha, senti um puxão na cintura e fui empurrada na parede com violência- Mas que porr...-nem pude terminar a frase meus lábios foram selados pelo os de alguém,fiquei meio que assustada, mas não resisti ao beijo já que havia me prendido, o Kurt.Demorei mais ou menos 5 minutos naquele beijo só separei nossos lábios pedindo por um ar abri os olhos em seguida - Tu só pode ta tirando uma com a minha cara?! Que porra foi essa?
-Um beijo.
-Tudo bem agora me solta - eu tentei me afastar, mas ele era muito mais forte. - dá pra me soltar ou ta difícil?
-Tá difícil, agora que você me provocou agora vai ter que agüentar.
-Do que você ta falando, Kurt Harcourt?
-Eu te quero como eu nunca quis uma mulher antes.-ele sussurrou no meu ouvido, um arrepio me correu pela espinha.Sorri automaticamente e o puxei pela gola da camisa escada a cima o beijando com desejo, aquilo que eu sempre sonhei estava acontecendo.Passamos por vários quartos, que por sinal estavam todos ocupados, paramos no ultimo com um pouco de receio, era o quarto dos pais dele.- eles não vai se importa se agente usar ele um pouco! - ele me agarrou pela cintura me beijando novamente e abrindo a porta com uma das mãos, pra um santo ele ta muito safado pro meu gosto.
-Eu sei que não deveriamos fazer isso, já que não temos nada juntos... - ele disse entre os beijos, já estavamos ofegantes.
-Você estando com a veh ou não, não importa, o que tá sendo proibido, tá sendo melhor.
-Eu queria ter você de volta...
- ... não quer mais?
-Quero...ahm...volta pra mim pequena.
-Tudo bem, bobo, nunca desisti de você. -depois dessa tal novidade, voltamos a nos beijar.Ele foi me levando até a cama deixando os nossos sapatos pelo chão, me empurrou na cama com uma certa violência, se deitou por cima de mim e começou a beijar o meu pescoço; agarrei em seus cabelos puxando-os e mordendo os lábios de tanto prazer, ele puxou o zíper do meu vestido quase o arrancando e o puxou pra baixo revelando minha lingerie preta, olhou pro meu corpo de cima a baixo e reprimiu os lábios, inverte as posições e fiquei por cima dele,beijando seu pescoço e dando leves mordidas. Desabotoei sua blusa botão por botão beijando de leve cada parte do seu peitoral, ele ficou impaciente com aquilo e arrancou a blusa de uma só vez, sorri com aquilo.Ele inverteu as posições outras vez ficando por cima de mim,e me beijou descendo os beijos por meu pescoço até meus seios, ele arrancou meus sutiã o arremessando longe, distribuindo varias mordidas por meu colo, com uma de suas mãos em meu seio. Levei minhas mãos até sua calça quase arrancando o cinto e a empurrando-a com os pés, revelando sua boxer preta e o volume que eu não percebi com sua calça, ele levou suas mãos até a minha calcinha a arrancou com uma certa violência,eu estiquei um pouco a mão e consegui alcançar meu vestido, ouvi um gemido de reprovação, tirei uma camisinha(n/a: previna-se) do bolso e lhe mostrei ele fez um ‘Ahh’ e me puxou outra vez agora me beijando loucamente mordendo meu lábio inferior, eu já não agüentava mais aquele joguinho, precisava senti-lo agora. -Preciso de você agora.- ele pegou a camisinha de minhas mãos e colocou, ele me penetrou de uma só vez e eu soltei um gemido de tanto prazer, ele começou com os movimento de vai-e-vem e eu gemia de tanto prazer.- Mais, por favor,mais.... - ele me penetrou cada vez mais forte me fazendo quase gritar de tanto prazer, a cada estocada um sentimento diferente, formigamentos,arrepios, tudo que eu não senti com nenhum deles ele me fez sentir em uma só noite.- Mais, mais,mais - ele me penetrava cada vez mais forte; se inclinou e começou a me beijar mordendo meus lábios e descendo até o pescoço, dando um chupão.Segurei com força o lençol da cama sentindo que meu orgasmo estava preste a vir,o mesmo que acontecia com ele, ele me penetrou,mais uma,duas, e três senti cchegar ao nosso climax.Ele caiu por cima de mim me beijando pela ultima vez, se deitou ao meu lado e me puxou pra deitar em seu peito e nos cobriu com um lençol.Não precisávamos de palavras, não precisávamos de nada, só ficamos sentindo a presença um do outro, adormeci em pouco tempo. Acordei no outro dia sentindo o sol bater em meus olhos, olhei pro meu lado e vi Kurt deitado e dormindo que nem um anjinho, dei um selinho nele e ele não acordou, decidi me levantar sem fazer muito barulho, catei minhas roupas pelo chão e as vesti.O olhei uma ultima vez antes de sair do quarto,me lembrei da noite maravilhosa que eu tive, e desci as escadas saltitante, passei pela sala e vi varias pessoas jogadas no chão total temente bêbadas, sorri com aquilo.
(..............)
domingo, 26 de setembro de 2010
sábado, 25 de setembro de 2010
Aquela é
a alma que os demônios tanto desejam. Apesar de ter a força de um demônio ao seu lado depois de fazer o contrato, eles quer usar as suas próprias mãos para se vingar. Ele conhece o sangue, a escuridão, a morte, porém aquela alma é pura, completa e sem manchas.
── Claude Faustus
── Claude Faustus
Desistir do futuro,
perder os sonhos, deixar se ferir pelo desespero... O passado pode ser remendado se lutarmos contra a realidade, sem nunca perder a elegância. É isso mesmo, jovem mestre. É essa a alma que eu quero devorar. (Monoshitsuji 03)
terça-feira, 7 de setembro de 2010
O melhor sonho. Capítulo 2. FINAL
Droga, droga, droga. Mil vezes droga !
Será que alguém pode explicar como uma pessoa pode ser tão suscetível à outra ?
Eu estava pronta para dizer 'Não, Kurt. Eu não vou.'. Por mais que a minha curiosidade me matasse, eu deveria dizer isso. Eu tinha que dizer.
Mas não, foi só ele olhar para mim com aquele sorrisinho torto que eu me entreguei. E de bandeja. E por causa disso eu estou no shopping da cidade a mais de duas horas procurando um vestido no mínimo perfeito para mim. Não aguentava mais procurar, andar e ouvir as meninas reclamando, mas nada ali me agradava. Era tudo muito igual, muito comum, muito previsível.
- Ah, eu não vou mais. Pronto. - falei em um momento de estresse.
- Para de birra, Bia. Vamos entrar aqui. - Paula falou.
- Que tipo de loja é essa ? - Flora perguntou desconfiada.
- Sei lá, foi a primeira que eu vi. - Paula deu de ombros.
- Bia, mede esse. – minha prima jogou um vestido na minha direção e segundos depois, eu me vi trocando de roupa. Ok, só a Ana mesmo para achar que eu vou usar esse vestido... Perfeito.
- AH, ADOREI ESSE VESTIDO. - berrei animada, enquanto as três entravam no provador para me ver.
- Aleluia. - Paula caçoou, levantando as mãos para o céu.
- Ficou lindo. Desse jeito o Kurt não vai resistir. - Flora disse me cutucando.
- Que isso, hein gatinha. Se eu fosse homem, te pegava. - todas nós rimos do comentário desnecessário da Ana Juli.
As meninas discutiam sobre a tal surpresa do Kurt, enquanto eu me trocava. Eu já não aguentava mais dizer que eu não tinha a mínima ideia sobre o que podia ser, eu estava no escuro assim como elas. Mas devo confessar que o meu coração acelerava só de pensar nisso, eu não conseguia esconder minha ansiedade e ela ficava ainda mais vísivel quando eu ligava para o Kurt só para falar 'E aí ? você não vai me contar mesmo não ?'.
- Bia ? Você ouviu o que a gente falou ? - Paula perguntou.
- Claro. – menti
- Então o que foi ?
- Você perguntou se eu ouvi o que você falou. – falei como se fosse óbvio.
- Antes disso, demente.
- Não. - falei sincera.
- Para variar um pouquinho... Enfim, ainda falta comprar o terno, seja lá como chamam, do seu irmão.
- Paula toda preocupadinha com o Luc. - Ana falou
- Para variar um pouquinho. - eu imitei a voz da Paula. Ok, admito que não sou boa nisso - Ele gosta de usar os da Dior.
- Vamos voltar na loja da Dior ? Não acredito, Bia. Por que você não comprou isso quando a gente estava lá ? - Paula despejou.
- Cala a boca e anda, Smith. - nós três falamos juntas. Ela soltou um murmúrio de reclamação, mas ainda assim fez o que a gente falou.
Encontrar a roupa para o meu irmão foi mais fácil do que eu imaginei. Na verdade, eu escolhi a primeira que vi, mas ninguém precisa saber disso certo ? O Luc fica bem em qualquer trapo de pano, às vezes dá inveja. Sério. Eu já perdi a conta de quantas roupas eu vesti e que ficaram horríveis em mim, mas com ele isso nunca acontece. Coisa chata, né ?
Depois de comprar as coisas que faltavam, nós fomos para o Star Fashion Hairdresser. Eu sei, muito original esse nome, mas o que importava era o atendimento e esse era muito bom. O melhor da cidade sem dúvidas. Decidi deixar meu cabelo solto, ondulado e com a franja de lado; dei uma repicada baixa nas pontas e cortei a franja que já estava grandinha. Eu e a Paula fazíamos as unhas, enquanto a Ana e a Flora estavam sendo maquiadas.
Resolvi que esse era o momento certo para contar da decisão do meu irmão.
- Paula ?
- Sim ? - ela desviou os olhos da Rolling Stones e me encarou.
- Eu conversei com meu irmão.
- Sobre o quê ?
- Sobre a sua permanência lá em casa.
- Por que você ainda insiste nisso, fofinha ? Ele já falou que não me quer lá. Fim de papo. - ela murmurou tristonha.
- E se eu disser que ele mudou de ideia ?
- Sério ?
- Quer dizer... Ele não mudou de ideia, assim do nada. - tentei justificar - Ele só te deu uma chance para você provar que pode mudar.
- Mudar quem eu sou ? - ela perguntou ríspida.
- Não, mudar essa sua mania de bêbada. Sabia que as pessoas funcionam sem álcool, Smith ?
- Até conhecer você, não. - ela riu.
- Engraçadinha você.
- Também te amo fofinha. - ela me mandou um beijo - Então, isso significa que eu vou ter que me comportar a partir de hoje.
- Sim. - ficamos em silêncio e segundos depois eu falei - Paula, não faz meu irmão se arrepender de ter te dado essa chance e nem eu de ter pedido, tá ?
- Eu não vou te desapontar, Bia. Nem você, nem o Luc. - ela suspirou.
Nós saímos do salão um pouco além de oito horas, só faltava tomar um banho, nos vestir e ir para o colégio.
O baile estava marcado para 21:30, isso significava atraso na certa.
-- Fala, gordinha. - a voz sonolenta do meu irmão atendeu ao telefone.
- Por favor me diz que você não estava dormindo, que já tomou seu banho e está prontinho esperando eu chegar. - não deixei ele responder - Tanto faz, estou chegando em cinco minutos. Esteja quase pronto.
Agora sim eu estava começando a entrar em pane. O meu nervosismo e a minha curiosidade me consumiam a cada segundo mais e mais, eu queria poder ver o Kurt, falar com o Joey e abraçar o Thiago para tentar me acalmar, mas a essa hora eles já deveriam estar no colégio.
Nós quatro chegamos em casa rapidamente e cada uma foi para o seu quarto. Dei de cara com um Luc de toalha e com os cabelos pingando saindo do meu banheiro. Revirei meus olhos e joguei sua roupa em minha cama.
- Dior ?
- Aham. - murmurei, enquanto entrava no banho.
Fiz o meu melhor para tomar um banho decente e não estragar meu cabelo (o que foi muito difícil, só pra constar). Coloquei meu vestido azul, passei uma sombra prata, gloss incolor, blush fraquinho só pra dar uma coradinha e caprichei no rímel.
- Bia, me presta uma sandália ? - Ana pediu, enquanto entrava no quarto com seu vestido tomara que caia vermelho da Chanel.
- Escolhe aí, mas primeiro me ajuda aqui. Louboutin preto, Miu Miu azul ou Brian Atwood prata ? - pedi em dúvida, amostrando todas as opções.
- Brian prata, porque eu vou querer o Louboutin preto. - ela disse rindo.
Eu estava a tira com pedrinhas bordadas da minha sandália de salto 10, quando ouvi a Paula berrar o meu nome e da Ana lá em baixo. Ela estava impaciente. Nós duas descemos a escada lentamente (e de propósito), fazendo a Flora bufar.
Luc estava impossivelmente maravilhoso com a roupa que eu havia escolhido para ele e segurava uma caixinha transparente com uma flor branca dentro.
- Que fique bem claro que eu só vou te deixar sair com esse vestido, porque eu estarei no mesmo lugar que você, ok ? - ele disse após prender colocar a flor em meu pulso.
- É muito ruim chegar ao baile tendo seu irmão como par ? - perguntei em um falso desespero.
- Não quando se tem um irmão como o Luc. - Emma falou e olhou maliciosamente para ele. De brincadeira claro. Espero eu, afinal ela tem o Joey...
Entreguei a chave, depois de muito evitar, do meu bebê rosa para a Paula. Nenhuma delas quis ir comigo e com Luc, dizendo que seria melhor os irmãos fazer uma entrada triunfal sozinhos. Mas eu continuo achando que era só desculpa para a Flora poder chegar em um carro que combina com o seu vestido.
O caminho até o colégio foi rápido, para a minha infelicidade o baile aconteceria no ginásio, a primeira coisa que vimos quando chegamos à porta do ginásio foi uma faixa vermelha imensa, escrita em letras brancas e garrafais EARLY'S PROM.
Segurei forte na mão do Luc, enquanto ele abria a porta dupla e senti meu coração acelerar.
No segundo em que botamos nossos pés no ginásio todo mundo olhou para gente e começou a cochichar. Eu ouvia elogios e desaforos sem nem prestar atenção, tudo que me interessava era um certo alguém que estava cantando no meio do ginásio com um sorriso estonteante e olhando em minha direção.
Nossa, ele estava lindo.
Nossa, ele era meu.
Quer dizer, ele voltaria a ser meu.
Eu e meu irmão começamos a andar em direção ao palco, as meninas estavam ali perto. Dei o maior e mais sincero sorriso que pude na direção dos meninos (especialmente do Kurt) e me sentei ao lado da Ana.
- Vocês não sabem o que aconteceu. - Ana começou a falar toda animada.
- O quê ? - meu irmão perguntou.
- Adivinha.
- Ana Juli... - falei no meu melhor tom de 'conta logo'.
- O Thiago me pediu em namoro. Isso não é tudo ?
- Ah, que lindo amiga ! - falei sincera - Parabéns, agora eu só preciso me segurar para não matar o Thiago por ele não ter me contado isso antes.
- Tenta fazer algo contra o meu namorado - ela frisou essa palavra - e considere-se uma pessoa morta.
- Estou morrendo de medo de você. - encerrei a conversa.
Meu irmão passou os quarenta e sete minutos que sucederam nossa chegada secando algumas (muitas) meninas e falando o quanto os Harcourt eram bons músicos. Antes de deixá-lo sair da mesa para encontrar sua próxima 'vítima', fiz questão de deixar claro que ele poderia pegar qualquer menina ali, mas nunca jamais em tempo algum a Veh.
De repente, Thiago começou a falar com o Kurt olhando na minha direção.
- Bom, Kurt. Acho que agora você já pode começar né ? - ele balançou a cabeça e começou a falar.
- Há vários dias atrás, eu cometi um erro. Mesmo tendo a intenção certa eu fiz uma coisa errada que resultou no fim do meu relacionamento com a Bia Almeida. Eu sei que muitos de vocês dariam a vida para saber o que aconteceu, mas eu não vou falar. – ele soltou uma risada fraca e um tanto quanto debochada – Uma das vantagens de ser um cantor é que você pode pegar tudo o que sente e dizer em uma canção coisas que você não consegue expressar cara a cara à pessoa que você ama. Eu fiz essa música para você, Bia. – ele olhou para mim, sorrindo. Sorri de volta, sem nem perceber – E eu espero que você entenda o efeito que causa em mim.
If the heart is always searching
(Se o coração está sempre procurando)
Can you ever find a home ?
(Será que você consegue encontrar um lar ?)
I've been looking for that someone
(Eu tenho procurado por esse alguém)
I never make it on my own
(Nunca conseguirei sozinho)
Uma melodia agradável começou a sair do piano que Thiago tocava. Meu coração disparava a cada verso que eu ouvia. Eu não conseguia tirar os olhos do Kurt, eu não queria. Ele cantava olhando para mim.
Dreams can't take the place of loving you
(Os sonhos não podem tomar o lugar do meu amor por você)
There's gotta be a million reasons why it's true
(Há mais de mil razoes da qual isso é verdade)
Todos naquele ginásio estavam prestando atenção em nós dois, eu poderia sentir os olhares da Veh em minhas costas, conseguia ver os sorrisos nos rostos das meninas e os murmúrios de raiva das outras garotas do colégio, sem nem estar procurando por qualquer coisa dessas.
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
And tell me that you love me
(E diz que me ama)
Everything's all right
(Tudo fica bem)
When you're right here by my side
(Quando você está aqui do meu lado)
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
I catch a glimpse of heaven
(Vejo um pedaço do céu)
I find my paradise
(Eu encontro o meu paraíso)
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
As lágrimas aos poucos começavam a se acumular nos cantos dos meus olhos. Mas ao contrário das outras, que me faziam companhia desde o dia em que a gente terminou, essas lágrimas eram de felicidade.
Eu acreditava nessas palavras, porque era assim que eu me sentia. Exatamente desse jeito.
Suspirei, ao sentir a primeira lágrima cair sendo seguida de várias outras.
How long will I be waiting
(Quanto tempo vou esperar)
To be with you again ?
(Para ficar com você de novo ?)
I'm gonna tell you that I love you
(Direi que te amo)
In the best way that I can
(Da melhor maneira que eu puder)
I can't take a day without you here
(Não agüento um dia sem sua companhia)
You're the light that make my darkness disappear
(Você é a luz que faz minha escuridão desaparecer)
Entrelacei meus dedos nos dele e fiquei de costas, fazendo com que ele me abraçasse. Dormi, enquanto ele sussurrava uma música que eu ainda não conhecia. Adormeci com um dos versos ecoando em minha cabeça.
"You're the light that makes my darkness disappear"
Um sorriso apareceu em meu rosto, ao lembrar desse dia.
Então quer dizer que a surpresa já não era tão surpresa assim. Certo ?
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
And tell me that you love me
(E diz que me ama)
Everything's all right
(Tudo fica bem)
When you're right here by my side
(Quando você está bem aqui do meu lado)
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
I catch a glimpse of heaven
(Eu tenho uma visão do céu)
I find my paradise
(Eu encontro o meu paraíso)
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
Move and more, I start to realize
(Cada vez mais, começo a perceber)
I can reach my tomorrow
(Que posso alcançar o meu amanhã)
I can hold my head up high
(Consigo manter a minha cabeça erguida)
And it's all because you're by my side
(E tudo porque você está ao meu lado)
As pessoas, que estavam entre o palco e eu, começaram a abrir caminho quando o Kurt desceu do palco.
Ele andava cantando em minha direção e eu sentia meu coração quase saindo pela boca.
A música ficou um pouquinho mais calma e ele segurou meu rosto com a outra mão que não estava ocupada.
Um sorriso insistiu em se formar em meu rosto e não saiu dali tão cedo.
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
And tell me that you love me
(E diz que me ama)
Everything's all right
(Tudo fica bem)
When you're right here by my side
(Quando você está bem aqui do meu lado)
When I hold you in my arms
(Quando eu te abraço em meus braços)
I know that is forever
(Eu sei que isso é para sempre)
I just gotta let you know
(Eu apenas quero que você saiba)
And never wanna let you go
(Que eu nunca quero te ver partir)
Thiago continuou cantando a música sozinho, enquanto nós dois nos encarávamos.
Com o coração dando voltas e voltas, com as tão faladas borboletas no estômago.
Sorrindo.
'Cause when you look me in the eyes (because)
(Porque quando você olha nos meus olhos [porque])
And tell me that you love me
(E diz que me ama)
Everything's all right, (all right)
(Tudo fica bem [tudo bem])
You're right here by my side (by my side)
(Você está bem do meu lado [do meu lado])
When you look me in the eyes
(Quando você olha nos meus olhos)
I catch a glimpse of heaven
(Eu tenho a visão do céu)
Oh, I find my paradise
(Oh, eu acho meu paraíso)
When you look me in the eyes
(Quando você olha nos meus olhos)
Oh yeah, oh yeah, oh yeah
A música acabou e o ginásio todo permaneceu em silêncio, esperando a minha reação. Eu olhava abobada para ele, com as lágrimas insistentes, sem saber o que dizer.
- Deus te criou milimetricamente com aquilo que me falta e colocou em mim as coisas que, por ventura, você não tem. É como um encaixe. Ele fez tudo com tanta perfeição, com tanto cuidado, que tá aí o resultado: eu sou metade de mim sem você. - ele falava no microfone para todo mundo ouvir - Mesmo fazendo tudo errado, eu não sei viver sem você. Eu não posso ser nem a metade do que sou se você não estiver por perto.
- Kurt Harcourt, eu amo você. Não importa o que você faça ou diga, parece ter algo que sempre me puxa para você. De novo e de novo. - suspirei e continuei a falar olhando em seus olhos - E quando eu não estou com você, eu sei que é verdade que eu prefiro estar em qualquer lugar, menos aqui sem você.
E qualquer coisa que eu poderia dizer a seguir fugiu da minha mente no momento em que seus lábios tocaram os meus.
Ele largou o microfone em qualquer lugar e colocou suas mãos em minha cintura, me puxando para mais perto de seu corpo.
Oh, céus como eu senti falta disso. De seu gosto, do seu tato, de sua boca.
Sua boca procurava urgentemente pela minha, quando nossas língua se encontraram foi perfeito. Nossas línguas faziam movimentos aleatórios, nosso beijo parecia mais íntimo do que antes. Suas mãos apertaram minha cintura no mesmo momento em que ele sugou meu lábio inferior dando fim ao beijo.
Eu o encarei e o vi sorrindo. Seus olhos me encaravam mais brilhantes do que um céu coberto de estrelas, eu vi carinho e felicidade sincera em seus traços. Levei minhas mãos até seu rosto e o segurei delicadamente. Retribui seu sorriso e aproximei meus lábios dos dele, beijando-o de novo, suavemente dessa vez.
Kurt segurou minha mão e foi me puxando até a entrada do colégio, aonde tinha alguns banquinhos brancos. Saímos do ginásio em meio a gritos, suspiros e murmúrios.
- Você está linda, namorada. - ele falou todo bobo.
- Obrigada, você não está nada mal. - falei pomposa - Quem disse que eu sou sua namorada ?
- Você não quer voltar comigo ? - ele perguntei surpreso e preocupado.
- Você não pediu. - então ele se ajoelhou na minha frente e segurou uma de minhas mãos.
- Senhorita Almeida futuramente Harcourt, você me daria a honra de voltar ser a minha namorada ? Lembre-se que você estará fazendo um idiota feliz. - ele disse todo cordial.
- Idiota ? Que idiota ? Não estou vendo nenhum idiota por aqui. - falei, enquanto fingia procurar por alguém - A única pessoa que eu vejo, é o homem da minha vida.
- Então isso é um sim ?
- Não precisava nem perguntar, retardado. - eu ri e o puxei pela gola da camisa – Obrigada por não ter desistido de mim.
Agora que estávamos sozinhos, nosso beijo passou a ser ardente e artodoante.
Ele segurou meu cabelo e fez com que eu ficasse na ponta dos pés, enquanto eu coloquei minha mão por baixo de sua blusa e a outra em seu cabelo.
Ficamos assim por um longo período de tempo. Matando a saudade. Sem desgrudar nossas bocas, sem pensar em nada. Só nele, na gente.
Eu não precisava de ar, eu precisava dele.
Para sempre.
Sendo meu.
Será que alguém pode explicar como uma pessoa pode ser tão suscetível à outra ?
Eu estava pronta para dizer 'Não, Kurt. Eu não vou.'. Por mais que a minha curiosidade me matasse, eu deveria dizer isso. Eu tinha que dizer.
Mas não, foi só ele olhar para mim com aquele sorrisinho torto que eu me entreguei. E de bandeja. E por causa disso eu estou no shopping da cidade a mais de duas horas procurando um vestido no mínimo perfeito para mim. Não aguentava mais procurar, andar e ouvir as meninas reclamando, mas nada ali me agradava. Era tudo muito igual, muito comum, muito previsível.
- Ah, eu não vou mais. Pronto. - falei em um momento de estresse.
- Para de birra, Bia. Vamos entrar aqui. - Paula falou.
- Que tipo de loja é essa ? - Flora perguntou desconfiada.
- Sei lá, foi a primeira que eu vi. - Paula deu de ombros.
- Bia, mede esse. – minha prima jogou um vestido na minha direção e segundos depois, eu me vi trocando de roupa. Ok, só a Ana mesmo para achar que eu vou usar esse vestido... Perfeito.
- AH, ADOREI ESSE VESTIDO. - berrei animada, enquanto as três entravam no provador para me ver.
- Aleluia. - Paula caçoou, levantando as mãos para o céu.
- Ficou lindo. Desse jeito o Kurt não vai resistir. - Flora disse me cutucando.
- Que isso, hein gatinha. Se eu fosse homem, te pegava. - todas nós rimos do comentário desnecessário da Ana Juli.
As meninas discutiam sobre a tal surpresa do Kurt, enquanto eu me trocava. Eu já não aguentava mais dizer que eu não tinha a mínima ideia sobre o que podia ser, eu estava no escuro assim como elas. Mas devo confessar que o meu coração acelerava só de pensar nisso, eu não conseguia esconder minha ansiedade e ela ficava ainda mais vísivel quando eu ligava para o Kurt só para falar 'E aí ? você não vai me contar mesmo não ?'.
- Bia ? Você ouviu o que a gente falou ? - Paula perguntou.
- Claro. – menti
- Então o que foi ?
- Você perguntou se eu ouvi o que você falou. – falei como se fosse óbvio.
- Antes disso, demente.
- Não. - falei sincera.
- Para variar um pouquinho... Enfim, ainda falta comprar o terno, seja lá como chamam, do seu irmão.
- Paula toda preocupadinha com o Luc. - Ana falou
- Para variar um pouquinho. - eu imitei a voz da Paula. Ok, admito que não sou boa nisso - Ele gosta de usar os da Dior.
- Vamos voltar na loja da Dior ? Não acredito, Bia. Por que você não comprou isso quando a gente estava lá ? - Paula despejou.
- Cala a boca e anda, Smith. - nós três falamos juntas. Ela soltou um murmúrio de reclamação, mas ainda assim fez o que a gente falou.
Encontrar a roupa para o meu irmão foi mais fácil do que eu imaginei. Na verdade, eu escolhi a primeira que vi, mas ninguém precisa saber disso certo ? O Luc fica bem em qualquer trapo de pano, às vezes dá inveja. Sério. Eu já perdi a conta de quantas roupas eu vesti e que ficaram horríveis em mim, mas com ele isso nunca acontece. Coisa chata, né ?
Depois de comprar as coisas que faltavam, nós fomos para o Star Fashion Hairdresser. Eu sei, muito original esse nome, mas o que importava era o atendimento e esse era muito bom. O melhor da cidade sem dúvidas. Decidi deixar meu cabelo solto, ondulado e com a franja de lado; dei uma repicada baixa nas pontas e cortei a franja que já estava grandinha. Eu e a Paula fazíamos as unhas, enquanto a Ana e a Flora estavam sendo maquiadas.
Resolvi que esse era o momento certo para contar da decisão do meu irmão.
- Paula ?
- Sim ? - ela desviou os olhos da Rolling Stones e me encarou.
- Eu conversei com meu irmão.
- Sobre o quê ?
- Sobre a sua permanência lá em casa.
- Por que você ainda insiste nisso, fofinha ? Ele já falou que não me quer lá. Fim de papo. - ela murmurou tristonha.
- E se eu disser que ele mudou de ideia ?
- Sério ?
- Quer dizer... Ele não mudou de ideia, assim do nada. - tentei justificar - Ele só te deu uma chance para você provar que pode mudar.
- Mudar quem eu sou ? - ela perguntou ríspida.
- Não, mudar essa sua mania de bêbada. Sabia que as pessoas funcionam sem álcool, Smith ?
- Até conhecer você, não. - ela riu.
- Engraçadinha você.
- Também te amo fofinha. - ela me mandou um beijo - Então, isso significa que eu vou ter que me comportar a partir de hoje.
- Sim. - ficamos em silêncio e segundos depois eu falei - Paula, não faz meu irmão se arrepender de ter te dado essa chance e nem eu de ter pedido, tá ?
- Eu não vou te desapontar, Bia. Nem você, nem o Luc. - ela suspirou.
Nós saímos do salão um pouco além de oito horas, só faltava tomar um banho, nos vestir e ir para o colégio.
O baile estava marcado para 21:30, isso significava atraso na certa.
-- Fala, gordinha. - a voz sonolenta do meu irmão atendeu ao telefone.
- Por favor me diz que você não estava dormindo, que já tomou seu banho e está prontinho esperando eu chegar. - não deixei ele responder - Tanto faz, estou chegando em cinco minutos. Esteja quase pronto.
Agora sim eu estava começando a entrar em pane. O meu nervosismo e a minha curiosidade me consumiam a cada segundo mais e mais, eu queria poder ver o Kurt, falar com o Joey e abraçar o Thiago para tentar me acalmar, mas a essa hora eles já deveriam estar no colégio.
Nós quatro chegamos em casa rapidamente e cada uma foi para o seu quarto. Dei de cara com um Luc de toalha e com os cabelos pingando saindo do meu banheiro. Revirei meus olhos e joguei sua roupa em minha cama.
- Dior ?
- Aham. - murmurei, enquanto entrava no banho.
Fiz o meu melhor para tomar um banho decente e não estragar meu cabelo (o que foi muito difícil, só pra constar). Coloquei meu vestido azul, passei uma sombra prata, gloss incolor, blush fraquinho só pra dar uma coradinha e caprichei no rímel.
- Bia, me presta uma sandália ? - Ana pediu, enquanto entrava no quarto com seu vestido tomara que caia vermelho da Chanel.
- Escolhe aí, mas primeiro me ajuda aqui. Louboutin preto, Miu Miu azul ou Brian Atwood prata ? - pedi em dúvida, amostrando todas as opções.
- Brian prata, porque eu vou querer o Louboutin preto. - ela disse rindo.
Eu estava a tira com pedrinhas bordadas da minha sandália de salto 10, quando ouvi a Paula berrar o meu nome e da Ana lá em baixo. Ela estava impaciente. Nós duas descemos a escada lentamente (e de propósito), fazendo a Flora bufar.
Luc estava impossivelmente maravilhoso com a roupa que eu havia escolhido para ele e segurava uma caixinha transparente com uma flor branca dentro.
- Que fique bem claro que eu só vou te deixar sair com esse vestido, porque eu estarei no mesmo lugar que você, ok ? - ele disse após prender colocar a flor em meu pulso.
- É muito ruim chegar ao baile tendo seu irmão como par ? - perguntei em um falso desespero.
- Não quando se tem um irmão como o Luc. - Emma falou e olhou maliciosamente para ele. De brincadeira claro. Espero eu, afinal ela tem o Joey...
Entreguei a chave, depois de muito evitar, do meu bebê rosa para a Paula. Nenhuma delas quis ir comigo e com Luc, dizendo que seria melhor os irmãos fazer uma entrada triunfal sozinhos. Mas eu continuo achando que era só desculpa para a Flora poder chegar em um carro que combina com o seu vestido.
O caminho até o colégio foi rápido, para a minha infelicidade o baile aconteceria no ginásio, a primeira coisa que vimos quando chegamos à porta do ginásio foi uma faixa vermelha imensa, escrita em letras brancas e garrafais EARLY'S PROM.
Segurei forte na mão do Luc, enquanto ele abria a porta dupla e senti meu coração acelerar.
No segundo em que botamos nossos pés no ginásio todo mundo olhou para gente e começou a cochichar. Eu ouvia elogios e desaforos sem nem prestar atenção, tudo que me interessava era um certo alguém que estava cantando no meio do ginásio com um sorriso estonteante e olhando em minha direção.
Nossa, ele estava lindo.
Nossa, ele era meu.
Quer dizer, ele voltaria a ser meu.
Eu e meu irmão começamos a andar em direção ao palco, as meninas estavam ali perto. Dei o maior e mais sincero sorriso que pude na direção dos meninos (especialmente do Kurt) e me sentei ao lado da Ana.
- Vocês não sabem o que aconteceu. - Ana começou a falar toda animada.
- O quê ? - meu irmão perguntou.
- Adivinha.
- Ana Juli... - falei no meu melhor tom de 'conta logo'.
- O Thiago me pediu em namoro. Isso não é tudo ?
- Ah, que lindo amiga ! - falei sincera - Parabéns, agora eu só preciso me segurar para não matar o Thiago por ele não ter me contado isso antes.
- Tenta fazer algo contra o meu namorado - ela frisou essa palavra - e considere-se uma pessoa morta.
- Estou morrendo de medo de você. - encerrei a conversa.
Meu irmão passou os quarenta e sete minutos que sucederam nossa chegada secando algumas (muitas) meninas e falando o quanto os Harcourt eram bons músicos. Antes de deixá-lo sair da mesa para encontrar sua próxima 'vítima', fiz questão de deixar claro que ele poderia pegar qualquer menina ali, mas nunca jamais em tempo algum a Veh.
De repente, Thiago começou a falar com o Kurt olhando na minha direção.
- Bom, Kurt. Acho que agora você já pode começar né ? - ele balançou a cabeça e começou a falar.
- Há vários dias atrás, eu cometi um erro. Mesmo tendo a intenção certa eu fiz uma coisa errada que resultou no fim do meu relacionamento com a Bia Almeida. Eu sei que muitos de vocês dariam a vida para saber o que aconteceu, mas eu não vou falar. – ele soltou uma risada fraca e um tanto quanto debochada – Uma das vantagens de ser um cantor é que você pode pegar tudo o que sente e dizer em uma canção coisas que você não consegue expressar cara a cara à pessoa que você ama. Eu fiz essa música para você, Bia. – ele olhou para mim, sorrindo. Sorri de volta, sem nem perceber – E eu espero que você entenda o efeito que causa em mim.
If the heart is always searching
(Se o coração está sempre procurando)
Can you ever find a home ?
(Será que você consegue encontrar um lar ?)
I've been looking for that someone
(Eu tenho procurado por esse alguém)
I never make it on my own
(Nunca conseguirei sozinho)
Uma melodia agradável começou a sair do piano que Thiago tocava. Meu coração disparava a cada verso que eu ouvia. Eu não conseguia tirar os olhos do Kurt, eu não queria. Ele cantava olhando para mim.
Dreams can't take the place of loving you
(Os sonhos não podem tomar o lugar do meu amor por você)
There's gotta be a million reasons why it's true
(Há mais de mil razoes da qual isso é verdade)
Todos naquele ginásio estavam prestando atenção em nós dois, eu poderia sentir os olhares da Veh em minhas costas, conseguia ver os sorrisos nos rostos das meninas e os murmúrios de raiva das outras garotas do colégio, sem nem estar procurando por qualquer coisa dessas.
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
And tell me that you love me
(E diz que me ama)
Everything's all right
(Tudo fica bem)
When you're right here by my side
(Quando você está aqui do meu lado)
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
I catch a glimpse of heaven
(Vejo um pedaço do céu)
I find my paradise
(Eu encontro o meu paraíso)
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
As lágrimas aos poucos começavam a se acumular nos cantos dos meus olhos. Mas ao contrário das outras, que me faziam companhia desde o dia em que a gente terminou, essas lágrimas eram de felicidade.
Eu acreditava nessas palavras, porque era assim que eu me sentia. Exatamente desse jeito.
Suspirei, ao sentir a primeira lágrima cair sendo seguida de várias outras.
How long will I be waiting
(Quanto tempo vou esperar)
To be with you again ?
(Para ficar com você de novo ?)
I'm gonna tell you that I love you
(Direi que te amo)
In the best way that I can
(Da melhor maneira que eu puder)
I can't take a day without you here
(Não agüento um dia sem sua companhia)
You're the light that make my darkness disappear
(Você é a luz que faz minha escuridão desaparecer)
Entrelacei meus dedos nos dele e fiquei de costas, fazendo com que ele me abraçasse. Dormi, enquanto ele sussurrava uma música que eu ainda não conhecia. Adormeci com um dos versos ecoando em minha cabeça.
"You're the light that makes my darkness disappear"
Um sorriso apareceu em meu rosto, ao lembrar desse dia.
Então quer dizer que a surpresa já não era tão surpresa assim. Certo ?
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
And tell me that you love me
(E diz que me ama)
Everything's all right
(Tudo fica bem)
When you're right here by my side
(Quando você está bem aqui do meu lado)
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
I catch a glimpse of heaven
(Eu tenho uma visão do céu)
I find my paradise
(Eu encontro o meu paraíso)
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
Move and more, I start to realize
(Cada vez mais, começo a perceber)
I can reach my tomorrow
(Que posso alcançar o meu amanhã)
I can hold my head up high
(Consigo manter a minha cabeça erguida)
And it's all because you're by my side
(E tudo porque você está ao meu lado)
As pessoas, que estavam entre o palco e eu, começaram a abrir caminho quando o Kurt desceu do palco.
Ele andava cantando em minha direção e eu sentia meu coração quase saindo pela boca.
A música ficou um pouquinho mais calma e ele segurou meu rosto com a outra mão que não estava ocupada.
Um sorriso insistiu em se formar em meu rosto e não saiu dali tão cedo.
When you look me in the eyes
(Quando você me olha nos olhos)
And tell me that you love me
(E diz que me ama)
Everything's all right
(Tudo fica bem)
When you're right here by my side
(Quando você está bem aqui do meu lado)
When I hold you in my arms
(Quando eu te abraço em meus braços)
I know that is forever
(Eu sei que isso é para sempre)
I just gotta let you know
(Eu apenas quero que você saiba)
And never wanna let you go
(Que eu nunca quero te ver partir)
Thiago continuou cantando a música sozinho, enquanto nós dois nos encarávamos.
Com o coração dando voltas e voltas, com as tão faladas borboletas no estômago.
Sorrindo.
'Cause when you look me in the eyes (because)
(Porque quando você olha nos meus olhos [porque])
And tell me that you love me
(E diz que me ama)
Everything's all right, (all right)
(Tudo fica bem [tudo bem])
You're right here by my side (by my side)
(Você está bem do meu lado [do meu lado])
When you look me in the eyes
(Quando você olha nos meus olhos)
I catch a glimpse of heaven
(Eu tenho a visão do céu)
Oh, I find my paradise
(Oh, eu acho meu paraíso)
When you look me in the eyes
(Quando você olha nos meus olhos)
Oh yeah, oh yeah, oh yeah
A música acabou e o ginásio todo permaneceu em silêncio, esperando a minha reação. Eu olhava abobada para ele, com as lágrimas insistentes, sem saber o que dizer.
- Deus te criou milimetricamente com aquilo que me falta e colocou em mim as coisas que, por ventura, você não tem. É como um encaixe. Ele fez tudo com tanta perfeição, com tanto cuidado, que tá aí o resultado: eu sou metade de mim sem você. - ele falava no microfone para todo mundo ouvir - Mesmo fazendo tudo errado, eu não sei viver sem você. Eu não posso ser nem a metade do que sou se você não estiver por perto.
- Kurt Harcourt, eu amo você. Não importa o que você faça ou diga, parece ter algo que sempre me puxa para você. De novo e de novo. - suspirei e continuei a falar olhando em seus olhos - E quando eu não estou com você, eu sei que é verdade que eu prefiro estar em qualquer lugar, menos aqui sem você.
E qualquer coisa que eu poderia dizer a seguir fugiu da minha mente no momento em que seus lábios tocaram os meus.
Ele largou o microfone em qualquer lugar e colocou suas mãos em minha cintura, me puxando para mais perto de seu corpo.
Oh, céus como eu senti falta disso. De seu gosto, do seu tato, de sua boca.
Sua boca procurava urgentemente pela minha, quando nossas língua se encontraram foi perfeito. Nossas línguas faziam movimentos aleatórios, nosso beijo parecia mais íntimo do que antes. Suas mãos apertaram minha cintura no mesmo momento em que ele sugou meu lábio inferior dando fim ao beijo.
Eu o encarei e o vi sorrindo. Seus olhos me encaravam mais brilhantes do que um céu coberto de estrelas, eu vi carinho e felicidade sincera em seus traços. Levei minhas mãos até seu rosto e o segurei delicadamente. Retribui seu sorriso e aproximei meus lábios dos dele, beijando-o de novo, suavemente dessa vez.
Kurt segurou minha mão e foi me puxando até a entrada do colégio, aonde tinha alguns banquinhos brancos. Saímos do ginásio em meio a gritos, suspiros e murmúrios.
- Você está linda, namorada. - ele falou todo bobo.
- Obrigada, você não está nada mal. - falei pomposa - Quem disse que eu sou sua namorada ?
- Você não quer voltar comigo ? - ele perguntei surpreso e preocupado.
- Você não pediu. - então ele se ajoelhou na minha frente e segurou uma de minhas mãos.
- Senhorita Almeida futuramente Harcourt, você me daria a honra de voltar ser a minha namorada ? Lembre-se que você estará fazendo um idiota feliz. - ele disse todo cordial.
- Idiota ? Que idiota ? Não estou vendo nenhum idiota por aqui. - falei, enquanto fingia procurar por alguém - A única pessoa que eu vejo, é o homem da minha vida.
- Então isso é um sim ?
- Não precisava nem perguntar, retardado. - eu ri e o puxei pela gola da camisa – Obrigada por não ter desistido de mim.
Agora que estávamos sozinhos, nosso beijo passou a ser ardente e artodoante.
Ele segurou meu cabelo e fez com que eu ficasse na ponta dos pés, enquanto eu coloquei minha mão por baixo de sua blusa e a outra em seu cabelo.
Ficamos assim por um longo período de tempo. Matando a saudade. Sem desgrudar nossas bocas, sem pensar em nada. Só nele, na gente.
Eu não precisava de ar, eu precisava dele.
Para sempre.
Sendo meu.
O melhor sonho. Capítulo 2. parte 12
A campainha tocava repetidamente, mas eu não podia deixar a Ana atender, não podia ! Era completamente impossível eu não sentir medo do Arthur. Como você pode não ter medo de alguém como ele que fez o que fez comigo ontem ?
Pensar no Arthur fazia com que as lembranças daquela noite voltassem a minha cabeça. A raiva, a repulsa, a dor, tudo. Eu não estava pronta ou bem o suficiente para vê-lo e escutar qualquer coisa que ele queira falar, eu nem tive tempo para tentar superar tudo isso que aconteceu ...
Ninguém sabia o que fazer e por isso deixávamos que ele enfiasse o dedo na campainha de prata do lado de fora da minha casa por quanto tempo aguentasse, uma hora ele ia desistir.
Mas o que ninguém contava era que o meu irmão pudesse se irritar com esse barulho todo, descer como uma bola pela escada, passar pela gente berrando um impaciente 'Não estão ouvindo a campainha tocar não ?' e abrir a porta. Bem... Foi extamente isso o que aconteceu.
Tentei gritar para ele não abrir a porta, mas já era tarde demais.
Mais rápido do que eu pude perceber, Arthur já estava agarrando meu braço e apertando-o. Meus olhos estavam marejados e nada saía de minha boca, eu não entendia nem uma vírgula do que estavam falando. Ele berrava comigo e meu irmão só olhava essa situação com uma aparência confusa.
- RESPONDE. - Arthur berrou mais uma vez.
- Me solta, Arthur. - murmurei em um tom de voz mais baixo do que o normal. Eu queria sair de perto dele, correr para longe dali, toda vez que ele tocava em mim e falava comigo aumentava o meu desespero (já aparente) e o meu medo.
- Arthur ? - meu irmão o chamou.
- QUE É CACETE ? NÃO TÁ VENDO QUE EU ESTOU FALANDO COM ESSA PIRANHA AQUI ? - ele berrou em resposta - QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA FAZER UMA DENÚNCIA SOBRE MIM, ALMEIDA ? VOCÊ TEM NOÇÃO DAS COISAS QUE EU OUVI ? VOCÊ VAI SE ARREPENDER, BIA. E VAI SE ARREPENDER AGORA.
Pronto, era só o que me faltava. Arthur levantou seu braço, com a intenção de me bater e por pouco não o fez.
Para o meu grande alívio, meu irmão percebeu o que ele iria fazer e o puxou para longe de mim. Entretanto, esse alívio durou pouco.
Assim como o Luc percebeu o futuro ato do Arthur, ele também ligou o nome a pessoa. Arthur. Ontem. Festa. Estupro.
Os dois estavam rolando no hall da minha casa, Luc berrava coisas como 'Você vai se arrepender de ter tocado na minha irmã.' e 'Eu ainda vou te ver morto, seu canalha.' Meu desespero aumentou, quando o Arthur conseguiu ficar por cima do Luc e começou a dar socos nele, na barriga, no rosto...
Porém, graças à insistência do nosso amado pai, o Luc era um exímio lutador, daqueles que se entram em uma briga de rua (não que ele já tenha entrado em uma) não entram para perder.
Quem estava no chão agora era o outro, ele levava soco atrás de soco, chute na barriga, nas pernas, em todo lugar alcançável.
Meu irmão emanava uma raiva desconhecida por mim, eu via em seus olhos o que ele estava sentindo.
Depois de um pouco mais de dez minutos batendo, o Luc começou a arrastar o Arthur pela gola de sua camisa. O corpo dele batia no chão, ele tentava se soltar e se debatia todo, mas o meu irmão não estava nem se importando.
Eu poderia gritar e pedir para o Luc parar, dizer que não valia a pena sujar as mãos com alguém como o Arthur, mas eu queria que ele sofresse. Que ele se arrependesse até o último fio de cabelo naquele corpo imundo por ter me feito mal. Queria que ele agonizasse, não suportasse aquilo. No fim de tudo, a verdade é que eu queria que ele morresse.
E não, eu não me sentia mal por desejar a morte de alguém. Nesse momento, era tudo que eu mais queria.
- SE EU TE VER A MENOS DE 100 km DA MINHA IRMÃ, VOCÊ VAI DESEJAR TER MORRIDO QUANDO EU TE ENCONTRAR, OUVIU BEM ? – eu ouvi o Luc berrar, enquanto o Arthur saia correndo morrendo de medo.
Permiti-me sentar e me entregar as lágrimas por completo, o que já estava virando um hábito. Encostei meu rosto em minha perna e chorei, chorei, chorei.
Luc se abaixou na minha frente e foi levantando meu rosto com cuidado. Parei alguns segundos para examiná-lo meticulosamente, ele tinha um corte no supercílio, sua boca sangrava e seu cabelo estava sujo de sangue. Isso sem contar os hematomas que estavam cobertos pela roupa.
Agarrei em seu pescoço e o abracei mais forte que pude, chorei copiosamente em seus braços, enquanto ele tentava dizer algo que me acalmasse. Entretanto, não havia nada que ele pudesse dizer para me fazer sentir melhor, mais uma vez eu estava sendo a culpada pelo sofrimento de uma das pessoas que eu mais amo no mundo. E eu só queria que isso parasse de acontecer.
- Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa. - eu murmurava repetidas vezes, enquanto alisava o seu rosto.
- Você não tem culpa de nada, pequena. Para com isso.
- Tenho sim, gordinho. Olha para você, olha como você está.
- Isso aqui vai passar, Bia. É dor física, um dia acaba. Não chora pequena, por favor. - ele falou tentando enxugar minhas lágrimas - Vem comigo.
Antes que eu pudesse levantar, o Luc passou um de seus braços por debaixo de minha perna e o outro em minhas costas, me carregando em seus braços. As meninas não falaram nada, apenas nos observaram enquanto ele me levava para o seu quarto.
Meu irmão me deitou em sua cama, deu a volta na mesma e se deitou ao meu lado. Nós ficamos nos olhando, até que eu agarrei sua cintura e me agoncheguei em seus braços, o apertando com toda a minha força (para ter certeza de que ele não sairia de perto de mim).
Pude ouvi-lo soltar um murmúrio de dor.
- Que foi ? - perguntei preocupada.
- Dói. - ele levantou a blusa e eu pude ver sua barriga roxa, cheia de hematomas.
- Eu vou lá em baixo pegar alguma coisa para você.
- Não, você não vai. Deixa que eu vou.
- Será que eu posso cuidar um pouco do meu irmão mais velho, Sr. Valente ? - perguntei, tentando descontrair.
- Depois de todo trabalho que ele teve para trazer a donzela em perigo para esse quarto ? - ele revidou com uma falsa indignação.
- Se você estiver ensinuando que eu estou gorda, considere-se um homem morto. - ele revirou os olhos.
- Ui, estou morrendo de medo.
Dei um tapa de leve em seu braço, para não machucá-lo mais e saí do quarto.
As meninas estavam na sala, ainda assustadas com o que tinha acontecido. Fui em direção à cozinha, com a Ana atrás de mim.
- Ai, amiga... - ela falou enquanto me abraçava
- ... - eu não falei nada, deixei minhas lágrimas cairem novamente, enquanto a abraçava de volta.
- Eu ... - ela não precisou terminar a frase, eu sabia o que ela falaria.
- Eu também.
- Vocês vão ...
- Vamos, eu espero.
Peguei dois pacotes de gelo (os quais eu esqueci o nome), a malinha de primeiros socorros, um copo de água e um remédio para dor.
- Bia... - ela me chamou quando eu já estava subindo as escadas.
- Fala, prima...
- Eu estou aqui para tudo, tá ?
- Eu sei. - tentei sorrir - Você sempre está. Obrigada, tá ? - e nesse momento eu percebi, que não importa o que aconteça, tudo vai ficar bem. A Ana Juli me transmite essa segurança e eu gosto disso.
Quando cheguei ao quarto de hóspedes, o Luc estava sentado na cama, assistindo Bob Esponja. Fala sério, quem ainda assiste Bob Esponja ?
- E aqui senhoras e senhores, encontramos Luc Almeida, a estrela de 'De volta ao passado'. - falei rindo e chamando sua atenção, enquanto fechava a porta.
- Primeiro, o nome certo é 'De volta para o futuro'. Segundo, não faça isso de novo. Sinceramente, você não é nem um pouco engraçada, maninha.
- Coincidência, né ? - falei debochada - Chega para lá, deixa eu cuidar de você.
Eu me sentei na frente dele e coloquei os pacotes de gelo em sua barriga. Ok, eu não sei se vai adiantar, mas o que vale é a intenção, certo ?
Peguei um cotonete molhado com álcool e comecei a limpar o corte de seu supercílio, passei o mesmo remédio que a Paula coloca em mim quando eu me corto. Ele reclamou de dor e eu o mandei parar de frescura.
Em seguida, peguei uma toalha de mão branca, molhei com água e comecei a limpar o corte de sua boca. Fiz tudo com o máximo de cuidado possível para não machucá-lo. Quando terminei, dei um beijinho no canto de sua boca (aonde estava machucado) e ele soltou uma gargalhada gostosa de se ouvir.
- Não vale, Bia. Eu que fazia isso com você. - ele fez um biquinho fofo.
- Eu sei e era tão lindo. Você sempre falava 'Deixa que eu dou um beijinho para passar'.
- Pois é. Às vezes você se machucava de próposito, pensa que eu não sei ?
- Ah, você sabe como eu sou desastrada né ? - falei com uma voz fofa - Além do mais, eu sempre gostei de ter sua atenção para mim.
- A gente era feliz e não sabia.
- Era tudo mais fácil antes, não era ?
- Era. Mais nem sempre o mais fácil é o melhor. - ele falou pensativo. Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que eu falei.
- Eu tenho medo, Luc.
- De que, amor ?
- De não conseguir superar isso. - ele suspirou pesadamente e me deu um beijo na testa.
- Você vai, pequena. - ele começou - Você não vai esquecer completamente isso, é fato. Mas com o passar do tempo você vai aprender a conviver com o que aconteceu e aquilo não vai passar de uma lembrança ruim.
- Assim espero, maninho.
Ficamos em silêncio durante um tempo, ele fazendo carinho em minha cabeça e eu desenhando aleatoriamente em sua barriga (agora gelada). Eu estava tomando coragem e tentando encontrar as palavras certas para começar a falar sobre a Paula.
- Eu não te odeio.
- Eu sei que não.
- Eu sei que você sabe, mas eu queria que você me ouvisse dizer isso.
- Quem bom que você quis isso... Sabe, não é nada legal ouvir a pessoa que você mais ama no mundo dizer que te odeia.
- Mesmo sabendo que é mentira...
- É, mesmo assim.
- Você me irritou naquela hora, dando uma de 'faz o que eu mando e cala a boca'.
- Ah, meu anjo. Você sabe como eu sou quando estou chateado.
- Pior que eu sei, sei bem. Você não mede palavras e isso machuca.
- Eu sei ... - ele falou simplesmente.
- Será que ... - eu comecei.
- Será que ?
- Eu... É... Hum...
- Fala logo, gordinha. Tá tentando encontrar as palavras certas para falar comigo ? Seu irmão lindo, absoluto e gostoso.
- Ah, pelo jeito a humildade da família ficou com a Ana. - nós dois rimos.
- Eu pensei que você iria falar que a humildade tinha ficado com você, maluca.
- Esqueceu que por ser sua irmã, automaticamente, eu também sou linda, absoluta e gostosa. Talvez não exista modéstia em nosso sangue, mas só talvez, sabe ?
- Nós ficamos com tudo bom da família, o resto tá com a Ana. - eu ri alto.
- Mas não era disso que você queria falar comigo, era amor ?
- Não.
- Então...
- Então que a parada é a seguinte. - ele abriu a boca para falar - E se você completar essa frase com aquela idiota que o nosso tio do Brasil te ensinou, você vai ver.
- Mas eu não ia falar nada, credo.
- Enfim, eu queria te pedir para...
- Para ?
- Deixa a Paula ficar aqui. - ele me olhou - Por favor, por favor, por favorzinho.
- Não sei, Bia. Acho que vai ser melhor ela ir embora.
- Se você não quer por ela, deixa por mim então.
- Você não vai me convencer com essa carinha de cachorro molhado perdido na mudança, Bia.
- Poxa, Luc. Segue minha linha rosa de raciocínio...
- Linha rosa de raciocínio ? - ele repetiu, rindo de mim.
- POSSO continuar ?
- Por favor, madame. Prossiga.
- Idiota. Enfim, pense comigo... Se estando junto com a gente, a Paula bebe até cair imagina se ela estiver sozinha. O que não vai acontecer ? Ela pode até tentar se matar, aí depois você não vir conversar comigo por causa de peso na consciência não. Você vai vir para o meu quarto, desabafar e eu vou dizer sabe o que ? Bem feito.
- Larga de ser dramática, garota. Até parece que a Paula vai se matar. Se bem que eu pensei que ela era responsável e descobri exatamente o contrário...
- Se bem que eu pensava que você gostava dela... Também.
- Mas eu gostava, por isso que a decepção foi grande. Eu ainda estou chateado com ela, Bia. Por favor não insista em algo que eu não posso atender.
- Ela pode virar uma maníaca alcólica se ficar sozinha, Luc.
- Biazinha da minha vida, ela vai ser o que ela é em qualquer lugar.
- Mas a gente pode pelo menos tentar ajudá-la, não é ?
- Não sei.
- Ela pode aprender com os erros. As pessoas mudam, meu lindo.
- As pessoas não mudam, Bia. Por exemplo, eu vou continuar a repetir: as pessoas não mudam.
- O assunto é sério, Luc.
- Eu não posso te prometer nada.
- Pode sim. Promete para mim que você não vai ignorar a Paula, que não vai agir como se ela não existisse ?
- Bia, você lembra da Luz ?
- Luz ? A nossa poodle da Inglaterra que gostava mais de você do que de mim ? - perguntei confusa, por ele ter mudado o assunto tão drásticamente.
- Ela mesmo.
- Ela era uma idiota. Você vivia ignorando a bichinha e ainda assim ela preferia você. E ?
- Então, algumas meninas são como a Luz.
- Como assim ? - perguntei confusa.
- É só ignorar que elas gamam.
- SEU CACHORRO. - exclamei rindo - Mas você sabe que não precisa ignorá-la, a Paula já está gamada.
- Eu sei e talvez esse seja o motivo da minha decepção.
- PARA TUDO. Luc você está dizendo que também está gamado nela ?
- Eu ? Gamado ? Em alguém ? Putz, cala a boca Bia. Nem parece que você me conhece.
- Ué, as pessoas mudam. E você ficou gamadão na tal da Sara...
- A Sara é passado, falou ?
- Falou ! - respondi rindo - Mas enfim, o que ficou decidido ?
- Ela tem até o dia que eu a mandei sair de casa para provar que mudou. Caso contrário...
- AAAAAAH. QUE LINDO, QUE LINDO. - eu pulei em cima dele e comecei a beijar seu rosto - POR ISSO QUE EU TE AMO, TE AMO, TE AMO.
- O que eu não faço para te ver feliz em pequena ?
Nós ficamos conversando sobre assuntos aleatórios durante um bom tempo. Relembramos a nossa infância, falamos sobre o Zach e a gravadora, sobre nossos pais, a minha escola, tudo. Já era tarde quando a Ana entrou no quarto.
- Ah, eu também quero fazer parte desse momento fraternal. - ela falou e se jogou em cima de nós dois, que estávamos abraçados na cama.
- Ai, Ana Juli. Saí de cima. - eu a empurrei.
- O que os irmãos mais gatos que eu conheço fazem aqui ?
- A gente só estava conversando... - Luc falou.
- Matando a saudade dos velhos tempos. - eu completei.
- Eu tenho muita saudade dos velhos tempos. - ela falou aérea - Principalmente da época em que nós erámos o trio parada dura. Lembra ?
- LEMBRO. - eu e meu irmão falamos juntos.
- Por que as coisas não são mais como eram antes ?
- Porque a gente cresceu, minha cara prima.
- Minha cara prima, Luc ? Você me chamava de coisa melhor antes. - a Ana falou esnobe.
- Tapada ? - eu arrisquei, rindo.
- Lerdinha ?
- Poinha ?
- Cocotinha ?
- Gretchen ?
- Coisinha ?
- Ah, para vocês, não.
- Qual era o apelido, Ana ? Eu não lembro. - falei
- Pois é, nem eu. Só sei que era bonitinho.
- Ai, parece que cada dia que passa você fica pior. - Luc falou rindo.
- Tanto faz. - ela deu de ombros e, ao mesmo tempo, alguém bateu na porta. - ENTRA, NÃO TRANQUEI.
- Por que você trancaria a porta ? Só por curiosidade... - Luc.
- Para atacar vocês. - ela tentou fazer uma voz sensual.
- Ana Juli, não. - falei.
- Er, oi ?
Oi. Como se respira ?
Kurt estava na porta do quarto, vestindo uma camisa social branca e uma calça jeans, com os óculos Ray Ban na cabeça e me seduzindo. Já falei que homen de camisa social e de branco é uma perdição ?
- Oi, Kurt. - meu irmão falou sorrindo para ele.
- Hey, Kurt. - falei, quando consegui.
- Oi, Kurt. Tudo bom com você ? Comigo está tudo ótimo. Veio fazer o que aqui ?
- Você já falou isso lá em baixo, Ana. - ele fez uma cara linda de 'você é idiota ou o que ?'
- Já ? - ele afirmou - Enfim, tá fazendo o que aqui ?
- Bem, você subiu para chamar a Bia para mim, mas demorou demais. Aí a Flora falou para eu vir aqui.
- Sabia que eu estava esquecendo de alguma coisa.
- Cabeção. - meu irmão falou, enquanto dava um tapa de leve na cabeça de nosso prima.
- Então, Bia. Posso falar com você ? - ele pediu.
- Ah, claro.
- Larga de ser anta, Bia. Ele quer falar com você em particular.
- Seu amor por mim me toca, maninho.
- Você tá bem, Luc ? A Paula me contou o que aconteceu... - Joey falou.
- Vou ficar, só não toca mais nesse assunto. Vai ser melhor assim. - ele indicou a cabeça na minha direção e Kurt entendeu o que ele quis dizer.
- Vamos ? - pedi.
Ele me seguiu até o jardim, sem falar nada. A noite estava linda e as luzes da piscina já estavam ligadas.
- Como você está, minha linda ?
- Na medida do possível, bem.
- Desculpa não ter ficado o dia todo com você, mas a gente precisava ensaiar...
- Para o baile né ?
- Aham, já é amanhã. O nervosismo está me matando.
- Fica calmo. Vocês são ótimos e tudo vai dar certo, você vai ver.
- Tudo vai dar certo se você estiver lá, por mim.
- Não sei se é uma boa ideia, Kurt.
- Eu sei que você deve estar querendo distância de festas, mas eu preciso de você lá. Eu vou estar lá. Eu, o Thiago, o Joey, a Ana, a Flora, a Paula, você pode levar o Luc também. Não vai acontecer nada, Bia. Confia em mim.
- Mas...
- Por favor ?
- Ah, Kurt. Isso não é justo.
- Lembra da surpresa que eu te falei ? - balancei a cabeça, afirmando - Então, você só vai descobrir o que é se for.
- Isso. Não. É. Justo. - falei pausadamente, enquanto dava fracos beliscões em sua barriga. E que barriga
- O mundo não é justo.
Só depois que ele falou isso que eu percebi o quanto nós estávamos próximos. Eu podia sentir sua respiração ofegante em meu rosto, seus olhos fitavam o meu de uma forma que eu não consigo descrever e sua boca... Ah, aquela boca estava gritando meu nome.
Antes de se quer pensar na possibilidade de agarrá-lo naquele momento, Kurt se afastou de mim, fazendo com que eu soltasse um suspiro aborrecido. Ele riu levemente.
- Então ?
- Então o quê ?
- Você vai ao baile ?
Pensar no Arthur fazia com que as lembranças daquela noite voltassem a minha cabeça. A raiva, a repulsa, a dor, tudo. Eu não estava pronta ou bem o suficiente para vê-lo e escutar qualquer coisa que ele queira falar, eu nem tive tempo para tentar superar tudo isso que aconteceu ...
Ninguém sabia o que fazer e por isso deixávamos que ele enfiasse o dedo na campainha de prata do lado de fora da minha casa por quanto tempo aguentasse, uma hora ele ia desistir.
Mas o que ninguém contava era que o meu irmão pudesse se irritar com esse barulho todo, descer como uma bola pela escada, passar pela gente berrando um impaciente 'Não estão ouvindo a campainha tocar não ?' e abrir a porta. Bem... Foi extamente isso o que aconteceu.
Tentei gritar para ele não abrir a porta, mas já era tarde demais.
Mais rápido do que eu pude perceber, Arthur já estava agarrando meu braço e apertando-o. Meus olhos estavam marejados e nada saía de minha boca, eu não entendia nem uma vírgula do que estavam falando. Ele berrava comigo e meu irmão só olhava essa situação com uma aparência confusa.
- RESPONDE. - Arthur berrou mais uma vez.
- Me solta, Arthur. - murmurei em um tom de voz mais baixo do que o normal. Eu queria sair de perto dele, correr para longe dali, toda vez que ele tocava em mim e falava comigo aumentava o meu desespero (já aparente) e o meu medo.
- Arthur ? - meu irmão o chamou.
- QUE É CACETE ? NÃO TÁ VENDO QUE EU ESTOU FALANDO COM ESSA PIRANHA AQUI ? - ele berrou em resposta - QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA FAZER UMA DENÚNCIA SOBRE MIM, ALMEIDA ? VOCÊ TEM NOÇÃO DAS COISAS QUE EU OUVI ? VOCÊ VAI SE ARREPENDER, BIA. E VAI SE ARREPENDER AGORA.
Pronto, era só o que me faltava. Arthur levantou seu braço, com a intenção de me bater e por pouco não o fez.
Para o meu grande alívio, meu irmão percebeu o que ele iria fazer e o puxou para longe de mim. Entretanto, esse alívio durou pouco.
Assim como o Luc percebeu o futuro ato do Arthur, ele também ligou o nome a pessoa. Arthur. Ontem. Festa. Estupro.
Os dois estavam rolando no hall da minha casa, Luc berrava coisas como 'Você vai se arrepender de ter tocado na minha irmã.' e 'Eu ainda vou te ver morto, seu canalha.' Meu desespero aumentou, quando o Arthur conseguiu ficar por cima do Luc e começou a dar socos nele, na barriga, no rosto...
Porém, graças à insistência do nosso amado pai, o Luc era um exímio lutador, daqueles que se entram em uma briga de rua (não que ele já tenha entrado em uma) não entram para perder.
Quem estava no chão agora era o outro, ele levava soco atrás de soco, chute na barriga, nas pernas, em todo lugar alcançável.
Meu irmão emanava uma raiva desconhecida por mim, eu via em seus olhos o que ele estava sentindo.
Depois de um pouco mais de dez minutos batendo, o Luc começou a arrastar o Arthur pela gola de sua camisa. O corpo dele batia no chão, ele tentava se soltar e se debatia todo, mas o meu irmão não estava nem se importando.
Eu poderia gritar e pedir para o Luc parar, dizer que não valia a pena sujar as mãos com alguém como o Arthur, mas eu queria que ele sofresse. Que ele se arrependesse até o último fio de cabelo naquele corpo imundo por ter me feito mal. Queria que ele agonizasse, não suportasse aquilo. No fim de tudo, a verdade é que eu queria que ele morresse.
E não, eu não me sentia mal por desejar a morte de alguém. Nesse momento, era tudo que eu mais queria.
- SE EU TE VER A MENOS DE 100 km DA MINHA IRMÃ, VOCÊ VAI DESEJAR TER MORRIDO QUANDO EU TE ENCONTRAR, OUVIU BEM ? – eu ouvi o Luc berrar, enquanto o Arthur saia correndo morrendo de medo.
Permiti-me sentar e me entregar as lágrimas por completo, o que já estava virando um hábito. Encostei meu rosto em minha perna e chorei, chorei, chorei.
Luc se abaixou na minha frente e foi levantando meu rosto com cuidado. Parei alguns segundos para examiná-lo meticulosamente, ele tinha um corte no supercílio, sua boca sangrava e seu cabelo estava sujo de sangue. Isso sem contar os hematomas que estavam cobertos pela roupa.
Agarrei em seu pescoço e o abracei mais forte que pude, chorei copiosamente em seus braços, enquanto ele tentava dizer algo que me acalmasse. Entretanto, não havia nada que ele pudesse dizer para me fazer sentir melhor, mais uma vez eu estava sendo a culpada pelo sofrimento de uma das pessoas que eu mais amo no mundo. E eu só queria que isso parasse de acontecer.
- Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa. - eu murmurava repetidas vezes, enquanto alisava o seu rosto.
- Você não tem culpa de nada, pequena. Para com isso.
- Tenho sim, gordinho. Olha para você, olha como você está.
- Isso aqui vai passar, Bia. É dor física, um dia acaba. Não chora pequena, por favor. - ele falou tentando enxugar minhas lágrimas - Vem comigo.
Antes que eu pudesse levantar, o Luc passou um de seus braços por debaixo de minha perna e o outro em minhas costas, me carregando em seus braços. As meninas não falaram nada, apenas nos observaram enquanto ele me levava para o seu quarto.
Meu irmão me deitou em sua cama, deu a volta na mesma e se deitou ao meu lado. Nós ficamos nos olhando, até que eu agarrei sua cintura e me agoncheguei em seus braços, o apertando com toda a minha força (para ter certeza de que ele não sairia de perto de mim).
Pude ouvi-lo soltar um murmúrio de dor.
- Que foi ? - perguntei preocupada.
- Dói. - ele levantou a blusa e eu pude ver sua barriga roxa, cheia de hematomas.
- Eu vou lá em baixo pegar alguma coisa para você.
- Não, você não vai. Deixa que eu vou.
- Será que eu posso cuidar um pouco do meu irmão mais velho, Sr. Valente ? - perguntei, tentando descontrair.
- Depois de todo trabalho que ele teve para trazer a donzela em perigo para esse quarto ? - ele revidou com uma falsa indignação.
- Se você estiver ensinuando que eu estou gorda, considere-se um homem morto. - ele revirou os olhos.
- Ui, estou morrendo de medo.
Dei um tapa de leve em seu braço, para não machucá-lo mais e saí do quarto.
As meninas estavam na sala, ainda assustadas com o que tinha acontecido. Fui em direção à cozinha, com a Ana atrás de mim.
- Ai, amiga... - ela falou enquanto me abraçava
- ... - eu não falei nada, deixei minhas lágrimas cairem novamente, enquanto a abraçava de volta.
- Eu ... - ela não precisou terminar a frase, eu sabia o que ela falaria.
- Eu também.
- Vocês vão ...
- Vamos, eu espero.
Peguei dois pacotes de gelo (os quais eu esqueci o nome), a malinha de primeiros socorros, um copo de água e um remédio para dor.
- Bia... - ela me chamou quando eu já estava subindo as escadas.
- Fala, prima...
- Eu estou aqui para tudo, tá ?
- Eu sei. - tentei sorrir - Você sempre está. Obrigada, tá ? - e nesse momento eu percebi, que não importa o que aconteça, tudo vai ficar bem. A Ana Juli me transmite essa segurança e eu gosto disso.
Quando cheguei ao quarto de hóspedes, o Luc estava sentado na cama, assistindo Bob Esponja. Fala sério, quem ainda assiste Bob Esponja ?
- E aqui senhoras e senhores, encontramos Luc Almeida, a estrela de 'De volta ao passado'. - falei rindo e chamando sua atenção, enquanto fechava a porta.
- Primeiro, o nome certo é 'De volta para o futuro'. Segundo, não faça isso de novo. Sinceramente, você não é nem um pouco engraçada, maninha.
- Coincidência, né ? - falei debochada - Chega para lá, deixa eu cuidar de você.
Eu me sentei na frente dele e coloquei os pacotes de gelo em sua barriga. Ok, eu não sei se vai adiantar, mas o que vale é a intenção, certo ?
Peguei um cotonete molhado com álcool e comecei a limpar o corte de seu supercílio, passei o mesmo remédio que a Paula coloca em mim quando eu me corto. Ele reclamou de dor e eu o mandei parar de frescura.
Em seguida, peguei uma toalha de mão branca, molhei com água e comecei a limpar o corte de sua boca. Fiz tudo com o máximo de cuidado possível para não machucá-lo. Quando terminei, dei um beijinho no canto de sua boca (aonde estava machucado) e ele soltou uma gargalhada gostosa de se ouvir.
- Não vale, Bia. Eu que fazia isso com você. - ele fez um biquinho fofo.
- Eu sei e era tão lindo. Você sempre falava 'Deixa que eu dou um beijinho para passar'.
- Pois é. Às vezes você se machucava de próposito, pensa que eu não sei ?
- Ah, você sabe como eu sou desastrada né ? - falei com uma voz fofa - Além do mais, eu sempre gostei de ter sua atenção para mim.
- A gente era feliz e não sabia.
- Era tudo mais fácil antes, não era ?
- Era. Mais nem sempre o mais fácil é o melhor. - ele falou pensativo. Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que eu falei.
- Eu tenho medo, Luc.
- De que, amor ?
- De não conseguir superar isso. - ele suspirou pesadamente e me deu um beijo na testa.
- Você vai, pequena. - ele começou - Você não vai esquecer completamente isso, é fato. Mas com o passar do tempo você vai aprender a conviver com o que aconteceu e aquilo não vai passar de uma lembrança ruim.
- Assim espero, maninho.
Ficamos em silêncio durante um tempo, ele fazendo carinho em minha cabeça e eu desenhando aleatoriamente em sua barriga (agora gelada). Eu estava tomando coragem e tentando encontrar as palavras certas para começar a falar sobre a Paula.
- Eu não te odeio.
- Eu sei que não.
- Eu sei que você sabe, mas eu queria que você me ouvisse dizer isso.
- Quem bom que você quis isso... Sabe, não é nada legal ouvir a pessoa que você mais ama no mundo dizer que te odeia.
- Mesmo sabendo que é mentira...
- É, mesmo assim.
- Você me irritou naquela hora, dando uma de 'faz o que eu mando e cala a boca'.
- Ah, meu anjo. Você sabe como eu sou quando estou chateado.
- Pior que eu sei, sei bem. Você não mede palavras e isso machuca.
- Eu sei ... - ele falou simplesmente.
- Será que ... - eu comecei.
- Será que ?
- Eu... É... Hum...
- Fala logo, gordinha. Tá tentando encontrar as palavras certas para falar comigo ? Seu irmão lindo, absoluto e gostoso.
- Ah, pelo jeito a humildade da família ficou com a Ana. - nós dois rimos.
- Eu pensei que você iria falar que a humildade tinha ficado com você, maluca.
- Esqueceu que por ser sua irmã, automaticamente, eu também sou linda, absoluta e gostosa. Talvez não exista modéstia em nosso sangue, mas só talvez, sabe ?
- Nós ficamos com tudo bom da família, o resto tá com a Ana. - eu ri alto.
- Mas não era disso que você queria falar comigo, era amor ?
- Não.
- Então...
- Então que a parada é a seguinte. - ele abriu a boca para falar - E se você completar essa frase com aquela idiota que o nosso tio do Brasil te ensinou, você vai ver.
- Mas eu não ia falar nada, credo.
- Enfim, eu queria te pedir para...
- Para ?
- Deixa a Paula ficar aqui. - ele me olhou - Por favor, por favor, por favorzinho.
- Não sei, Bia. Acho que vai ser melhor ela ir embora.
- Se você não quer por ela, deixa por mim então.
- Você não vai me convencer com essa carinha de cachorro molhado perdido na mudança, Bia.
- Poxa, Luc. Segue minha linha rosa de raciocínio...
- Linha rosa de raciocínio ? - ele repetiu, rindo de mim.
- POSSO continuar ?
- Por favor, madame. Prossiga.
- Idiota. Enfim, pense comigo... Se estando junto com a gente, a Paula bebe até cair imagina se ela estiver sozinha. O que não vai acontecer ? Ela pode até tentar se matar, aí depois você não vir conversar comigo por causa de peso na consciência não. Você vai vir para o meu quarto, desabafar e eu vou dizer sabe o que ? Bem feito.
- Larga de ser dramática, garota. Até parece que a Paula vai se matar. Se bem que eu pensei que ela era responsável e descobri exatamente o contrário...
- Se bem que eu pensava que você gostava dela... Também.
- Mas eu gostava, por isso que a decepção foi grande. Eu ainda estou chateado com ela, Bia. Por favor não insista em algo que eu não posso atender.
- Ela pode virar uma maníaca alcólica se ficar sozinha, Luc.
- Biazinha da minha vida, ela vai ser o que ela é em qualquer lugar.
- Mas a gente pode pelo menos tentar ajudá-la, não é ?
- Não sei.
- Ela pode aprender com os erros. As pessoas mudam, meu lindo.
- As pessoas não mudam, Bia. Por exemplo, eu vou continuar a repetir: as pessoas não mudam.
- O assunto é sério, Luc.
- Eu não posso te prometer nada.
- Pode sim. Promete para mim que você não vai ignorar a Paula, que não vai agir como se ela não existisse ?
- Bia, você lembra da Luz ?
- Luz ? A nossa poodle da Inglaterra que gostava mais de você do que de mim ? - perguntei confusa, por ele ter mudado o assunto tão drásticamente.
- Ela mesmo.
- Ela era uma idiota. Você vivia ignorando a bichinha e ainda assim ela preferia você. E ?
- Então, algumas meninas são como a Luz.
- Como assim ? - perguntei confusa.
- É só ignorar que elas gamam.
- SEU CACHORRO. - exclamei rindo - Mas você sabe que não precisa ignorá-la, a Paula já está gamada.
- Eu sei e talvez esse seja o motivo da minha decepção.
- PARA TUDO. Luc você está dizendo que também está gamado nela ?
- Eu ? Gamado ? Em alguém ? Putz, cala a boca Bia. Nem parece que você me conhece.
- Ué, as pessoas mudam. E você ficou gamadão na tal da Sara...
- A Sara é passado, falou ?
- Falou ! - respondi rindo - Mas enfim, o que ficou decidido ?
- Ela tem até o dia que eu a mandei sair de casa para provar que mudou. Caso contrário...
- AAAAAAH. QUE LINDO, QUE LINDO. - eu pulei em cima dele e comecei a beijar seu rosto - POR ISSO QUE EU TE AMO, TE AMO, TE AMO.
- O que eu não faço para te ver feliz em pequena ?
Nós ficamos conversando sobre assuntos aleatórios durante um bom tempo. Relembramos a nossa infância, falamos sobre o Zach e a gravadora, sobre nossos pais, a minha escola, tudo. Já era tarde quando a Ana entrou no quarto.
- Ah, eu também quero fazer parte desse momento fraternal. - ela falou e se jogou em cima de nós dois, que estávamos abraçados na cama.
- Ai, Ana Juli. Saí de cima. - eu a empurrei.
- O que os irmãos mais gatos que eu conheço fazem aqui ?
- A gente só estava conversando... - Luc falou.
- Matando a saudade dos velhos tempos. - eu completei.
- Eu tenho muita saudade dos velhos tempos. - ela falou aérea - Principalmente da época em que nós erámos o trio parada dura. Lembra ?
- LEMBRO. - eu e meu irmão falamos juntos.
- Por que as coisas não são mais como eram antes ?
- Porque a gente cresceu, minha cara prima.
- Minha cara prima, Luc ? Você me chamava de coisa melhor antes. - a Ana falou esnobe.
- Tapada ? - eu arrisquei, rindo.
- Lerdinha ?
- Poinha ?
- Cocotinha ?
- Gretchen ?
- Coisinha ?
- Ah, para vocês, não.
- Qual era o apelido, Ana ? Eu não lembro. - falei
- Pois é, nem eu. Só sei que era bonitinho.
- Ai, parece que cada dia que passa você fica pior. - Luc falou rindo.
- Tanto faz. - ela deu de ombros e, ao mesmo tempo, alguém bateu na porta. - ENTRA, NÃO TRANQUEI.
- Por que você trancaria a porta ? Só por curiosidade... - Luc.
- Para atacar vocês. - ela tentou fazer uma voz sensual.
- Ana Juli, não. - falei.
- Er, oi ?
Oi. Como se respira ?
Kurt estava na porta do quarto, vestindo uma camisa social branca e uma calça jeans, com os óculos Ray Ban na cabeça e me seduzindo. Já falei que homen de camisa social e de branco é uma perdição ?
- Oi, Kurt. - meu irmão falou sorrindo para ele.
- Hey, Kurt. - falei, quando consegui.
- Oi, Kurt. Tudo bom com você ? Comigo está tudo ótimo. Veio fazer o que aqui ?
- Você já falou isso lá em baixo, Ana. - ele fez uma cara linda de 'você é idiota ou o que ?'
- Já ? - ele afirmou - Enfim, tá fazendo o que aqui ?
- Bem, você subiu para chamar a Bia para mim, mas demorou demais. Aí a Flora falou para eu vir aqui.
- Sabia que eu estava esquecendo de alguma coisa.
- Cabeção. - meu irmão falou, enquanto dava um tapa de leve na cabeça de nosso prima.
- Então, Bia. Posso falar com você ? - ele pediu.
- Ah, claro.
- Larga de ser anta, Bia. Ele quer falar com você em particular.
- Seu amor por mim me toca, maninho.
- Você tá bem, Luc ? A Paula me contou o que aconteceu... - Joey falou.
- Vou ficar, só não toca mais nesse assunto. Vai ser melhor assim. - ele indicou a cabeça na minha direção e Kurt entendeu o que ele quis dizer.
- Vamos ? - pedi.
Ele me seguiu até o jardim, sem falar nada. A noite estava linda e as luzes da piscina já estavam ligadas.
- Como você está, minha linda ?
- Na medida do possível, bem.
- Desculpa não ter ficado o dia todo com você, mas a gente precisava ensaiar...
- Para o baile né ?
- Aham, já é amanhã. O nervosismo está me matando.
- Fica calmo. Vocês são ótimos e tudo vai dar certo, você vai ver.
- Tudo vai dar certo se você estiver lá, por mim.
- Não sei se é uma boa ideia, Kurt.
- Eu sei que você deve estar querendo distância de festas, mas eu preciso de você lá. Eu vou estar lá. Eu, o Thiago, o Joey, a Ana, a Flora, a Paula, você pode levar o Luc também. Não vai acontecer nada, Bia. Confia em mim.
- Mas...
- Por favor ?
- Ah, Kurt. Isso não é justo.
- Lembra da surpresa que eu te falei ? - balancei a cabeça, afirmando - Então, você só vai descobrir o que é se for.
- Isso. Não. É. Justo. - falei pausadamente, enquanto dava fracos beliscões em sua barriga. E que barriga
- O mundo não é justo.
Só depois que ele falou isso que eu percebi o quanto nós estávamos próximos. Eu podia sentir sua respiração ofegante em meu rosto, seus olhos fitavam o meu de uma forma que eu não consigo descrever e sua boca... Ah, aquela boca estava gritando meu nome.
Antes de se quer pensar na possibilidade de agarrá-lo naquele momento, Kurt se afastou de mim, fazendo com que eu soltasse um suspiro aborrecido. Ele riu levemente.
- Então ?
- Então o quê ?
- Você vai ao baile ?
O melhor sonho. Capítulo 2. parte 11
Eu estava dormindo e eu sabia disso, mas aquele pesadelo parecia tão real que era como se eu estivesse passando por toda aquela angústia de novo. As mãos do Arthur passeando e apertando o meu corpo, sua boca pressionada no meu pescoço, eu conseguia até sentir a dor forte em minha cabeça. Acordei arfando, no susto e com o coração acelerado. Eu ainda estava do mesmo jeito de antes, com as roupas rasgadas, o gosto de sangue em minha boca, meus pulsos roxos e os cabelos emaranhados. O relógio da cômoda marcava três e quarenta e oito da manhã, quando a porta foi aberta. Eu estava pronta para gritar, correr e minha mente pensava que era outra pessoa, quando eu finalmente encontrei aqueles olhos. Vermelhos, preocupados, tristes.
- Volta a dormir, pequena.
- Eu... Eu vou tomar um banho primeiro. Olha o meu estado. - murmurei.
Kurt apenas maneou a cabeça e me deu um beijo na testa, enquanto eu ia em direção ao banheiro do meu quarto. Não queria me olhar no espelho, eu fazia certa ideia do meu estado e não precisaria de uma confirmação para me deixar pior do que já estava. Tirei minha roupa o mais rápido que pude e fui para debaixo da água fria.
Quando eu fechava os olhos, as imagens da sauna vinham em minha cabeça e eu não conseguia fazer isso parar. Eu estava com nojo de mim mesma, nojo das partes em que ele tocou, nojo de ter sentido aquela boca na minha. Enquanto as lágrimas grossas - antes presas - corriam pela minha face, eu esfregava o meu corpo o mais forte que podia. Braço, perna, pescoço, boca. Não sei por quanto tempo eu repeti esse ato, mas percebi que deveria parar quando a pele do meu braço estava quase em carne viva.
Eu não me importava com qualquer dor que eu estivesse sentindo, eu só queria tirar qualquer resquício daquele covarde de mim. Me cobri com uma toalha e fui finalmente me olhar no espelho. Isso fez com que a minha raiva aumentasse.
Embora o tamanho da dor física não chegasse nem perto ao tamanho da dor psicológica, eu estava bem pior do que pensava. Num ato insano comecei a dar socos no espelho, em uma tentativa frustrada de acabar com a minha dor e diminuir a minha raiva.
Meus soluços estavam altos, meu peito arfava e minhas mãos sangravam no momento em que o Kurt me abraçou. Fui escorregando até o chão, chorando muito e ainda abraçada a ele, que fazia carinho em meus cabelos. A cada soluço meu ele apertava o abraço e me trazia para mais perto de seu corpo, sem dizer uma palavra, passou um dos seus braços por minhas pernas e me levou até a cama, se deitando ao meu lado logo em seguida. Me aninhei em seu corpo, prensando meu nariz na curva de seu pescoço e me intoxiquei com o perfume que eu tanto amava, enquanto tentava me acalmar. Senti algo molhar uma de minhas bochechas e o ouvi fungar.
Eu nunca o tinha visto chorar, mas ao mesmo tempo em que isso cortou o meu coração (por saber que ele estava chorando por mim) também fez com que eu me sentisse feliz, completa.
Eu havia encontrado alguém que partilhasse a minha dor, alguém que sofria junto comigo. Um certo alguém que não estava do meu lado apenas na alegria, mas também na tristeza, que pegava as minhas dores e transformava nas dele. E nesse momento, mais do que nunca, eu tive plena certeza de que eu o amava com todo o meu coração.
E eu sabia que isso era recíproco.
- Eu tô aqui, pequena. Sempre estive, sempre estarei. - Kurt disse olhando em meus olhos.
- Promete que não vai me deixar sozinha ?
- Prometo. - ele disse e em seguida me deu um selinho fraco.
- Eu te amo, Harcourt. - sussurrei, enquanto limpava seu rosto molhado.
- Eu te amo, Almeida. - ele repetiu meu ato.
Não neguei a ajuda do Kurt para me vestir, meu corpo inteiro ainda doía, eu queria dormir logo e eu não estava muito bem para pensar na vergonha de deixar o meu atual ex futuro namorado me ver completamente nua. Eu sei que isso não é certo - bom, pelo menos na minha opinião -, mas eu confiava nele e eu tinha certeza absoluta que não haveria maldade nesse ato.
Ok, talvez só um pouco.
Eu estava sentindo falta de sua boca, do seu gosto. Meu corpo implorava pelo dele, por um contato que fosse e por isso, quando ele terminou de descer minha camisola, eu o puxei pelo pescoço e colei nossas bocas. Ficamos assim por uns segundos, apenas sentindo um ao outro.
Entreabri minha boca e dei uma fraca mordida em seu lábio inferior. Pouco tempo depois senti sua língua pedir permissão para explorar minha boca e permiti. Era um beijo suave, dava para ver que ele não queria me machucar pela forma em que a sua língua acariciava lenta e cuidadosamente a minha. Ele tentava não fazer movimentos bruscos nem fortes, envolvendo seus braços na minha cintura e aproximando seu corpo do meu, aumentamos a intensidade do beijo, mas sem perder a doçura. Soltei um gemido baixo quando ele mordeu de leve o meu lábio inferior e uma de suas mãos começou a acariciar minha coxa, subindo minha roupa de dormir aos poucos.
As imagens da sauna retornaram à minha cabeça, fazendo com que meu coração acelerasse e eu o empurrasse. Kurt olhou para mim confuso, mas após ver as lágrimas que caíam lentamente por minha face entendeu a minha atitude.
- Desculpa. - pedi - Acho melhor eu ir dormir.
- Tá bom. Eu vou para casa.
- NÃO. - gritei desesperada - Você disse que não ia me deixar sozinha, Kurt. Fica aqui, fica comigo. - falei com a voz chorosa.
Ele não falou nada, apenas apagou a luz e veio se deitar ao meu lado.
Entrelacei meus dedos nos dele e fiquei de costas, fazendo com que ele me abraçasse. Dormi, enquanto ele sussurrava uma música que eu ainda não conhecia. Adormeci com um dos versos ecoando em minha cabeça.
"You're the light that makes my darkness disappear"
- Conhece a piada do nem eu, amor ?
- Não. - respondi revirando os olhos.
- Nem eu. - ele disse e começou a rir que nem um idiota.
- HáHá. Muito engraçado, Kurt, estou morrendo de rir. - Thiago falou irônico.
Eram onze da manhã e nenhum de nós três tínhamos ido para o colégio. Eu estava tentando adiar a conversa que eu teria com o Luc, então obriguei o Thiago a matar aula junto com o irmão. As meninas estariam de volta a qualquer momento e, devo admitir, eu estava muito preocupada com a reação do Luc sobre tudo o que aconteceu, principalmente em relação à Paula.
O Kurt não quis me contar de jeito nenhum o que eles haviam conversado, então eu não sabia o que esperar.
Nesse momento, os dois estavam tentando me animar contando piadas. Uma mais rídicula do que a outra.
Frize o ridícula e acrescente o adjetivo 'tosca' por favor.
- Então conta uma melhor, oras. - Kurt revidou irritado.
- Eu vou contar. - Thiago.
- Conta.
- Espera apressado. - ele pareceu pensar e logo depois abriu um sorriso - Ok, uma caixa de som falou para outra: "Vamos fazer uma caixinha ?" Sabem o quê a outra falou ?
- Não. - eu e o Kurt respondemos juntos.
- "Não posso sou estéreo" - eu não deveria me surpreender com o fato dele estar quase chorando de tanto rir da piada, mas cara... Meu melhor amigo é doido, namoral.
- EU TENHO OUTRA, EU TENHO OUTRA. - Kurt falou e se levantou, portando ao lado do Thiago - Sabe o quê o número 2 falou para o número 1000 ? Você é grande, mas não é dois. - os dois começaram a rir, enquanto eu olhava indignada para aquela situação. Qual é, só eu não via graça nisso ?
- Agora nós dois vamos contar uma piada para você, gatinha.
- Vamos ? - Kurt.
- Vamos, aquela do Paraguaio. - ele deu um cutucão no irmão, que gritou um 'ah, sim' quando se lembrou.
- Você é o paraguaio e eu sou a mulher tá ?
- O marido traído contradou um matador para acabar com a vida da mulher. - Kurt começou, fazendo uma voz de locutor de rádio.
- Toc Toc Toc. - Thiago falou e bateu o meu despertador na parede, tentando fazer um som.
- Thiago, se você quebrar esse despertador, você vai comprar outro. - falei, sem me dar conta de que ele havia me dado este.
- CA-LA-DA. - ele berrou silabicamente - Eu não sou o Thiago agora, sou o matador.
- Sem interrupções por favor. - Kurt pediu.
- Toc Toc Toc.
- Pois não ? - Kurt falou, fazendo uma voz extremamente fina.
- Sou Paraguaio e vim aqui para te matar.
- Para o que ??? - Kurt berrou, ainda com a voz fina, com um falso desespero.
- Paraguaio.- confesso que nessa até eu ri, a situação estava cômica.
- Nossa, que piada tosca. - falei ainda rindo.
- Ela pode ser até tosca, mas pelo menos a gente conseguiu te fazer rir. - Thiago disse, se sentando ao meu lado.
- Nunca ouviu aquela frase que diz "Se não tem graça, ria por educação", não ? - falei debochada.
- Ela está fazendo pouco caso das nossas piadas, Thiago.
- Já que não conseguimos fazê-la rir por bem...
- Vamos fazer por mal...
- COSQUINHA. - os dois berraram juntos e me atacaram.
Se tem uma coisa que eu não suporto, são cosquinhas. Eu já estava chorando de tanto que ria e a minha barriga doendo, quando a porta foi aberta.
- Kurt, Thiago. - meu irmão cumprimentou os dois com um aceno de cabeça e entrou no quarto.
- Er, a gente vai deixar vocês conversarem. - Kurt falou e saiu puxando o irmão.
- Tchau, gatinha. Depois a gente se fala.
Um silêncio incômodo se instalou no meu quarto, equanto nós dois nos olhavámos. Luc não falava nada, muito menos eu. Era uma questão de tempo até que ele me abraçasse e dissesse tudo o que queria dizer. Mas eu fiz isso antes que ele o fizesse, minhas pernas me levaram até o meio do quarto - onde ele estava - e meus braços trataram de lhe dar o mais forte abraço que eu conseguia.
- Meu mundo desmoronou quando eu te vi daquele estado, gordinha. - ele falou carinhoso, acariciando meu rosto - Eu te pedi tanto pra você não ir.
- Desculpa, Luc. Eu deveria ter de ouvido, eu deveria ter ficado em casa.
- Não se culpe, também não tinha como você saber, né ?
- Se eu não tivesse ido, isso não teria acontecido.
- Mas você foi e a gente tem que dar graças por aquele filho da mãe não der conseguido fazer o que queria.
- Eu não quero nem pensar no que iria acontecer se o Kurt não tivesse chegado naquele momento. - falei com a voz chorosa, enquanto revivia a cena em minha cabeça.
- Sabe, Bia... - ele começou receoso - O Kurt gosta muito de você, pelo menos ele parece gostar. Depois que ele te colocou na sua cama, a gente conversou e ele me contou tudo o que tinha acontecido, nos mínimos detalhes. Eu podia entender o que ele sentia, porque eu estava sentindo o mesmo. Te ver daquele jeito cortou meu coração, não é algo que a gente deseja nem para a pessoa que a gente mais odeia. E você não merecia isso... - ele suspirou pesadamente.
- Isso quer dizer que você também acha que a Paula tem culpa nisso, né ?
- E você não ? - ele falou rispidamente - Eu pedi a ela que cuidasse de você, mas o quê ela fez ? Você seguiu os meninos para não deixá-la sozinha e pela primeira vez na vida eu odiei o fato de você ser tão altruísta. Qualquer pessoa no seu lugar iria embora e deixaria a bêbada se virar depois, mas não você.
- A Paula é minha amiga, Luc. Eu nunca a deixaria sozinha naquele estado.
- E olha no que deu, maninha.
Ele começou a passar a mão pelas partes machucadas do meu corpo. Minhas mãos cortadas (resultado dos socos no espelho), meus pulsos roxos, as marcas de mão nas minhas coxas, algumas mordidas em meu pescoço, o corte em meu supercílio e o machucado de minha boca.
- Você sabe que essa não foi a primeira vez que a Paula bebeu. - comecei - Todos às vezes em que ela acordava arrependida das coisas que tinha feito e de ter se embebedado tanto, ela vinha conversar comigo. Era a primeira coisa que ela fazia. Por ser a mais velha, ela se sente responsável por nós três, então ela virava para mim e falava, "Eu não quero que você me veja como mais uma bêbada desse lugar, eu quero que você sinta orgulho de mim, fofinha". Aí ela pedia desculpas e me prometia que nunca mais beberia de novo, eu acreditava nisso. Acreditava nessa promessa e ela cumpria, até que houvesse a próxima festa. Era sempre a mesma coisa, as mesmas palavras...
- Você não aguenta mais isso. - era estranho o modo como ele me conhecia.
- Não, eu não aguento. A Paula é muito importante para mim, eu não posso simplesmente desistir dela. Eu quero muito acreditar que ela vai conseguir parar de beber, que ela vai deixar de se autodestruir, mas...
- Por muito que os ventos soprem, uma montanha nunca se inclina, né ? - ele me completou.
- E se ela não mudar ? E se o que aconteceu comigo não fez com que ela aprendesse a 'lição' ?
- Você gosta da Paula e isso eu não posso mudar, mas eu não vou deixá-la te prejudicar. Se ela quiser se ferrar, ela que se ferre sozinha. Mas antes ela vai ver só. - percebi o quanto ele estava chateado com isso tudo.
- Luc.
- Sim ?
- Me promete que você não vai brigar com a Paula. Ela estava bêbada, não sabia o que estava acontecendo.
- Mas é justamente por isso, porque ela estava bêbada.
- Eu não quero que ela se machuque mais do que já está. Não a culpe mais, ela já sabe disso. Não precisa jogar na cara também. - eu estava desesperada, conheço muito bem o meu irmão para saber que quando ele briga com alguém, ele fala as coisas sem pensar e, principalmente, para magoar.
- Sinceramente, eu não me importo.
- Mas você se importa comigo, sou eu quem está pedindo, Luc. Por favor, não briga com ela.
- ...
- Promete que não vai brigar com ela, por mim.
Antes dele responder nós ouvimos a porta da sala bater e a Ana Juli berrar algo com a Flora.
Luc olhou para mim como se pedisse desculpas e saiu rápido em direção à sala. Fui atrás dele, tentando impedi-lo, mas eu não estava bem e ele se aproveitou disso. Quando cheguei na metade da escada, já era tarde demais para tentar fazer ou dizer alguma coisa.
Ele já estava lá. E estava brigando com ela.
- Volta a dormir, pequena.
- Eu... Eu vou tomar um banho primeiro. Olha o meu estado. - murmurei.
Kurt apenas maneou a cabeça e me deu um beijo na testa, enquanto eu ia em direção ao banheiro do meu quarto. Não queria me olhar no espelho, eu fazia certa ideia do meu estado e não precisaria de uma confirmação para me deixar pior do que já estava. Tirei minha roupa o mais rápido que pude e fui para debaixo da água fria.
Quando eu fechava os olhos, as imagens da sauna vinham em minha cabeça e eu não conseguia fazer isso parar. Eu estava com nojo de mim mesma, nojo das partes em que ele tocou, nojo de ter sentido aquela boca na minha. Enquanto as lágrimas grossas - antes presas - corriam pela minha face, eu esfregava o meu corpo o mais forte que podia. Braço, perna, pescoço, boca. Não sei por quanto tempo eu repeti esse ato, mas percebi que deveria parar quando a pele do meu braço estava quase em carne viva.
Eu não me importava com qualquer dor que eu estivesse sentindo, eu só queria tirar qualquer resquício daquele covarde de mim. Me cobri com uma toalha e fui finalmente me olhar no espelho. Isso fez com que a minha raiva aumentasse.
Embora o tamanho da dor física não chegasse nem perto ao tamanho da dor psicológica, eu estava bem pior do que pensava. Num ato insano comecei a dar socos no espelho, em uma tentativa frustrada de acabar com a minha dor e diminuir a minha raiva.
Meus soluços estavam altos, meu peito arfava e minhas mãos sangravam no momento em que o Kurt me abraçou. Fui escorregando até o chão, chorando muito e ainda abraçada a ele, que fazia carinho em meus cabelos. A cada soluço meu ele apertava o abraço e me trazia para mais perto de seu corpo, sem dizer uma palavra, passou um dos seus braços por minhas pernas e me levou até a cama, se deitando ao meu lado logo em seguida. Me aninhei em seu corpo, prensando meu nariz na curva de seu pescoço e me intoxiquei com o perfume que eu tanto amava, enquanto tentava me acalmar. Senti algo molhar uma de minhas bochechas e o ouvi fungar.
Eu nunca o tinha visto chorar, mas ao mesmo tempo em que isso cortou o meu coração (por saber que ele estava chorando por mim) também fez com que eu me sentisse feliz, completa.
Eu havia encontrado alguém que partilhasse a minha dor, alguém que sofria junto comigo. Um certo alguém que não estava do meu lado apenas na alegria, mas também na tristeza, que pegava as minhas dores e transformava nas dele. E nesse momento, mais do que nunca, eu tive plena certeza de que eu o amava com todo o meu coração.
E eu sabia que isso era recíproco.
- Eu tô aqui, pequena. Sempre estive, sempre estarei. - Kurt disse olhando em meus olhos.
- Promete que não vai me deixar sozinha ?
- Prometo. - ele disse e em seguida me deu um selinho fraco.
- Eu te amo, Harcourt. - sussurrei, enquanto limpava seu rosto molhado.
- Eu te amo, Almeida. - ele repetiu meu ato.
Não neguei a ajuda do Kurt para me vestir, meu corpo inteiro ainda doía, eu queria dormir logo e eu não estava muito bem para pensar na vergonha de deixar o meu atual ex futuro namorado me ver completamente nua. Eu sei que isso não é certo - bom, pelo menos na minha opinião -, mas eu confiava nele e eu tinha certeza absoluta que não haveria maldade nesse ato.
Ok, talvez só um pouco.
Eu estava sentindo falta de sua boca, do seu gosto. Meu corpo implorava pelo dele, por um contato que fosse e por isso, quando ele terminou de descer minha camisola, eu o puxei pelo pescoço e colei nossas bocas. Ficamos assim por uns segundos, apenas sentindo um ao outro.
Entreabri minha boca e dei uma fraca mordida em seu lábio inferior. Pouco tempo depois senti sua língua pedir permissão para explorar minha boca e permiti. Era um beijo suave, dava para ver que ele não queria me machucar pela forma em que a sua língua acariciava lenta e cuidadosamente a minha. Ele tentava não fazer movimentos bruscos nem fortes, envolvendo seus braços na minha cintura e aproximando seu corpo do meu, aumentamos a intensidade do beijo, mas sem perder a doçura. Soltei um gemido baixo quando ele mordeu de leve o meu lábio inferior e uma de suas mãos começou a acariciar minha coxa, subindo minha roupa de dormir aos poucos.
As imagens da sauna retornaram à minha cabeça, fazendo com que meu coração acelerasse e eu o empurrasse. Kurt olhou para mim confuso, mas após ver as lágrimas que caíam lentamente por minha face entendeu a minha atitude.
- Desculpa. - pedi - Acho melhor eu ir dormir.
- Tá bom. Eu vou para casa.
- NÃO. - gritei desesperada - Você disse que não ia me deixar sozinha, Kurt. Fica aqui, fica comigo. - falei com a voz chorosa.
Ele não falou nada, apenas apagou a luz e veio se deitar ao meu lado.
Entrelacei meus dedos nos dele e fiquei de costas, fazendo com que ele me abraçasse. Dormi, enquanto ele sussurrava uma música que eu ainda não conhecia. Adormeci com um dos versos ecoando em minha cabeça.
"You're the light that makes my darkness disappear"
- Conhece a piada do nem eu, amor ?
- Não. - respondi revirando os olhos.
- Nem eu. - ele disse e começou a rir que nem um idiota.
- HáHá. Muito engraçado, Kurt, estou morrendo de rir. - Thiago falou irônico.
Eram onze da manhã e nenhum de nós três tínhamos ido para o colégio. Eu estava tentando adiar a conversa que eu teria com o Luc, então obriguei o Thiago a matar aula junto com o irmão. As meninas estariam de volta a qualquer momento e, devo admitir, eu estava muito preocupada com a reação do Luc sobre tudo o que aconteceu, principalmente em relação à Paula.
O Kurt não quis me contar de jeito nenhum o que eles haviam conversado, então eu não sabia o que esperar.
Nesse momento, os dois estavam tentando me animar contando piadas. Uma mais rídicula do que a outra.
Frize o ridícula e acrescente o adjetivo 'tosca' por favor.
- Então conta uma melhor, oras. - Kurt revidou irritado.
- Eu vou contar. - Thiago.
- Conta.
- Espera apressado. - ele pareceu pensar e logo depois abriu um sorriso - Ok, uma caixa de som falou para outra: "Vamos fazer uma caixinha ?" Sabem o quê a outra falou ?
- Não. - eu e o Kurt respondemos juntos.
- "Não posso sou estéreo" - eu não deveria me surpreender com o fato dele estar quase chorando de tanto rir da piada, mas cara... Meu melhor amigo é doido, namoral.
- EU TENHO OUTRA, EU TENHO OUTRA. - Kurt falou e se levantou, portando ao lado do Thiago - Sabe o quê o número 2 falou para o número 1000 ? Você é grande, mas não é dois. - os dois começaram a rir, enquanto eu olhava indignada para aquela situação. Qual é, só eu não via graça nisso ?
- Agora nós dois vamos contar uma piada para você, gatinha.
- Vamos ? - Kurt.
- Vamos, aquela do Paraguaio. - ele deu um cutucão no irmão, que gritou um 'ah, sim' quando se lembrou.
- Você é o paraguaio e eu sou a mulher tá ?
- O marido traído contradou um matador para acabar com a vida da mulher. - Kurt começou, fazendo uma voz de locutor de rádio.
- Toc Toc Toc. - Thiago falou e bateu o meu despertador na parede, tentando fazer um som.
- Thiago, se você quebrar esse despertador, você vai comprar outro. - falei, sem me dar conta de que ele havia me dado este.
- CA-LA-DA. - ele berrou silabicamente - Eu não sou o Thiago agora, sou o matador.
- Sem interrupções por favor. - Kurt pediu.
- Toc Toc Toc.
- Pois não ? - Kurt falou, fazendo uma voz extremamente fina.
- Sou Paraguaio e vim aqui para te matar.
- Para o que ??? - Kurt berrou, ainda com a voz fina, com um falso desespero.
- Paraguaio.- confesso que nessa até eu ri, a situação estava cômica.
- Nossa, que piada tosca. - falei ainda rindo.
- Ela pode ser até tosca, mas pelo menos a gente conseguiu te fazer rir. - Thiago disse, se sentando ao meu lado.
- Nunca ouviu aquela frase que diz "Se não tem graça, ria por educação", não ? - falei debochada.
- Ela está fazendo pouco caso das nossas piadas, Thiago.
- Já que não conseguimos fazê-la rir por bem...
- Vamos fazer por mal...
- COSQUINHA. - os dois berraram juntos e me atacaram.
Se tem uma coisa que eu não suporto, são cosquinhas. Eu já estava chorando de tanto que ria e a minha barriga doendo, quando a porta foi aberta.
- Kurt, Thiago. - meu irmão cumprimentou os dois com um aceno de cabeça e entrou no quarto.
- Er, a gente vai deixar vocês conversarem. - Kurt falou e saiu puxando o irmão.
- Tchau, gatinha. Depois a gente se fala.
Um silêncio incômodo se instalou no meu quarto, equanto nós dois nos olhavámos. Luc não falava nada, muito menos eu. Era uma questão de tempo até que ele me abraçasse e dissesse tudo o que queria dizer. Mas eu fiz isso antes que ele o fizesse, minhas pernas me levaram até o meio do quarto - onde ele estava - e meus braços trataram de lhe dar o mais forte abraço que eu conseguia.
- Meu mundo desmoronou quando eu te vi daquele estado, gordinha. - ele falou carinhoso, acariciando meu rosto - Eu te pedi tanto pra você não ir.
- Desculpa, Luc. Eu deveria ter de ouvido, eu deveria ter ficado em casa.
- Não se culpe, também não tinha como você saber, né ?
- Se eu não tivesse ido, isso não teria acontecido.
- Mas você foi e a gente tem que dar graças por aquele filho da mãe não der conseguido fazer o que queria.
- Eu não quero nem pensar no que iria acontecer se o Kurt não tivesse chegado naquele momento. - falei com a voz chorosa, enquanto revivia a cena em minha cabeça.
- Sabe, Bia... - ele começou receoso - O Kurt gosta muito de você, pelo menos ele parece gostar. Depois que ele te colocou na sua cama, a gente conversou e ele me contou tudo o que tinha acontecido, nos mínimos detalhes. Eu podia entender o que ele sentia, porque eu estava sentindo o mesmo. Te ver daquele jeito cortou meu coração, não é algo que a gente deseja nem para a pessoa que a gente mais odeia. E você não merecia isso... - ele suspirou pesadamente.
- Isso quer dizer que você também acha que a Paula tem culpa nisso, né ?
- E você não ? - ele falou rispidamente - Eu pedi a ela que cuidasse de você, mas o quê ela fez ? Você seguiu os meninos para não deixá-la sozinha e pela primeira vez na vida eu odiei o fato de você ser tão altruísta. Qualquer pessoa no seu lugar iria embora e deixaria a bêbada se virar depois, mas não você.
- A Paula é minha amiga, Luc. Eu nunca a deixaria sozinha naquele estado.
- E olha no que deu, maninha.
Ele começou a passar a mão pelas partes machucadas do meu corpo. Minhas mãos cortadas (resultado dos socos no espelho), meus pulsos roxos, as marcas de mão nas minhas coxas, algumas mordidas em meu pescoço, o corte em meu supercílio e o machucado de minha boca.
- Você sabe que essa não foi a primeira vez que a Paula bebeu. - comecei - Todos às vezes em que ela acordava arrependida das coisas que tinha feito e de ter se embebedado tanto, ela vinha conversar comigo. Era a primeira coisa que ela fazia. Por ser a mais velha, ela se sente responsável por nós três, então ela virava para mim e falava, "Eu não quero que você me veja como mais uma bêbada desse lugar, eu quero que você sinta orgulho de mim, fofinha". Aí ela pedia desculpas e me prometia que nunca mais beberia de novo, eu acreditava nisso. Acreditava nessa promessa e ela cumpria, até que houvesse a próxima festa. Era sempre a mesma coisa, as mesmas palavras...
- Você não aguenta mais isso. - era estranho o modo como ele me conhecia.
- Não, eu não aguento. A Paula é muito importante para mim, eu não posso simplesmente desistir dela. Eu quero muito acreditar que ela vai conseguir parar de beber, que ela vai deixar de se autodestruir, mas...
- Por muito que os ventos soprem, uma montanha nunca se inclina, né ? - ele me completou.
- E se ela não mudar ? E se o que aconteceu comigo não fez com que ela aprendesse a 'lição' ?
- Você gosta da Paula e isso eu não posso mudar, mas eu não vou deixá-la te prejudicar. Se ela quiser se ferrar, ela que se ferre sozinha. Mas antes ela vai ver só. - percebi o quanto ele estava chateado com isso tudo.
- Luc.
- Sim ?
- Me promete que você não vai brigar com a Paula. Ela estava bêbada, não sabia o que estava acontecendo.
- Mas é justamente por isso, porque ela estava bêbada.
- Eu não quero que ela se machuque mais do que já está. Não a culpe mais, ela já sabe disso. Não precisa jogar na cara também. - eu estava desesperada, conheço muito bem o meu irmão para saber que quando ele briga com alguém, ele fala as coisas sem pensar e, principalmente, para magoar.
- Sinceramente, eu não me importo.
- Mas você se importa comigo, sou eu quem está pedindo, Luc. Por favor, não briga com ela.
- ...
- Promete que não vai brigar com ela, por mim.
Antes dele responder nós ouvimos a porta da sala bater e a Ana Juli berrar algo com a Flora.
Luc olhou para mim como se pedisse desculpas e saiu rápido em direção à sala. Fui atrás dele, tentando impedi-lo, mas eu não estava bem e ele se aproveitou disso. Quando cheguei na metade da escada, já era tarde demais para tentar fazer ou dizer alguma coisa.
Ele já estava lá. E estava brigando com ela.
O melhor sonho. Capítulo 2. parte 1O
(n/a: as partes escritas em itálico tem como narrador o Kurt)
- SE VOCÊ NÃO DESCER EM DOIS MINUTOS EU SUBO AÍ E TE TRAGO PELOS CABELOS, OUVIU BIA ?
- É UM POUCO DÍFICIL NÃO OUVIR JÁ QUE VOCÊ ESTÁ BERRANDO PAULA. - respondi no mesmo tom de voz. Ela estava lá em baixo me esperando, enquanto eu terminava de me arrumar para ir à festa do Arthur.
Escolhi usar o meu mais novo vestido da Chanel, preto com alças finas e alguns detalhes transparentes. Ele batia na metade das minhas coxas e as minhas sandálias de prata salto 10 Loubotin pareciam deixá-lo mais curto do que já era. Como eu sou uma menina decente, resolvi colocar um short curto de laica por baixo do vestido. Coloquei minhas dezenas de pulseiras prateadas no braço esquerdo, minhas argolas de diamante e deixei meu cabelo solto. Optei por usar uma sombra meio azul, para dar um 'colorido' em mim e meu batom rosa chiclete da nova coleção da Dolce&Gabana.
- O quê foi ? - perguntei, ao notar o olhar do Luc em cima de mim.
- Já viu o tamanho da sua roupa? É menor que a auto-estima da Ana Juli. - ele falou, fazendo com que a Ana soltasse um murmúrio de indignação que foi ignorado por todos.
- Fala sério, Luc. - revirei os olhos.
- Ok, você não vai obrigar a Bia a trocar de roupa agora né, Luc ? - Megan começou a falar carinhosa - A gente já tá atrasada. Terrivelmente atrasada, ela vai demorar mais duas horas para se trocar !
- Eu não entendo porquê vocês vão nessa festa idiota em plena quinta-feira !
- Nós já conversamos sobre isso, irmãozinho lindo. É como se fosse uma tradição do pessoal do colégio ou algo do tipo.
- Mas a Ana e a Flora não vão. - ele falou emburrado.
- A Flora vai sair com o Joey e a Ana... Bem, ela não quer ver o Thiago pegando todas. - Paula falou, dando de ombros.
- Mesmo eu falando que ele não é desse tipo que pega todas, ela ainda prefere ficar em casa. - bufei.
- Tchau, pessoas. - Paula falou me puxando e a última coisa que eu vi foi o Luc revirando os olhos.
- Cuida da minha pequena, Paula. - ele pediu, fazendo com que ela sorrisse e fechasse a porta em seguida.
Tá legal. É implicância minha ou esses dois gostam de me tratar como se eu fosse uma criança ?
Fazia quarenta minutos que eu estava procurando por ela. As pessoas vinham me cumprimentar, querendo saber quando seria o próximo jogo, algumas meninas me dando mole, o Thiago fazendo umas piadinhas idiotas sobre a surpresa do baile e tudo mais que eu podia pensar estava acontecendo agora, menos o que eu queria. Quase todas as pessoas daquele colégio estavam ali, menos a que era mais importante para mim.
A festa já tinha começado a quase duas horas, eu cheguei atrasado por culpa do Thiago que não se decidia entre usar um tênis preto ou branco. Cara, para quê tanta preocupação com um tênis ? Nem parece meu irmão, fala sério. Eu já estava um pouco estressado por causa disso, agora adiciona o fato de que eu fiquei rodando uma casa de três andares na esperança de encontrar certo alguém.
Tudo bem, eu sei daquela história de que as mulheres levam um século para se arrumar e tal, mas tanto assim é exagero né ?
- Nossa, ela está linda. - escutei Arthur falar com alguém atrás de mim.
- Fiquei sabendo que ela não está mais namorando com o Harcourt. - algum amigo dele falou.
- Pois é hoje essa garota não me escapa. - eu me virei em direção à porta para confirmar a minha suspeita.
Era da Bia que o Arthur estava falando. Ela havia acabado de chegar. E ela estava linda. E... Tudo bem, me permito dizer que ela estava provocante. Atraiu todos os olhares de cobiça masculinos e todos os olhares de inveja femininos. E isso me deixou um pouquinho irritado, mas só um pouquinho, óbvio.
Fiquei parado, encostado na escada, enquanto via a minha pequena conversando com algumas pessoas e abrindo aquele sorriso que eu tanto adorava. Algo em mim me dizia que as coisas entre nós ficariam bem de novo. A Mellanie vai embora amanhã e eu não vejo a hora de chegar o baile. Minha mente gritava pela aproximação, minha boca queria sentir o gosto dela, o seu cheiro, seu toque... Eu estava sentindo falta de tudo relacionado a ela.
- Hey, Kurt. - ouvi o Thiago me chamar, enquanto eu me encaminhava em direção ao jardim. Contrariando o meu coração e a minha vontade, decidi ficar longe da Bia essa noite. Ou então eu colocaria tudo a perder...
- Fala, Thiago.
- Viu a gatinha ? - ele perguntou e eu revirei os olhos. Eu tenho todo o direito de não gostar do fato do meu irmão chamar a minha ex futura atual namorada de gatinha, certo ?
- Aham, ela chegou faz uns 30 minutos.
- E a Ana Juli ?
- Que tem a Ana, Thiago ? - agora foi a vez dele revirar os olhos.
- Ela veio junto ?
- Acho que não. Só vi a Paula com ela.
- O irmão da Bia também não veio ?
- Não. – respondi simplesmente e o fiquei encarando. Opa, opa – Você não acha que ...
- Que ela não veio só para ficar em casa sozinha com ele ? Sim, eu acho.
- Mas ela e as meninas vivem dizendo que a Paula tem uma queda pelo Luc. A Ana Juli é doidinha, mas não a ponto de fazer isso com uma amiga.
- Quem garante ?
- Você deveria garantir né, Thiago ? Afinal ela é sua namorada e deveria ter sua confiança.
- A gente não namora.
- Talvez já esteja na hora de pensar sobre isso, cara.
Deixei meu irmão com sua consciência – ok, isso foi podre – e voltei para a sala. Toda vez que o meu olhar se cruzava com o dela, eu desviava. Me juntei ao pessoal do time que estava perto do bar e fiquei ali por um bom tempo. Tentando pensar em outra coisa que não fosse a minha enorme vontade de agarrar a Bia agora mesmo.
Veja bem, tentando.
Uma música envolvente tocava agora no volume mais alto do que o permitido para o horário e a pista de dança estava chamando o meu nome.
Mas, como sempre, eu estava procurando preocupada pela Paula. Ela acabou bebendo demais e está se atracando em algum lugar dessa festa com um dos amigos do Arthur. De novo. Para ser sincera, essas crises que ela dá quando vai a alguma festa já estavam me cansando. Ela bebe, bebe e bebe, se atraca com alguém, acorda no outro dia de ressaca sem se lembrar de nada e jura para mim que não vai fazer outra vez. E a ingênua aqui como sempre acredita. Não que eu seja daquele tipo de pessoa que recrimina quem bebe, mas o estado que ela fica depois é desprezível. E ela sabe disso.
- Viu a Paula ?
- ...
- Você viu a Paula ?
- Sai daqui...
- Sabe aonde a Paula foi parar ?
- Se essa Paula for gostosa, eu descubro. - é impressionante o número de pervertidos que aparecem em uma festa como essa.
- Meninas, alguma de vocês viu a ? – perguntei para algumas garotas do 3ªA, que estavam perto da cozinha.
- Não.
- Noooop.
- Deve estar se agarrando com alguém por aí.
- Eu vi, Bia.
- Jura ? Aonde ?
- Para de ser estraga prazeres, Claire. Deixa a garota se divertir sem tem uma santinha no pé dela. – parece que alguém aqui não gosta de mim.
- Eu estou preocupada com ela, Claire. Me diz aonde.
- Você tem toda razão de estar preocupada, ela passou aqui há uns cinco minutos atrás completamente bêbada e acompanhada do...
- Do...
- Do Ethan, amigo do Arthur. É melhor você ir atrás dela, esse garoto não presta.
- Eu vou. Mas para onde eles foram ?
- Em direção ao bar.
Senti meu coração bater mais forte, o bar foi o único lugar que eu não procurei por uma razão básica. Kurt estava lá.
Eu não fui a única pessoa a perceber que ele estava me ignorando, as pessoas naquela festa estavam comentando sobre isso, o que fazia com que eu ficasse pior do que já estava. Eu queria que ele sentisse aquilo que eu estava sentindo agora, queria fazê-lo sofrer assim como eu sofria e por isso, eu estava fazendo o mesmo.
Ótimo, para melhorar a situação ele ainda estava sentado perto da Paula. Simplesmente ótimo.
- Paula, vamos embora. – falei assim que cheguei ao seu lado.
- Maanda outro Sex On The Beach, caa-ra. – ela pediu para o garçom – Agoooora que a festa tá... bo-ooa ? Naaada disso Fo-fofura.
- Olha para você, Paula. Está mais para lá do que para cá, amanhã ainda tem aula sabia ?
- E daí ? – o menino que eu deduzi ser o tal do Ethan falou.
- ÉÉÉ ! E daí ? – ela se virou para mim – Bia, o Ethan me chamou para ir lá fora. Na sauna. Vaaamos ?
- Não, nós vamos para casa. – comecei a puxá-la pelo braço, mas ela se soltou andando em direção aos dois meninos que já estava se direcionando para fora da sala. Eu fui atrás, claro.
Parecia que cada passo que eu dava fazia o meu coração acelerar mais. Eu estava com medo, isso era fato.
A sauna estava vazia, quando nós chegamos lá. Ainda era possível ouvir a música que tocava dentro da casa, em um piscar de olhos aPaula e o Ethan já estava se agarrando loucamente ao meu lado. O Arthur me olhava de um jeito que fazia o meu medo aumentar, tinha maldade naquele olhar, perverção.
E foi quando ele trancou a porta do lugar que o meu coração parou, quase que completamente. O desespero dentro de mim aumentava e eu queria correr, gritar. Ele foi se aproximando de mim e eu andando para trás, até que as minhas costas encontraram a parede gelada, fazendo com que o sorriso que ele possuia no rosto aumentasse. Os lábio do Arthur vieram em direção à minha boca e eu desviei.
- Qual é Almeida ? Vai bancar a difícil agora é ? - caminhei em direção a porta, esperando que ele tivesse esquecido a chave ali.
- Abre essa porta, Arthur. Eu quero ir embora.
- Para que ? A gente vai se divertir aqui.
- Abre agora.
- Eu sei que você me quer, Almeida. Não precisa fingir.
- Eu te quero ? - soltei uma risada irônica e alta.
- Desde do seu primeiro dia no colégio.
- Olhe bem para mim Arthur. Até parece que alguém como eu, - apontei para mim - iria querer alguém como você. - apontei para ele, terminando a frase do jeito mais irônico possível. Percebi que ele ficou com raiva.
- Você vai se arrepender disso, garota.
E numa fração de segundo, ele estava me jogando na parede, apertando meus pulsos e forçando sua boca na minha. Eu virava meu rosto, tentando escapar daquilo, mas isso parecia exitá-lo. Quando mais eu tentava fugir, mais ele me agarrava. Meus pulsos estavam doendo e as lágrimas já beiravam meus olhos quando ele passou a dar longos e doloridos chupões pelo meu pescoço e perto dos meus seios.
Eu não podia acreditar no que estava acontecendo, isso não podia estar acontecendo.
- Ai, cacete. - ouvi o Ethan gritar ao meu lado - O quê você está fazendo cara ?
- Não se mete. - ele falou ainda agarrando meus pulsos.
- Isso dá cadeia, Arthur. Para com isso.
- Ninguém nunca vai saber disso, eu só vou me divertir com ela.
- Divertir ? Se divertir ? Isso é estupro ! - agora as lágrimas que eu havia segurado já estava correndo pela minha face - Solta essa menina ou abre essa porta para eu ir embora.
Nesse momento eu senti suas mãos afrouxarem meu pulso e um alívio percorreu meu corpo. Cedo demais.
Ele segurou meus braços, me jogou em qualquer direção daquela sauna imensa fazendo com que a minha cabeça batesse em uma superfície grande e pontuda, que barecia ser uma cadeira ou algo assim. Senti uma dor forte na minha cabeça, enquanto eu escorregava e via tudo rodar. Ao meu lado, vi a Paula desacordada com sua blusa praticamente rasgada e com a boca suja de vômito. Meu choro se intensificou.
Eu ouvia coisas aleatórias que eram berradas pelos dois na porta, enquanto eu lutava para permanecer acordada. Se eu fechasse meus olhos seria fim, o Arthur iria fazer o que quisesse comigo e só de pensar nessa possibilidade eu me sentia enojada. Eu preferia morrer do que deixá-lo fazer isso comigo.
De repente, eu senti um peso em cima de mim. Ele tinha voltado.
Suas mãos agora percorriam meu corpo, levantando meu vestido, passando por debaixo do meu short e tocando minha calcinha. Eu berrava, me contorcia, chutava qualquer lugar dele que eu conseguisse, mas ele não parava. Sua boca subiu pelo meu corpo, até chegar em minha boca que já sangrava devido a força que ele depositava em suas mãos na tentativa de me fazer ficar quieta.
Meu vestido estava rasgado, eu não sabia aonde estava meu calçado, minhas mãos estavam doendo de tanto que eu batia nele. Eu já não suportava mais a dor que havia apoderado o meu corpo naquele momento. Meus braços estavam caídos ao lado do meu corpo estirado no chão, meus olhos estavam quase fechados, Arthur estava lambendo meu pescoço e a minha esperança e força já tinham ido embora, quando a janela de vidro do lado da sauna se quebrou. Os cacos vieram todos em nossa direção, tirando o Arthur de cima de mim e acordando a .
Foi quando eu vi aquele par de olhos que eu tanto amava emanando raiva.
Eu estava começando a me preocupar. Já faziam quase uma hora desde a última vez que eu havia visto a Bia e a Paula, o Thiago já estava preocupado.
Ninguém ali parecia ter visto as duas e o fato do Arthur ter sumido não significava boa coisa.
Assim, todo mundo sabe que o Arthur tem uma queda de 987654321 andares pela Bia, com isso várias hipóteses surgiram na minha cabeça. Será que ela havia decidido dar uma chance para aquele panaca ? Quem me garante que, enquanto eu estou aqui todo preocupado, ela não está em uma parede qualquer se agarrando com ele ? Então, ela desistiu de mim ?
- Kurt. - a voz do Thiago me desviou das perguntas sem respostas que rondavam minha cabeça - Aquele dali não é o menino que estava com a Paula ?
- Vamos lá. - falei, logo depois de perceber que era o mesmo garoto do bar.
- Hey, era você que estava com a Paula antes não era ? - Thiago perguntou, tentando parecer simpático.
- Aonde está o Arthur ? - perguntei direto.
- Ele está fazendo uma coisa muito errada e eu não quero ir para cadeia como cúmplice. Não de novo. - ele falou transtornado.
- O que ele está fazendo ? - Thiago perguntou preocupado, acredito que ele pensou no mesmo que eu.
- Ele... Quer... Ela...
- Aonde ele está ? - minha voz saiu séria, forte. Só de pensar no que ele poderia estar fazendo com a minha pequena...
- Na sauna.
Nós dois saímos correndo em direção à sauna da família do Arthur. Quando estávamos a uns dois passos da porta, escutamos gritos que eram abafados pela música alta. Nesse momento a raiva consumiu meu corpo inteiro, eu me senti um tremendo idiota pelo que eu havia pensado antes e tudo o que eu queria fazer era entrar naquele lugar e encher a cara daquele idiota de soco.
Enquanto Thiago tentava arrombar, em vão, a porta que estava trancada, eu peguei uma das cadeiras de madeira que estavam na beira da piscina e tanquei no janelão de vidro que ficava ao lado da porta fazendo com que ele quebrasse.
Como se fosse possível, eu fiquei com mais raiva ainda quando vi o que estava acontecendo.
Ele estava em cima da minha pequena, do meu amor. Ela estava chorando, sangrando e sem forças. Nem o 'olha lá o que você vai fazer' do Thiago fez com que eu pensasse na minha seguinte atitude. Entrei na sauna e logo o tirei de cima dela, seus olhos estavam arregalados e sua boca suja de sangue. O puxei pela gola da blusa e o taquei no chão, me portando em cima dele.
Era soco atrás de soco. No rosto, na barriga, em qualquer lugar que doesse e o fizesse se arrepender do que ele havia tentado fazer com a minha namorada. Aquele idiota merecia morrer e eu provavelmente teria feito isso se ela não tivesse me chamado.
Sua voz estava fraca, cansada assim como seu corpo demonstrava estar. Só de olhar para ela, dava vontade de voltar e bater muito mais no idiota do Arthur. Bia estava agarrada ao Thiago, encolhida, chorando e chamando por mim.
A única coisa que eu poderia fazer era abraçá-la - não tão forte para não machucá-la - e deixá-la chorar em meus braços. Eu sussurrava em seu ouvido palavras de conforto, mas eu não sei o que se diz por alguém que passa por uma tentativa de estupro. Eu só queria que esse sofrimento acabasse e se eu pudesse, o pegaria todo para mim. A Bia não merecia ter passado por isso, ninguém merece.
- Vamos para o carro, Kurt. - Thiago falou.
Eu ia andando com a Bia, escondendo seu rosto em meu peito e sentindo seu choro cessar aos poucos. A Paula ainda estava um pouco bêbada e por isso ela e o Thiago demoraram para chegar aonde estávamos.
- Vamos para casa.
- Não. - quase não reconheci a voz da Bia - Eu quero ir na delegacia, Kurt.
- Não é melhor você conversar com o Luc primeiro Bia ? - Thiago pediu.
- Eu não vou deixar o Arthur sair impune dessa Thiago. Eu quero que ele passe o resto da vida medíocre dele na cadeia. Eu quero que ele morra ! - ela falou decidida, enquanto algumas lágrimas escorriam em seu rosto.
- Eu vou estar lá com você, amor. Sempre estive, sempre estarei. - falei, limpando seu rosto e lhe dando um selinho.
- Ain. - ela soltou um murmúrio de dor - Dói.
- Desculpa.
Na delegacia nos encaminharam para algum lugar que eu não reparei aonde era. Minha atenção estava completamente voltada para a Bia. No começo eles não queriam registrar a queixa contra o Arthur, os pais dele são bastantes conhecidos por aqui. Mas ao que parece, os dela são mais. Bastou falar o sobrenome Almeida para eles começarem a agilizar tudo rapidinho e nos mínimos detalhes.
- É tudo minha culpa. Se eu não tivesse bebido demais dessa vez isso não teria acontecido. - a Paula, que após três copos de café havia se 'curado da bebedeira', se culpava. Nós estávamos esperando a Bia acabar com o exame de corpo de delito.
- Me diz quando você não bebe demais, Paula ? - Thiago perguntou impaciente.
- O Luc vai me matar quando souber disso. Eu prometi que ia cuidar da Bia.
- É, boa sorte com isso.
Eu não posso fazer nada se acredito que a Paula seja culpada também pelo que aconteceu. A Bia me contou toda a história e eu me lembro muito bem que ela falou 'Eu só fui até lá, porque ela estava bêbada e eu me preocupei. Você sabe como eu sou'.
Sinceramente ? A Paula não é uma das minhas pessoas favoritas agora.
O caminho até a casa da Bia foi em completo silêncio, dessa vez quem foi dirigindo foi o Thiago e uma Paula chorosa e culpada estava ao seu lado. E tudo o que eu queria, era que essa noite acabasse de uma vez.
Não vou dizer que eu estava chateada com a Paula, porque eu estava. De alguma forma ela tinha tido uma parcela de culpa em tudo isso, mas eu não queria dizer isso em voz alta. Magoá-la mais do que ela já estava magoada. Apesar de tudo a Paula é uma das minhas melhores amigas e eu sei que ela não imaginava que isso poderia acontecer. Tudo o que eu quero é que ela esqueça essa noite, porque eu vou fazer o mesmo, mas sem garantia de sucesso.
O sono vinha ganhando o meu corpo aos poucos, os braços do Kurt estavam ao redor do meu corpo e seu perfume me entorpecia. Quando chegamos em casa, ele me pegou no colo e me levou até a porta, pedi para ele me colocar no chão e assim ele o fez. Eu estava mole e o chão gelado da nossa varanda estava me incomodando.
Apoiei-me nele, enquanto Thiago tocava compulsivamente a companhia da minha casa.
- O que aconteceu com ela ? - escutei a voz sonolenta e preocupada do meu irmão perguntar, antes de me render às dores e ao sono.
- SE VOCÊ NÃO DESCER EM DOIS MINUTOS EU SUBO AÍ E TE TRAGO PELOS CABELOS, OUVIU BIA ?
- É UM POUCO DÍFICIL NÃO OUVIR JÁ QUE VOCÊ ESTÁ BERRANDO PAULA. - respondi no mesmo tom de voz. Ela estava lá em baixo me esperando, enquanto eu terminava de me arrumar para ir à festa do Arthur.
Escolhi usar o meu mais novo vestido da Chanel, preto com alças finas e alguns detalhes transparentes. Ele batia na metade das minhas coxas e as minhas sandálias de prata salto 10 Loubotin pareciam deixá-lo mais curto do que já era. Como eu sou uma menina decente, resolvi colocar um short curto de laica por baixo do vestido. Coloquei minhas dezenas de pulseiras prateadas no braço esquerdo, minhas argolas de diamante e deixei meu cabelo solto. Optei por usar uma sombra meio azul, para dar um 'colorido' em mim e meu batom rosa chiclete da nova coleção da Dolce&Gabana.
- O quê foi ? - perguntei, ao notar o olhar do Luc em cima de mim.
- Já viu o tamanho da sua roupa? É menor que a auto-estima da Ana Juli. - ele falou, fazendo com que a Ana soltasse um murmúrio de indignação que foi ignorado por todos.
- Fala sério, Luc. - revirei os olhos.
- Ok, você não vai obrigar a Bia a trocar de roupa agora né, Luc ? - Megan começou a falar carinhosa - A gente já tá atrasada. Terrivelmente atrasada, ela vai demorar mais duas horas para se trocar !
- Eu não entendo porquê vocês vão nessa festa idiota em plena quinta-feira !
- Nós já conversamos sobre isso, irmãozinho lindo. É como se fosse uma tradição do pessoal do colégio ou algo do tipo.
- Mas a Ana e a Flora não vão. - ele falou emburrado.
- A Flora vai sair com o Joey e a Ana... Bem, ela não quer ver o Thiago pegando todas. - Paula falou, dando de ombros.
- Mesmo eu falando que ele não é desse tipo que pega todas, ela ainda prefere ficar em casa. - bufei.
- Tchau, pessoas. - Paula falou me puxando e a última coisa que eu vi foi o Luc revirando os olhos.
- Cuida da minha pequena, Paula. - ele pediu, fazendo com que ela sorrisse e fechasse a porta em seguida.
Tá legal. É implicância minha ou esses dois gostam de me tratar como se eu fosse uma criança ?
Fazia quarenta minutos que eu estava procurando por ela. As pessoas vinham me cumprimentar, querendo saber quando seria o próximo jogo, algumas meninas me dando mole, o Thiago fazendo umas piadinhas idiotas sobre a surpresa do baile e tudo mais que eu podia pensar estava acontecendo agora, menos o que eu queria. Quase todas as pessoas daquele colégio estavam ali, menos a que era mais importante para mim.
A festa já tinha começado a quase duas horas, eu cheguei atrasado por culpa do Thiago que não se decidia entre usar um tênis preto ou branco. Cara, para quê tanta preocupação com um tênis ? Nem parece meu irmão, fala sério. Eu já estava um pouco estressado por causa disso, agora adiciona o fato de que eu fiquei rodando uma casa de três andares na esperança de encontrar certo alguém.
Tudo bem, eu sei daquela história de que as mulheres levam um século para se arrumar e tal, mas tanto assim é exagero né ?
- Nossa, ela está linda. - escutei Arthur falar com alguém atrás de mim.
- Fiquei sabendo que ela não está mais namorando com o Harcourt. - algum amigo dele falou.
- Pois é hoje essa garota não me escapa. - eu me virei em direção à porta para confirmar a minha suspeita.
Era da Bia que o Arthur estava falando. Ela havia acabado de chegar. E ela estava linda. E... Tudo bem, me permito dizer que ela estava provocante. Atraiu todos os olhares de cobiça masculinos e todos os olhares de inveja femininos. E isso me deixou um pouquinho irritado, mas só um pouquinho, óbvio.
Fiquei parado, encostado na escada, enquanto via a minha pequena conversando com algumas pessoas e abrindo aquele sorriso que eu tanto adorava. Algo em mim me dizia que as coisas entre nós ficariam bem de novo. A Mellanie vai embora amanhã e eu não vejo a hora de chegar o baile. Minha mente gritava pela aproximação, minha boca queria sentir o gosto dela, o seu cheiro, seu toque... Eu estava sentindo falta de tudo relacionado a ela.
- Hey, Kurt. - ouvi o Thiago me chamar, enquanto eu me encaminhava em direção ao jardim. Contrariando o meu coração e a minha vontade, decidi ficar longe da Bia essa noite. Ou então eu colocaria tudo a perder...
- Fala, Thiago.
- Viu a gatinha ? - ele perguntou e eu revirei os olhos. Eu tenho todo o direito de não gostar do fato do meu irmão chamar a minha ex futura atual namorada de gatinha, certo ?
- Aham, ela chegou faz uns 30 minutos.
- E a Ana Juli ?
- Que tem a Ana, Thiago ? - agora foi a vez dele revirar os olhos.
- Ela veio junto ?
- Acho que não. Só vi a Paula com ela.
- O irmão da Bia também não veio ?
- Não. – respondi simplesmente e o fiquei encarando. Opa, opa – Você não acha que ...
- Que ela não veio só para ficar em casa sozinha com ele ? Sim, eu acho.
- Mas ela e as meninas vivem dizendo que a Paula tem uma queda pelo Luc. A Ana Juli é doidinha, mas não a ponto de fazer isso com uma amiga.
- Quem garante ?
- Você deveria garantir né, Thiago ? Afinal ela é sua namorada e deveria ter sua confiança.
- A gente não namora.
- Talvez já esteja na hora de pensar sobre isso, cara.
Deixei meu irmão com sua consciência – ok, isso foi podre – e voltei para a sala. Toda vez que o meu olhar se cruzava com o dela, eu desviava. Me juntei ao pessoal do time que estava perto do bar e fiquei ali por um bom tempo. Tentando pensar em outra coisa que não fosse a minha enorme vontade de agarrar a Bia agora mesmo.
Veja bem, tentando.
Uma música envolvente tocava agora no volume mais alto do que o permitido para o horário e a pista de dança estava chamando o meu nome.
Mas, como sempre, eu estava procurando preocupada pela Paula. Ela acabou bebendo demais e está se atracando em algum lugar dessa festa com um dos amigos do Arthur. De novo. Para ser sincera, essas crises que ela dá quando vai a alguma festa já estavam me cansando. Ela bebe, bebe e bebe, se atraca com alguém, acorda no outro dia de ressaca sem se lembrar de nada e jura para mim que não vai fazer outra vez. E a ingênua aqui como sempre acredita. Não que eu seja daquele tipo de pessoa que recrimina quem bebe, mas o estado que ela fica depois é desprezível. E ela sabe disso.
- Viu a Paula ?
- ...
- Você viu a Paula ?
- Sai daqui...
- Sabe aonde a Paula foi parar ?
- Se essa Paula for gostosa, eu descubro. - é impressionante o número de pervertidos que aparecem em uma festa como essa.
- Meninas, alguma de vocês viu a ? – perguntei para algumas garotas do 3ªA, que estavam perto da cozinha.
- Não.
- Noooop.
- Deve estar se agarrando com alguém por aí.
- Eu vi, Bia.
- Jura ? Aonde ?
- Para de ser estraga prazeres, Claire. Deixa a garota se divertir sem tem uma santinha no pé dela. – parece que alguém aqui não gosta de mim.
- Eu estou preocupada com ela, Claire. Me diz aonde.
- Você tem toda razão de estar preocupada, ela passou aqui há uns cinco minutos atrás completamente bêbada e acompanhada do...
- Do...
- Do Ethan, amigo do Arthur. É melhor você ir atrás dela, esse garoto não presta.
- Eu vou. Mas para onde eles foram ?
- Em direção ao bar.
Senti meu coração bater mais forte, o bar foi o único lugar que eu não procurei por uma razão básica. Kurt estava lá.
Eu não fui a única pessoa a perceber que ele estava me ignorando, as pessoas naquela festa estavam comentando sobre isso, o que fazia com que eu ficasse pior do que já estava. Eu queria que ele sentisse aquilo que eu estava sentindo agora, queria fazê-lo sofrer assim como eu sofria e por isso, eu estava fazendo o mesmo.
Ótimo, para melhorar a situação ele ainda estava sentado perto da Paula. Simplesmente ótimo.
- Paula, vamos embora. – falei assim que cheguei ao seu lado.
- Maanda outro Sex On The Beach, caa-ra. – ela pediu para o garçom – Agoooora que a festa tá... bo-ooa ? Naaada disso Fo-fofura.
- Olha para você, Paula. Está mais para lá do que para cá, amanhã ainda tem aula sabia ?
- E daí ? – o menino que eu deduzi ser o tal do Ethan falou.
- ÉÉÉ ! E daí ? – ela se virou para mim – Bia, o Ethan me chamou para ir lá fora. Na sauna. Vaaamos ?
- Não, nós vamos para casa. – comecei a puxá-la pelo braço, mas ela se soltou andando em direção aos dois meninos que já estava se direcionando para fora da sala. Eu fui atrás, claro.
Parecia que cada passo que eu dava fazia o meu coração acelerar mais. Eu estava com medo, isso era fato.
A sauna estava vazia, quando nós chegamos lá. Ainda era possível ouvir a música que tocava dentro da casa, em um piscar de olhos aPaula e o Ethan já estava se agarrando loucamente ao meu lado. O Arthur me olhava de um jeito que fazia o meu medo aumentar, tinha maldade naquele olhar, perverção.
E foi quando ele trancou a porta do lugar que o meu coração parou, quase que completamente. O desespero dentro de mim aumentava e eu queria correr, gritar. Ele foi se aproximando de mim e eu andando para trás, até que as minhas costas encontraram a parede gelada, fazendo com que o sorriso que ele possuia no rosto aumentasse. Os lábio do Arthur vieram em direção à minha boca e eu desviei.
- Qual é Almeida ? Vai bancar a difícil agora é ? - caminhei em direção a porta, esperando que ele tivesse esquecido a chave ali.
- Abre essa porta, Arthur. Eu quero ir embora.
- Para que ? A gente vai se divertir aqui.
- Abre agora.
- Eu sei que você me quer, Almeida. Não precisa fingir.
- Eu te quero ? - soltei uma risada irônica e alta.
- Desde do seu primeiro dia no colégio.
- Olhe bem para mim Arthur. Até parece que alguém como eu, - apontei para mim - iria querer alguém como você. - apontei para ele, terminando a frase do jeito mais irônico possível. Percebi que ele ficou com raiva.
- Você vai se arrepender disso, garota.
E numa fração de segundo, ele estava me jogando na parede, apertando meus pulsos e forçando sua boca na minha. Eu virava meu rosto, tentando escapar daquilo, mas isso parecia exitá-lo. Quando mais eu tentava fugir, mais ele me agarrava. Meus pulsos estavam doendo e as lágrimas já beiravam meus olhos quando ele passou a dar longos e doloridos chupões pelo meu pescoço e perto dos meus seios.
Eu não podia acreditar no que estava acontecendo, isso não podia estar acontecendo.
- Ai, cacete. - ouvi o Ethan gritar ao meu lado - O quê você está fazendo cara ?
- Não se mete. - ele falou ainda agarrando meus pulsos.
- Isso dá cadeia, Arthur. Para com isso.
- Ninguém nunca vai saber disso, eu só vou me divertir com ela.
- Divertir ? Se divertir ? Isso é estupro ! - agora as lágrimas que eu havia segurado já estava correndo pela minha face - Solta essa menina ou abre essa porta para eu ir embora.
Nesse momento eu senti suas mãos afrouxarem meu pulso e um alívio percorreu meu corpo. Cedo demais.
Ele segurou meus braços, me jogou em qualquer direção daquela sauna imensa fazendo com que a minha cabeça batesse em uma superfície grande e pontuda, que barecia ser uma cadeira ou algo assim. Senti uma dor forte na minha cabeça, enquanto eu escorregava e via tudo rodar. Ao meu lado, vi a Paula desacordada com sua blusa praticamente rasgada e com a boca suja de vômito. Meu choro se intensificou.
Eu ouvia coisas aleatórias que eram berradas pelos dois na porta, enquanto eu lutava para permanecer acordada. Se eu fechasse meus olhos seria fim, o Arthur iria fazer o que quisesse comigo e só de pensar nessa possibilidade eu me sentia enojada. Eu preferia morrer do que deixá-lo fazer isso comigo.
De repente, eu senti um peso em cima de mim. Ele tinha voltado.
Suas mãos agora percorriam meu corpo, levantando meu vestido, passando por debaixo do meu short e tocando minha calcinha. Eu berrava, me contorcia, chutava qualquer lugar dele que eu conseguisse, mas ele não parava. Sua boca subiu pelo meu corpo, até chegar em minha boca que já sangrava devido a força que ele depositava em suas mãos na tentativa de me fazer ficar quieta.
Meu vestido estava rasgado, eu não sabia aonde estava meu calçado, minhas mãos estavam doendo de tanto que eu batia nele. Eu já não suportava mais a dor que havia apoderado o meu corpo naquele momento. Meus braços estavam caídos ao lado do meu corpo estirado no chão, meus olhos estavam quase fechados, Arthur estava lambendo meu pescoço e a minha esperança e força já tinham ido embora, quando a janela de vidro do lado da sauna se quebrou. Os cacos vieram todos em nossa direção, tirando o Arthur de cima de mim e acordando a .
Foi quando eu vi aquele par de olhos que eu tanto amava emanando raiva.
Eu estava começando a me preocupar. Já faziam quase uma hora desde a última vez que eu havia visto a Bia e a Paula, o Thiago já estava preocupado.
Ninguém ali parecia ter visto as duas e o fato do Arthur ter sumido não significava boa coisa.
Assim, todo mundo sabe que o Arthur tem uma queda de 987654321 andares pela Bia, com isso várias hipóteses surgiram na minha cabeça. Será que ela havia decidido dar uma chance para aquele panaca ? Quem me garante que, enquanto eu estou aqui todo preocupado, ela não está em uma parede qualquer se agarrando com ele ? Então, ela desistiu de mim ?
- Kurt. - a voz do Thiago me desviou das perguntas sem respostas que rondavam minha cabeça - Aquele dali não é o menino que estava com a Paula ?
- Vamos lá. - falei, logo depois de perceber que era o mesmo garoto do bar.
- Hey, era você que estava com a Paula antes não era ? - Thiago perguntou, tentando parecer simpático.
- Aonde está o Arthur ? - perguntei direto.
- Ele está fazendo uma coisa muito errada e eu não quero ir para cadeia como cúmplice. Não de novo. - ele falou transtornado.
- O que ele está fazendo ? - Thiago perguntou preocupado, acredito que ele pensou no mesmo que eu.
- Ele... Quer... Ela...
- Aonde ele está ? - minha voz saiu séria, forte. Só de pensar no que ele poderia estar fazendo com a minha pequena...
- Na sauna.
Nós dois saímos correndo em direção à sauna da família do Arthur. Quando estávamos a uns dois passos da porta, escutamos gritos que eram abafados pela música alta. Nesse momento a raiva consumiu meu corpo inteiro, eu me senti um tremendo idiota pelo que eu havia pensado antes e tudo o que eu queria fazer era entrar naquele lugar e encher a cara daquele idiota de soco.
Enquanto Thiago tentava arrombar, em vão, a porta que estava trancada, eu peguei uma das cadeiras de madeira que estavam na beira da piscina e tanquei no janelão de vidro que ficava ao lado da porta fazendo com que ele quebrasse.
Como se fosse possível, eu fiquei com mais raiva ainda quando vi o que estava acontecendo.
Ele estava em cima da minha pequena, do meu amor. Ela estava chorando, sangrando e sem forças. Nem o 'olha lá o que você vai fazer' do Thiago fez com que eu pensasse na minha seguinte atitude. Entrei na sauna e logo o tirei de cima dela, seus olhos estavam arregalados e sua boca suja de sangue. O puxei pela gola da blusa e o taquei no chão, me portando em cima dele.
Era soco atrás de soco. No rosto, na barriga, em qualquer lugar que doesse e o fizesse se arrepender do que ele havia tentado fazer com a minha namorada. Aquele idiota merecia morrer e eu provavelmente teria feito isso se ela não tivesse me chamado.
Sua voz estava fraca, cansada assim como seu corpo demonstrava estar. Só de olhar para ela, dava vontade de voltar e bater muito mais no idiota do Arthur. Bia estava agarrada ao Thiago, encolhida, chorando e chamando por mim.
A única coisa que eu poderia fazer era abraçá-la - não tão forte para não machucá-la - e deixá-la chorar em meus braços. Eu sussurrava em seu ouvido palavras de conforto, mas eu não sei o que se diz por alguém que passa por uma tentativa de estupro. Eu só queria que esse sofrimento acabasse e se eu pudesse, o pegaria todo para mim. A Bia não merecia ter passado por isso, ninguém merece.
- Vamos para o carro, Kurt. - Thiago falou.
Eu ia andando com a Bia, escondendo seu rosto em meu peito e sentindo seu choro cessar aos poucos. A Paula ainda estava um pouco bêbada e por isso ela e o Thiago demoraram para chegar aonde estávamos.
- Vamos para casa.
- Não. - quase não reconheci a voz da Bia - Eu quero ir na delegacia, Kurt.
- Não é melhor você conversar com o Luc primeiro Bia ? - Thiago pediu.
- Eu não vou deixar o Arthur sair impune dessa Thiago. Eu quero que ele passe o resto da vida medíocre dele na cadeia. Eu quero que ele morra ! - ela falou decidida, enquanto algumas lágrimas escorriam em seu rosto.
- Eu vou estar lá com você, amor. Sempre estive, sempre estarei. - falei, limpando seu rosto e lhe dando um selinho.
- Ain. - ela soltou um murmúrio de dor - Dói.
- Desculpa.
Na delegacia nos encaminharam para algum lugar que eu não reparei aonde era. Minha atenção estava completamente voltada para a Bia. No começo eles não queriam registrar a queixa contra o Arthur, os pais dele são bastantes conhecidos por aqui. Mas ao que parece, os dela são mais. Bastou falar o sobrenome Almeida para eles começarem a agilizar tudo rapidinho e nos mínimos detalhes.
- É tudo minha culpa. Se eu não tivesse bebido demais dessa vez isso não teria acontecido. - a Paula, que após três copos de café havia se 'curado da bebedeira', se culpava. Nós estávamos esperando a Bia acabar com o exame de corpo de delito.
- Me diz quando você não bebe demais, Paula ? - Thiago perguntou impaciente.
- O Luc vai me matar quando souber disso. Eu prometi que ia cuidar da Bia.
- É, boa sorte com isso.
Eu não posso fazer nada se acredito que a Paula seja culpada também pelo que aconteceu. A Bia me contou toda a história e eu me lembro muito bem que ela falou 'Eu só fui até lá, porque ela estava bêbada e eu me preocupei. Você sabe como eu sou'.
Sinceramente ? A Paula não é uma das minhas pessoas favoritas agora.
O caminho até a casa da Bia foi em completo silêncio, dessa vez quem foi dirigindo foi o Thiago e uma Paula chorosa e culpada estava ao seu lado. E tudo o que eu queria, era que essa noite acabasse de uma vez.
Não vou dizer que eu estava chateada com a Paula, porque eu estava. De alguma forma ela tinha tido uma parcela de culpa em tudo isso, mas eu não queria dizer isso em voz alta. Magoá-la mais do que ela já estava magoada. Apesar de tudo a Paula é uma das minhas melhores amigas e eu sei que ela não imaginava que isso poderia acontecer. Tudo o que eu quero é que ela esqueça essa noite, porque eu vou fazer o mesmo, mas sem garantia de sucesso.
O sono vinha ganhando o meu corpo aos poucos, os braços do Kurt estavam ao redor do meu corpo e seu perfume me entorpecia. Quando chegamos em casa, ele me pegou no colo e me levou até a porta, pedi para ele me colocar no chão e assim ele o fez. Eu estava mole e o chão gelado da nossa varanda estava me incomodando.
Apoiei-me nele, enquanto Thiago tocava compulsivamente a companhia da minha casa.
- O que aconteceu com ela ? - escutei a voz sonolenta e preocupada do meu irmão perguntar, antes de me render às dores e ao sono.
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