domingo, 10 de outubro de 2010

O melhor sonho. Capítulo 3. parte 2.

Dois meses se passaram desde aquele dia na praia, hoje era o último dia de aula, o colégio estava uma bagunça danada. Metade animada pela chegada das tão esperadas férias e outra metade desesperada com a possível chance de repetir. Durante esses dois meses eu aprendi muito com o Kurt, o Luc e comigo mesma. Aprendi que o tempo não cura uma ferida, mas de alguma forma, de um jeito misericordioso diminui o tamanho dela. Eu quase não pensava mais no que havia acontecido na casa do Arthur, ele saiu do colégio sem dizer nada para ninguém, o que tornou minha permanência lá bem possível.
Sinceramente, a maioria das pessoas iria querer estragar a vida da antiga novata, que fez com que o melhor artilheiro e um dos mais populares do colégio fosse embora.

- Bom dia, meu amor. - Kurt falou, assim que me viu entrando na sala.
- Bom dia. - respondi automaticamente, enquanto me sentava ao lado dele.
- Aconteceu alguma coisa ?
- Não, eu só não dormi direito. - dei de ombros.

As aulas, milagrosamente, passaram voando. No meio da tarde, nós sete estávamos em uma pequena sorveteria perto do colégio conversando sobre o quê fazer nas férias. Quer dizer, cinco conversavam, a Paula parecia ter encontrado algo bastante interessante em seu sundae, enquanto eu a encarava. Tinha alguma coisa acontecendo com a minha amiga e eu precisava descobrir. Eu pensei que ela ia ficar feliz quando soubesse que o Luc a havia deixado ficar em casa, mas não. Ela só deu um sorriso que não engana ninguém e disse 'Que bom'. Nada tirava da minha cabeça que era alguma coisa em relação ao Luc, mas ela não me falava nada. Sempre encontrava uma maneira de fugir do assunto e isso me irritava.

- Paula.
- Oi ?
- Vamos no banheiro comigo ? Rapidinho. - ela assentiu com a cabeça e nós fomos - O quê você tem, amiga ?
- Nada, ué.
- Como nada ? Você tá aí, toda murchinha, sem ânimo nenhum...
- Eu já falei que estou bem, Bia. Que insistência. - ela disse em paciência.
- Cadê aquela Paula que vivia rindo de todos e para todos ?
- Acho que ela saiu para dar uma volta e não vai voltar tão cedo.
- Se você encontrá-la, diz que eu sinto falta da minha amiga. - deixei-a sozinha e voltei para a mesa.
- A gente só vai poder fazer alguma coisa até uma semana antes do natal. - ouvi Thiago dizer.
- Por que ? - Ana.
- O Luc falou que a gente vai gravar algumas músicas, parece que o manda-chuva dele gostou do nosso som. - Joey falou com um de 'oi, eu sou demais' e eu tive que rir.
- Para de chamar o Zach de manda-chuva, que nervoso. - disse, ainda rindo.
- Já que nós não teremos nossos namorados, podíamos fazer uma viagem de amigas né ? - Flora falou animada - Tipo, só nós quatro em Paris. Ou então no Brasil, ou na Austrália.
- Não contem comigo. - falei.
- Por que, prima ?
- Meus pais já intimaram eu e o Luc para passar o Natal e o Ano Novo com eles na Itália.
- Itália ? Mas eles não estavam na Austrália ? - Thiago.
- Mudaram de novo. - dei de ombros.
- Quanto tempo vocês vão ficar lá ? - Kurt perguntou, me abraçando.
- A gente vai uma semana antes do Natal e volta três dias antes do começo das aulas.
- Tudo isso ? - ele retrucou surpreso e eu só assenti.

Esperamos a Paula voltar e fomos embora, o Thiago deu a ideia da gente ir em um parque só para passar o tempo e a Paula prontamente negou. Não insistimos, no fundo todo mundo ali achou melhor assim. Um encontro triplo, onde a gente não precisaria se conter para não deixá-la de vela e sem deixá-la sem graça com os comentários típicos de casais.
Escolhi usar um vestidinho branco curto e simples, com uma bota preta sem salto. Já estávamos prontas, quando os Harcourt tocaram a campainha da minha casa. A Paula estava vendo Tv, então nós quatro nos despedimos dela com um beijinho na cabeça.

- Aonde está o Luc ? - Thiago.
- Ah. - suspirei - Ele saiu para uma festa ontem e ainda não voltou.
- E você não está preocupada ? - Kurt perguntou, confuso.
- Eu acho que já me acostumei com essas atitudes do Luc. - confessei.
- É, ele deve estar catando alguma piranha por aí. - Paula falou e subiu, nos deixando sem saber o que dizer.
- Bom... Vamos pro parque então ? - Flora pediu.
- Será que não vai ter problema deixar a Paula aqui ? Sozinha ? Ela me parece tão mal.
- Ela deve estar precisando de um tempo sozinha. Deixe-a, Bia. - Thiago.

Estranhei o fato deles estarem de carro, mas não comentei nada. Para mim, nós iríamos para o parquinho que tinha ali perto de casa, ficar jogando conversa fora. As meninas tão bem pensaram isso, mas pelo visto eles tinham um outro conceito para aquela tarde no parque.

- Parque de diversões ? - falei assim que me deparei com uma montanha-russa extremamente gigante.
- Sim ! Gostaram ? - Thiago perguntou animado.
- Desde que a gente não vá na montanha-russa, para mim tá perfeito. - falei.
- Você ? Com medo de montanha-russa ? - ele falou e começou a rir de mim.
- Para de rir, Thiago ! É trauma de infância. - e nessa hora Kurt olhou para mim descrente - Tá, não tem trauma nenhum, mas olha o tamanho desse bicho ! Eu vou ter no mínimo um aneurisma.
- Menos, Bia. - Flora.
- Então, aonde a gente vai primeiro ? - Joey perguntou.
- TREM FANTASMA ! - berrei animada - É trem fantasma o nome do troço ?

Ok, eu não vejo graça nisso. São pessoas vestidas de uma forma horripilante e que são pagas para ficar andando por ali e dar um susto na gente. Mas ver a cara e as atitudes da Ana Juli diante dessas pessoas era realmente demais.

- NUNCA. JAMAIS. PREFIRO A MORTE. ME SOLTEM. - minha prima berrava, enquanto nós a arrastávamos - EU NÃO VOU FUGI, CACETE.
- Soltem ela. - Thiago pediu.
- Eu vou, mas com uma condição. - opa, isso não tá me cheirando bem - Se a Bia for na montanha-russa depois.- ela disse e eu comecei a rir.
- Tá louca ? É claro que eu não vou. Você sabe o pavor que eu tenho de ir naquele troço.
- Até parece que eu não sei o porquê de você querer tanto vir nisso aqui. - ela disse debochada.
- Eu vou com você, amor. - Kurt disse, me abraçando de lado.
- Mas...
- Ela vai, galera. - ele falou, fazendo com que eu o olhasse indignada.

Esquece o que eu falei sobre a cara e as atitudes da Ana, os sustos que o Joey levava eram tão mais divertidos. O menino chegava a pular e eu me acabava de rir, no final ele estava branco e com os olhos arregalados.

- Nunca mais eu vou nisso. Nunca mais. - ele falava o tempo todo.
- Agora sua vez, querida prima. - Ana disse, enquanto se sentava no carrinho.
- Como uma coisa dessas não tem fila ? - perguntei.
- É o universo conspirando a seu favor. - Thiago disse e todos riram.
- A graça passou tão rápido que eu nem alcancei. - falei de cara fechada

Me sentei ao lado do Kurt e segurei fortemente sua mão. Mas quando eu digo fortemente é fortemente mesmo, a ponto dele reclamar de dor. Os carrinhos começaram a subir e ao mesmo tempo eu comecei a gritar, eu estava vendo a morte, tipo aquela menina do Premonição 3, só que ao contrário dela eu via a minha morte. Que estava prestes acontecer.

- Respira, amor, respira. - Kurt me abraçava e tentava me acalmar.
- Da próxima vez que vocês me forçarem a fazer isso, eu mato um por um. - falei em um fio de voz. Eu estava praticamente roca. E sim, de tanto que gritei.
- Mata nada. - Thiago.
- Mato sim.
- Não.
- Sim.
- Não começa vocês dois. - os outros quatro falaram.
- Mas a gente nem fez nada. - eu e Thiago murmuramos.

Depois da Flora ter andado no carrosel, do Kurt no carrinho de bate-bate e de eu ter comprado meu algodão doce rosa, cada um foi para um lado com a sua namorada. Kurt me levou para onde ficavam os pedalinhos. Nós (lê-se eu) escolhemos um patinho rosa super fofo e ficamos pedalando em círculos por mais de vinte minutos.

- Que lindo o pôr-do-sol.
- Lindo mesmo.
- Mas você nem o está vendo, Kurt.
- Acredite o que eu estou vendo é muito mais bonito.
- O quê você... - me virei para ver sobre o que ele estava falando e percebi que ele estava olhando para mim. Corei.
- Você fica tão fofinha corada.
- Fofinha ? - fiz uma careta.
- Aham. Minha fofinha. - ele deu um beijinho em meu pescoço, me fazendo arrepiar - Minha gatinha. - mordeu minha orelha - Meu anjo - me deu um beijo na testa - Meu amor. - um beijo demorado na bochecha. - Minha vida. - e beijou a minha boca.

Era um beijo cheio de ternura e desejo. Ele sempre me surpreendia com seus beijos, por mais que nos beijássemos (e acredite a gente fazia muito isso), os nossos beijos eram sempre diferentes... Melhores.
Ficamos assim por mais um tempo, quando decidimos procurar os outros para ir embora. Já estava escurecendo e um vento frio tomava conta do local.

- Podemos ir ? - perguntei e todos assentiram com a cabeça. Nesse momento o celular do Kurt começou a tocar.
- Alô ? ... Sim, estou com ela... Deve ter deixado em casa... Quer falar com ela ? - então ele esticou o celular para mim e falou - É o Luc, ele parece bastante preocupada.
- Oi, amorzinho. - falei.
-- Onde você está ?
- Eu estava em um parque de diversões, já estou indo para casa. Por que ?
-- Não vai para casa, vem para o Hospital St. Marks.
- Hospital ? O que aconteceu ? Você tá bem ?
-- Eu estou, mas...
- Mas o quê, Luc ? Você está me preocupando.
-- Por que vocês deixaram a Paula sozinha ? Ela... Ela...

Precisei de cinco minutos para conseguir me acalmar e dizer para todo mundo o que havia acontecido.

- Bia, você está deixando a gente preocupado. Fala alguma coisa. - Kurt.
- O que aconteceu ? Por que você falou sobre hospital ? O Luc está bem ? - Ana.
- O Luc está bem. - consegui falar.
- Então por que você está assim ? - Thiago.
- A Paula... Parece... Parece que ela... Ela tentou se matar.

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