Por conta da minha viagem e do Luc - e consequentemente da Paula - nós resolvemos adiantar um pouco as comemorações de Natal. Daqui a três dias, eu estaria na Itália. O que seria perfeito para qualquer um, menos para a Smith. O porquê é bem óbvio, o Luc está parecendo uma segunda sombra dela. Aonde ela vai, ele vai. Ele regula tudo, o que comer, aonde ir, quando dormir. Tá, eu admito que isso pode ser chato às vezes, mas a Paula tem que dar um desconto para ele. Afinal, ele só está seguindo o que a psicóloga falou. Ah, sim. Ele a convenceu a fazer isso também.
- Ele está fazendo isso para o seu bem, Paula. - Flora falou ríspida.
- Eu sei que ele pode ser chatinho às vezes, mas ele só está preocupado com você. - falei.
- E todo mundo sabe que você deveria ficar feliz com toda essa atenção. - Ana disse risonha.
- Eu sei e eu fico. - ela começou a responder manhosa - Mas todo essa atenção excessiva me irrita. Demais.
O nosso pedido chegou e depois disso, um silêncio perturbador e anormal se instalou entre nós. Ao que parecia, todo mundo tinha um problema para se concentrar e nada, eu disse nada mesmo, me tira da cabeça que o problema da Flora é o Joey. Mesmo os dois falando que tudo está bem. Mesmo que os dois estejam achando que enganam todo mundo com aqueles sorrisos amarelos.
- Já podemos ir ? - Flora pediu impaciente.
- Sim. - Ana.
- Eu não sei o que tá acontecendo com você, mas vai dar tudo certo. - sussurrei para a Flora.
- Não está acontecendo nada.
- Eu sei que está. - rebati - Mas eu não vou insistir. Quando você estiver pronta para falar, eu estarei aqui para ouvir.
Nós ficamos nos arrumando o resto do dia para o nosso amigo secreto de Natal, que vai ser feito na casa dos Harcourt. Como boa nora que sou, além de comprar o presente da pessoa que eu tirei e do meu namorado, também comprei para a Sr e Sra Harcourt. Os presentes dos demais, eu traria quando voltasse da Itália.
Me arrumei de forma simples, assim como as meninas, já que não era uma grande festa e só nós oito estaríamos lá. Uma blusa vermelha com um decote nas costas e um pouco larguinha, um short curtinho branco e rasteirinhas prata. Algumas pulseiras da Tiffany's, um brinco comprido de pedrinhas e um cordão de lacinho.
Peguei meu presente, apressei o Luc, zoei a Ana e em dez minutos nós estávamos tocando a campainha da casa dos Harcourt. Casa a qual que estava impecavelmente arrumada. Não pude deixar de reparar na árvore de natal, que estava no canto esquerdo da sala de estar, ela era imensa. Quase tocava o teto, tinha um monte de bolinhas coloridas penduradas, alguns bonequinhos do Mickey e de Papai Noel, as luzes brancas contrastavam com a espuma branca que dava uma 'aparência' de neve e deixava-a ainda mais bonita. Notando os brilhos dos meus olhos e o quanto eu fiquei maravilhada vendo aquilo, Kurt me abraçou de lado e sussurrou,
divertido, em meu ouvido.
- Cuidado para não molhar o tapete da mamãe com a sua baba.
- Idiota. - dei um soquinho em seu braço - É tão linda.
- Não é uma das melhores, nem das mais bonitas.
- Você diz isso porque tem uma árvore em casa. Nem isso eu tenho, beleza ?
- Não tem porque não quer.
- Não tenho porque ninguém vai ficar em casa. E não começa com isso.
- Ok, não está mais aqui quem falou. - então, ele me deu um selinho.
- Não acredito que eu vou embora sem ver a neve americana. - falei pesarosa e encostei minha cabeça em seu ombro.
Antes que ele pudesse responder alguma coisa, o Frankie desceu as escadas correndo e pulou em mim, fazendo com que eu quase caísse - como sempre. Entreguei os meus presentes para o Sr. e a Sra. Harcourt, um pouco antes deles saírem, que agradeceram pelo carinho.
- Estou com fome. - falei, estávamos sentados na sala de estar.
- Eu também. - Kurt.
- Três. - Ana.
- Quatro. - Flora.
- Cinco. - Paula.
- É para continuar falando os números ou a gente já pode levantar pra comer ? - Joey falou um pouquinho rude. O que nos trás de volta à teoria Joey-Flora = problema.
- Tem alguém de mau humor aqui. - Thiago - 'Bora comer, cambada.
Alguma parte louca da Ana Juli (o que significa ser qualquer pedaço daquele corpo maluco) queria que a gente começasse a trocar os presentes somente à 00:00. Então, até lá, a gente ficou comendo, se divertindo e tirando muitas fotos.
- Eu começo. - Flora falou, se colocando de pé - Eu conhecia essa pessoa à muito tempo, mas até esse ano eu não havia trocado mais do que seis palavras com ela.
- Ok, esse muito tempo me exclui. - eu disse.
- E a Ana também, por culpa do 'mais do que seis palavras'. - Thiago.
- Posso continuar ? - ela arqueeou uma sobrancelha - Enfim, até hoje eu acredito que ela foi a responsável pela minha permanência nessa querida cidade e a da Bia.
- Kurt. - Kurt falou, como se ele não estivesse falando dele mesmo.
- Joey. - sim, Joey falou. E ao mesmo tempo que ele.
- PAULA. - a Paula berrou e começou a pular.
- É A PAULA. - a Flora berrou também e começou a pular junto com ela - Espero que você goste, amiga. De certa forma, foi você que escolheu mesmo.
- Não acredito, não acredito, não acredito. - a Paula começou a falar frenéticamente, após ver a sacola da Chanel - Não me diz que é aquele vestido lindo, curto, preto, detalhadamente perfeito que a gente viu semana passada !
- Então eu fico quieta.
- AAAAAH, QUE LINDA. EU AMO VOCÊ FLORA. OBRIGADA, OBRIGADA, OBRIGADA.
- Isso porque é um vestido. - Luc sussurrou ao meu lado.
- Isso porque você não viu as crises da Ana em Genebra.
- Minha vez agora. Todo mundo prestando muita atenção em mim, beleza ? - ela falou e todo mundo ficou calado - Todo mundo sabe que esse ano que está acabando não foi um dos melhores para mim. Mas por um lado, eu devo agradecer por ter passado por ele e conquistado a amizade e o carinho de pessoas tão maravilhosas como vocês. A pessoa que eu tirei, fez com que eu descobrisse muito de mim mesma e vesse a vida de outro modo. O presente que eu comprei não é nada perto de um vestido da Chanel ou dos outros presentes, mas significa muito para mim, porque me lembra o dia que eu a conheci.
- Assim não dá pra tentar adivinhar, poxa. - Ana reclamou.
- É menina, não é ? - Luc.
- Sim.
- E em um futuro bem próxima ela vai ser a sua cunhada ? - ele perguntou de novo, com aquela cara de pau que só ele tem.
- Espero que sim. - ela disse olhando em seus olhos. E na mais perfeita inocência, sem ter a intenção de quebrar aquele clima, eu comecei a berrar.
- EU, EU, EU.
- VOCÊ, VOCÊ, VOCÊ. - Luc falou me zoando.
- Aqui, fofinha. Espero que você goste. - e então ela me entregou uma caixinha rosa média. Comecei a desembrulhar o presente e me apaixonei pelo que vi. Era um porta-jóias antigo, branco e transparente, com uma bailarina pequena que começava a dançar quanto uma músiquinha começava a tocar, toda vez que o mesmo era aberto. Ah, ela sabe que eu adoro coisas antigas, deve ter sido uma luta conseguir isso.
- Você lembra. - um sorriso imenso tomou conta do meu rosto.
- Como esquecer ? Depois de eu ter te contado todos os meus problemas com lágrimas nos olhos, você virou para mim, abriu um sorriso triste e disse "Eu queria ser bailarina, sempre achei tão linda essa forma de expressão. Mas meus pais nunca deixaram".
- Naquela época, era o meu maior sonho frustrada, poxa. - falei manhosa e todo mundo riu - Obrigada, Paula . Adorei !
- Disponha, sua vez.
- Eu achei que falar dessa pessoa seria fácil, mas agora eu estou vendo que não é. Não por eu não saber o que falar, eu sei. Até demais e é isso que me confude. Eu poderia dizer tantas coisas sobre essa pessoa, mas eu simplesmente não sei como começar. - dei uma pausa para dar ênfase no que eu falaria em seguida - Vale dizer que eu sou péssima nessas coisas, mas eu vou tentar ok ? Um, eu fiquei muito feliz por tê-lo tirado. Dois, sim é um homem. Três, eu o amo demais. Mas isso não conta muito já que eu amo demais todo mundo que está aqui. Quatro, é um dos Harcourt.
- Não sou eu, ela teria falado que a pessoa que ela tirou é o homem da vida dela. - Kurt .
- Alguém me diz como eu fui arrumar um namorado tão, mas tão modesto ? - falei em um falso tom de indignação - Mas você está certo, não foi você.
- E nem foi o Joey , porque quem tirou ele foi eu... Ops, falei demais.
- AE, ANA JULI. - todo mundo gritou - Essa brincadeira é chamada de amigo secreto, porque você não pode contar antes de chegar a sua vez. Anta. - Flora , como toda a sua sutileza, falou.
- Tanto faz, agora todo mundo sabe que ela aí tirou o meu Thiago . - ela falou dando de ombros.
- AAAAW, A GATINHA ME TIROU. - ele falou, levantando-se do sofá e vindo me abraçar. - Vamos ver o que eu ganhei, espero que tenha sido uma coisa boa.
- Eu espero, realmente, que você goste. Foi muito trabalhoso, conseguir isso. - falei, enquanto ele abria o pacote.
- NÃO ACREDITO. - ele falou todo animado - A coletânea com todos os discos originais do Elvis Costello ? Eles só fizeram quatro no mundo todo, como você conseguiu ? Cara, eu te amo mesmo.
- Acho bom amar mesmo, você não sabe a luta que foi eu conseguir isso. - falei.
- Como você conseguiu ?
- Em um site lá, eu fiquei quase três dias brigando com um tal de sougatinho1.7. - ele arregalou os olhos.
- Você era a pinkprincess91 ? - dessa vez eu arregalei meus olhos.
- Não acredito que eu gastei quase mil dólares por sua culpa.
- Não acredito que eu quase chorei por não ter conseguido algo que eu ganhei agora ! - ele falou indignado.
- O que importa é que todo mundo tá feliz e eu ainda quero saber quem me tirou. Vai logo, Thiago . - Kurt pediu.
- Todo mundo que me conhece sabe que eu detesto esse tipo de mistério, então... - ele suspirou - Eu tirei a mulher da minha vida.
- AAAH, FOI A ANA - eu gritei e ela foi toda feliz pulando em cima dele.
- Talvez eu tenha demorado um pouquinho para oficializar nosso namoro, mas antes tarde do que nunca né ? - ele falou e colocou uma caixinha branca de veludo na mão da minha prima.
- Que lindo. - ela murmurou ao ver os anéis pratas de compromisso que estavam ali. Eles os colocaram e em seguida deram um beijo bem ao estilo desentupidor de pia.
- Eu não vou falar o textinho que eu tinha preparado para você, Joey . Todo mundo já sabe. O que é uma pena, pois ele estava realmente lindo. - ela disse se achando demais - Espero que você goste do presente, gastei quase toda a minha mesada com isso.
- Uma Les Paul ? Você está realmente me dando uma Les Paul preta ? - Joey perguntou totalmente surpreso.
- Se você não quiser, me devolve, a loja aceita devoluções. - ela falou colocando uma mão na guitarra.
- Tá louca, mulher ? Sai daqui. - ele falou indo para longe dela.
- Sua vez, Joey . Olha a palhaçada. - Flora .
- Meu amigo secreto é uma pessoa muito legal. - ele anunciou e todo mundo olhou para ele com uma cara de 'anda logo' - É claro que fica um pouquinho óbvio, mas eu aturo essa pessoa desde sempre.
- KURT. - todo mundo gritou. Inclusive ele, vai entender.
- Espero que eu não me arrependa de ter te dado isso. - ele falou e entregou uma caixinha pequena.
- E eu espero que esse seu presente seja uma coisa boa e você comprove a teoria de que as melhores coisas vêm em embalagens pequenas.
- NÃO! - Thiago berrou ao ver o presente - VAI ME DIZER QUE ESSA É A CHAVE DE UMA MOTO ? KURT HARCOURT É UM PERIGO NA DIREÇÃO DE QUALQUER COISA, VOCÊ IRÁ NOS MATAR THIAGO.
- Para de drama, Thiago . - Kurt falou - Valeu, Joey . - eles se abraçaram.
- Tá, legal. Agora sou eu. - ele começou a falar - Só sobraram duas pessoas, então eu acho que fica um pouquinho óbvio. Só digo uma coisa, na primeira vez que eu vi essa pessoa, os meus sentimentos em relação a ela foram de raiva, inveja, medo e...
- VOCÊ TIROU O LUC, AW. - eu berrei.
- Nem me deixou terminar, que coisa. Mas foi ele sim. - ele falou um pouco sem graça, enquanto meu irmão andava em sua direção. Eles deram um toquinho estranho lá e o Luc abriu o presente. Um relógio bonito, o qual eu não pude ver a marca, que parecia ser de prata com alguma coisa cravejada.
- Quem adivinhar a pessoa que eu tirei vai ganhar mil dólares. - ele falou ironicamente - Sabe, foi muito bom ter ficado por último, assim eu não preciso falar as palhaçadinhas que sempre falam. Desculpe, Flora . Não preparei nada, mas espero que você goste do presente. - ele lhe entregou a caixinha da Tiffany's.
- Se é da Tiffany's eu já gostei, meu caro Luc. - ela falou após tê-lo abraçado.
- Se for o que eu estou pensando, Luc, você vai voltar amanhã naquela porcaria de loja e comprar uma igualzinha para mim. - falei entredentes.
- QUE LINDA. - Emma berrou e meu olhar foi de encontro ao seu presente. Justamente o que eu pensava. Uma pulseira de prata, nem muito fina ou muito grossa, com um pingente de estrela transparente de cristal. Simples, mas extremamente delicada e bonita.
- ISSO NÃO É JUSTO, LUC. Só porque eu falei que tinha gostado dessa pulseira você comprou para a Flora ? Que sacanagem.
- Não adianta chorar, fofinha. Essa pulseira agora é minha. - ela me mandou um beijo debochado e eu me sentei emburrada, ainda fuzilando meu irmão.
É claro que essa minha birra só durou até a hora de dormir.
Até porque, é muito difícil você ignorar alguém que chama de irmão e que dorme na sua cama por uma bobagem dessas.
- Bia , eu preciso de outra mala. - Luc pediu.
- A menos que você queira usar uma das minhas malas rosas, vá comprar. - falei, enquanto coloca meus últimos pares de sapato na mala.
O Kurt havia sumido o dia todo sem dar notícia, o que me deixou bastante chateada. Afinal, eu estaria embarcando para Itália no dia depois de amanhã e pensei que ele gostaria de passar o tempo todo comigo. Fiquei pensando sobre assunto durante longos minutos, até que o meu celular vibrou em cima da cama, indicando mensagem.
'Esteja pronta para ser sequestrada amanhã, às cinco horas da tarde. Ainda preciso te dar meu presente de natal e você não faz ideia do que será. Eu te amo, sempre. Seu Kurt '
Eu sabia que iria acontecer alguma coisa especial naquela pseudo-sequestro.
Só não sabia o quanto especial seria.
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