Existe cidade mais bonitinha que essa?
É claro que tudo estaria melhor ainda se eu estivesse com o meu namorado aqui, além de ser uma cidade super romântica - que eu estou apreciando sozinha -, eu tenho que dividir meu irmão com a minha amiga (e vice-versa) e ainda presenciar os seus amassos constantes. Do tipo, eu estou em algum lugar e segundos depois começo a escutar barulho de beijos. Eles se agarram e esquecem completamente da minha presença. Ah, claro. Também esquecem que estão em local público.
Não é que eu não esteja feliz pelos dois, eu estou e muito, mas ter que passar tanto tempo longe do Kurt e ainda ter que segurar vela não é tão legal assim.
Quase duas semanas se passaram desde daquele dia em Los Angeles, as dores permaneceram por uns dois dias, mas depois passaram também. Não conversei com a minha mãe sobre isso, a única fonte experiente de conselho que eu tinha era a Paula e ela pegou esse lugar que as pessoas insistem em dar para os pais. Será que ninguém pensou o quão incômodo isso pode ser para alguém? Eu vou chegar e falar o quê? Oi, mãe. Tudo bem? Então, lembra do Kurt? É aquele meu namorado, perdi minha virgindade com ele, não é legal? Não. Definitivamente não.
- Pelo amor de qualquer coisa! Será que vocês poderiam se conter só um pouquinho? - pedi, vendo a Paula e o Luc começando a se agarrar de novo - Eu estou com saudades do meu namorado e vocês ficarem me fazendo de vela não ajuda nem um pouco.
- Para de reclamar, Bia. - Paula falou, bagunçando meu cabelo.
- Para de reclamar, vírgula. Queria ver se você estivesse no meu lugar. - bufei.
- Então você queria estar no lugar dela me beijando, amorzinho?
- Luc, meu amor. - cheguei perto dele e apertei sua bochecha - Você sabe que eu te amo, mas tentar imaginar ou pensar na possibilidade de nós dois nos beijarmos é terrivelmente nojento. - dei um tapinha fraco no rosto dele e voltei a andar.
- Você está tão chatinha hoje, fofinha. - Paula comentou, cruzando seu braço no meu.
- É a saudade. E a solidão.
- Blá, blá, blá. - Luc disse, enquanto eu cruzava o meu outro braço no dele - Vamos logo, se não a gente não chega no centro hoje.
E assim, nós fomos em direção ao lugar que eu mais quis ver em toda a minha vida. Ok, em parte dela.
Paula, eu e Luc, de braços dados. Yupi, eu era - oficialmente - uma vela.
Já comentei, por acaso, que um dos meus livros favoritos é Romeu e Julieta de William Shakespeare?
Pois então, ele é. Uma história de amor linda, totalmente inspiradora se você for levar para o lado que diz 'Nunca desista daquilo que ama', mas eu sempre achei a Julieta uma idiota. Quero dizer, ela foi idiota o bastante para deixar se apaixonar pelo inimigo e ainda por morrer por ele. Por céus, como alguém se aproxima de algo do qual tem que se manter afastada? Tudo bem, que na primeira vez ela não sabia quem ele era. Mas e depois?
Uma coisa que eu sempre quis mudar nessa obra era o final. Às vezes me dava uma vontadezinha de reescrevê-lo.
Não poderia ser um conto de fadas normal, onde tudo acabaria bem e feliz? Os dois se amavam e aquela rivalidade de família acabou com tudo, até com a vida deles. E, poxa, isso é revoltante.
Mas o fato é: A gente sempre quer o que não pode ter.
Isso acontece comigo, quer dizer, sempre acontecia.
Eu queria o Kurt. Eu tenho o Kurt. Isso é bom.
Nós demoramos para chegar um pouquinho ao lugar que eu queria, o Luc teve a maravilhosa ideia de voltar a pé de Castel d'Azzano (uma cidadezinha que faz fronteira com Verona). E você pode colocar altas doses de ironia aqui.
Meus pés já estavam doendo, eu não via a hora de poder tirar toda aquela roupa, tomar um banho e ir dormir. Eu já estava começando a reclamar com o Luc, quando eu vi aquilo que eu queria ver desde que cheguei ali.
No centro da cidade existe uma vila onde, pelo que conta a história, Julieta morava. Esse é um dos lugares mais visitados da cidade. E eu estava ali, encarando e lendo cada papelzinho, com uma folha rosa cortada em um quadrado.
Eu estava no Balcão de Julieta.
E estava estupefata com a sensação que tudo ali causava em mim.
Fiquei encarando aquilo tudo tempo demais, já havia passado das oito horas, quando o Luc e a Paula me chamaram para ir embora.
Cheguei na casa dos meus pais - que era surpreendemente aconchegante - e subi direto para o quarto onde eu estava e fui tomar um banho. Pensando na vida, pensando no Kurt, pensando em tudo, saí do banheiro com os dedos enrugadinhos, igual aos dos velhinhos.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para o meu amorzinho, sem me importar com o fuso horário.
Queria você aqui comigo :| Estou te esperando no Skype e eu amo muito você. Sua Bia. xx
Fiquei encarando a tela do notebook do meu pai - sim, eu tive que pegar o dele por não ter nem pensado em levar o meu - e fiquei encarando a foto do plano de fundo dele. Eu, ele, a mamãe e o Luc - no natal. Quem via assim pensava que a gente era uma família bastante unida. Doce ilusão. Mas não vou pensar muito nisso. Sai daqui tristeza que eu estou feliz.
Não demorou mais de cinco minutos para o Kurt entrar, mas isso pareceu uma eternidade para mim.
- Amor, que saudade de você. Como tá tudo aí? - ele perguntou.
- Estaria tudo melhor se você estivesse comigo. - falei fazendo bico e ele deu uma risadinha fofa.
- Eu sei que você não vive sem mim.
- Eu nunca tentei viver sem você para saber como é, sabe... - dei um sorriso.
- Acho muito bom que você não tente.
- Mas como vai tudo aí? Como vocês foram de Natal e tudo mais?
- O Natal foi normal, típico Natal da família Harcourt. A Flora e a Ana ficaram um pouco aqui e todo mundo vinha me perguntar 'Tá solteiro, Kurt?' 'Ficou pra titio, cara?' 'Onde está sua namorada?' 'Por que ela não está aqui com você?' 'Ela não deve nem te aguentar mais, viu?' 'Não tem nem um ano e ela já está fugindo de você.' - ele começou a falar, tentando fazer vozes diferentes para cada frase.
- Aw, tadinho de você, meu amor. - falei entre risos fracos.
- Para você ver o que eu sofro.
- E as gravações? - perguntei e ele riu da minha animação.
- Nosso CD vai ser o melhor de todos, você vai ver! Agora a gente não está gravando muito por causa desses feriados de fim de ano, mas depois a gente vai trabalhar muito.
- As minhas músicas vão entrar?
- Só uma. - ele falou, com um tom de pesar.
- Qual? - pedi, torcendo para que fosse a segunda.
- A When You Look Me In The Eyes.
- AAAAAH, QUE LINDO. - gritei feliz - E vai ter dedicação para a Biazinha aqui, não vai? Diz que vai, diz que vai.
- Claro que vai. Você acha... - ele foi interrompido por alguém que entrou em seu quarto semi-nu.
- GATINHA, QUE SAUDADE DE VOCÊ. POR QUE VOCÊ SEMPRE PROCURA O KURT PRIMEIRO? NOSSO CD VAI SAIR PRO MEIO DO ANO, A ANA VAI VIR AQUI. COMO ESTÁ TUDO Aí? FALA COMIGO! - Thiago destrambelhou a falar.
- Se você me deixasse falar eu falaria, né gatinho. Estou com muita saudade de você também, eu não procuro o Kurt primeiro sempre. - falei.
- MENTIRA. - os dois gritaram juntos.
- Idiotas.
- Você tem que me procurar primeiro porque eu sou o seu namorado, oras.
- Mas eu sou o melhor amigo dela, Kurt.
- Mas antes disso você era meu irmão. Não ficaria legal minha namorada ligar pra você antes.
- Ela liga para quem ela quiser, na hora que ela quiser.
- Por isso ela ligou para mim.
- HEY, VOCÊS DOIS. EU AINDA ESTOU AQUI. - falei, tentando tirá-los da mini-discussão que estavam tendo - Da próxima vez eu não ligo para ninguém então.
- Desculpa. - eles falaram juntos e eu bocejei.
- Que horas são aí?
- Sete e pouco. - Thiago respondeu.
- E aí? Vai dormir, amor. - Kurt falou, ao me ver bocejando de novo.
- São duas e pouco. Tô um pouco cansada de hoje.
- Você fez o que? - Kurt.
- A gente foi em uma cidadezinha aqui perto e o Luc quis voltar andando a pé. Depois a gente foi no Balcão de Julieta. - tentei sorrir.
- Aquele lugar aonde os casais colocam papeis apaixonados? - Thiago.
- Sim, lá é lindo.
- E você colocou alguma coisa nossa? - Kurt.
- Aham. - balancei a cabeça, não me aguentando de tanto sono.
- O quê?
- Eu não vou falar. Você vai ter... Ter que vir aqui um dia para ver.
- Você podia ter colocado um papel pra mim e pra Ana também, gatinha. - ele disse, aparentemente, triste.
- Não daria certo. - outro bocejo.
- Amor, vai dormir. Amanhã eu falo com você de novo. - ele me disse.
- É, pequena. Você tá morrendo de sono mesmo.
- Ok, amores da minha vidinha. Por que o Joey não está falando comigo também?
- Ele saiu com a Flora. - Thiago falou e Kurt deu de ombros.
- Manda um beijo para ele tá? E outro para o sr e sra Harcourt e um bem grandão para o Frankie. Fala para as meninas que eu estou morrendo de saudades delas.
- Faremos. - eles falaram juntos.
- Eu amo muito vocês, tá?
- Eu amo você, gatinha.
- Eu te amo muito, amor.
Nem esperei o notebook desligar direito e deitei na cama, morrendo de sono e de cansaço.
Adormeci com a imagem daquele papelzinho que eu havia colocado na parede do Balcão de Julieta rondando meus sonhos.
Forever ♥
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